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A Monarquia Portuguesa

Este blog pretende ser o maior arquivo de fotos e informações sobre a monarquia portuguesa e a Família Real Portuguesa.

Sex | 25.03.16

Carta do Infante D.Manuel à Sra. D.Carlota Campos

Blog Real
CARTAS ESCRITAS ENTRE OS 5 E OS 7 ANOS DE IDADE.

Paço da Pena, 29-2-96

 
Minha querida Calita.
 
Tem estado uns dias muito bonitos. Hoje fomos à feira de S. Pedro. A Mamã comprou três leitões, um pau de marmelo para mim, e outro de carrasco para o Mano. A Dama comprou-me uma branquinha de cabeceira, muito engraçadinha e um tinteiro que é um globo terrestre, mais pequeno do que o do mano, mas é a mesma coisa!
 
Hoje tem estado um grande calor. Então a Calita como está?
Eu estou bem, o Mano também e todos também estão bons.
 
O Papá e o Mano foram à caça, era pouca e eu fui ver. O Papá não matou nada, porque só atirava aos pica-paus, mas foi de muito longe. O Mano é que trouxe dois pássaros. Muitas saúdes minhas e recados. O Ribeira recomenda-se muito, êle é o caturrão da Caninha Verde, eu sou o Comendador e o Mano é o grã-cruz.
 
A Condessa dEdla só vem no princípio do mês.
                                                                                                                          Seu muito amigo
                                                                                                                            
                                                                                                                          D. Manuel.
 
Sex | 18.03.16

Correspondência da Rainha D.Amélia

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A última Rainha de Portugal fala do seu "vestido de veludo azul com botões de diamantes". 
 
O recado é curto, escrito em francês e com uma caligrafia arrebitada. Ainda não era tempo de folhas pautadas e, talvez por isso, as frases caiam um pouco à medida que chegam ao lado direito da folha — sinal de que foi escrito por alguém destro. Lá em cima, lê-se em duas linhas: “Paço de Belém — Lisboa”.
"Minha querida Izabel,
Vamos ao ginásio e eu visto o meu querido vestido de veludo azul com botões de diamantes…”
 
E, no fundo, uma rubrica rápida: “Amélia”. Ou seja, a Rainha Dona Amélia, a última de Portugal.

Carta manuscrita da Rainha Dona Amélia
Fonte: OBSERVADOR
Qui | 10.03.16

D. Dinis, um túmulo escondido à espera de dignidade

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O que deixamos para trás quando morremos? D. Dinis quis deixar a imagem de um bom rei, justo e cumpridor de todos os preceitos religiosos. No Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, o túmulo do monarca é a representação visual desse desejo. Mas o mau estado e a degradação visíveis levam-nos a questionar: o que aconteceu ao túmulo? Porque não houve ainda um restauro? O que falhou na sua conservação? Fomos à procura de respostas e falámos com historiadores de arte, conservadores e as entidades responsáveis pelo monumento.

Veja a fotogaleria sobre o túmulo de D. Dinis aqui
 
Era 23 de junho de 1822, véspera dos festejos de São João, pouco tempo antes de se exilar em Londres. Almeida Garrett tinha participado ativamente na Revolução Liberal de 1820, num início de século perturbado pela experiência das invasões napoleónicas, a independência do Brasil e a crise do absolutismo régio. Antes de partir para a capital britânica, o futuro escritor romântico, na altura com 23 anos, passeia-se por Odivelas, onde vai encontrar o túmulo do longínquo D. Dinis.
 
A experiência daquela tarde contribui ainda mais para aprofundar a deceção e desencanto do escritor com Portugal, como é aliás contado no livro Lírica de João Mínimo, de 1829.

“E então, os ricos monumentos sepulcrais dentro e fora da igreja – que em Inglaterra ou noutro país cristão seriam conservados com respeito e veneração de relíquias – ali, estragados, as inscrições ilegíveis, alguns cobertos de emplastros modernos…Que vergonha, que desonra nacional!”, desabafa o jovem Garrett.Quem foi D. Dinis?
O que deixamos para trás, quando morremos? D. Dinis quis deixar a imagem de um bom rei, justo, grandioso, cumpridor de todos os preceitos religiosos e detentor de todas as virtudes, memória legitimada através daquele que é o primeiro túmulo régio português com estátua jacente, característico da época de um gótico primitivo.

Hoje, tal como Almeida Garrett em 1822, entramos no Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, monumento da Ordem de Cister, que começou a ser construído ainda no século XIII. Espanta-nos por igual o estado de degradação de uma escultura tumular de um dos monarcas mais acarinhados e respeitados da História de Portugal: “Com a imaginação toda cheia das pacíficas glórias do grande Dinis, entrei possuído de respeito no santuário onde repousam as suas cinzas. Desapontamento – desapontamento inglês – que não há outra palavra em língua nenhuma que expresse o que eu senti – desapontamento tão triste e aguado, nunca o provei”, lamenta novamente o escritor.

Nas crónicas do rei que chegam até aos nossos dias, diz-se que o Mosteiro de São Dinis e São Bernardo começou a ser construído em 1295 e terá sido terminado em 1305.

Filho de D. Afonso III e D. Beatriz de Castela, D. Dinis esteve 46 anos à frente dos destinos de “Portugal e do Algarve”, naquele que foi um dos mais longos reinados, entre fevereiro de 1279 e janeiro de 1325. Correntemente associado ao restabelecimento de relações com a Santa Sé, ao desenvolvimento da marinha e da agricultura, que lhe valeu o sobrenome de “Rei Lavrador”. 
 
A ele são atribuídos também os louros pela consolidação do poder nas comarcas e no território nacional e uma estabilidade monárquica pouco comum na Europa daquele tempo. Foi um rei profundamente diplomático na sua ação virada para outros reinos no Mediterrâneo, e teve uma importância fulcral no xadrez político de então.O Túmulo de D. Dinis não é atribuído a nenhum artista ou oficina específicos. A estética permite-nos apenas especular a influência da arte tumular francesa na escolha do autor deste túmulo.

Associado à imagem do “Rei Poeta”, foi também homem da cultura, das artes, da poesia. Promoveu a literatura e a tradução de obras para o português de então. Foi graças a D. Dinis que ficou assinado o primeiro estatuto de universidade em Portugal, por via da Magna Charta Priveligiorum.

Num cenário que nos lembra a descrição sombria de Garrett, ainda hoje o túmulo se encontra na pequena capela do lado esquerdo do altar-mor, arredado do centro da igreja. “Há de ser naquela capelinha velha à esquerda. – Como! Nesta aqui abandonada, cheia de teias de aranha, indecente!”. Mas como nos explicam vários historiadores de arte e especialistas da arte de restauro, o caso do Túmulo de D. Dinis é delicado e exige reflexão. É que a história que este túmulo encerra está longe de ser linear ou de uma solução consensual. 
O terramoto e um restauro desastroso 
Edgar Valles, vereador da Cultura do concelho de Odivelas, e Fernanda Moroso, coordenadora do sector do Património Cultural da Câmara de Odivelas, são os nossos guias dentro do mosteiro, que nos vão contando mais sobre este túmulo à medida que circulamos continuamente à sua volta.

A olho nu, desprovidos de conhecimentos da especialidade, vemos um sepulcro imponente martirizado pelo tempo, com a erosão das figuras nas quatro faces da base e o avançado estado de degradação da estátua jacente. As perguntas saltam-nos à cabeça: O que aconteceu? Porque não foi ainda restaurado? O que falhou na sua conservação?

No último dos três testamentos que deixou escritos, D. Dinis exigiu que o seu túmulo ficasse no centro da igreja, entre a nave central e a capela-mor, um lugar de destaque onde a comunidade pudesse rezar pela sua alma e recordasse a memória do rei até à eternidade. O desejo é cumprido, mas acaba por ser fatal para a estátua jacente. Com o terramoto de 1755, a abóbada do mosteiro desaba precisamente sobre o túmulo, deixando danos irreversíveis.

Quase dois séculos mais tarde e perante a degradação da escultura tumular, D. Estefânia ordena um restauro desastrado, à luz dos conhecimentos do século XIX.

“O restauro certamente foi feito com a melhor das intenções. D. Estefânia, mulher de D. Pedro V, ter-se-á deslocado a Odivelas e quis intervir, dado o estado em que o túmulo estava. Mas as técnicas de conservação não foram as melhores”, explica Edgar Valles.
(Des)construir a imagem do rei
Se por um lado foi usado gesso, em contacto com o ferro, que levou à oxidação, por outro lado, a imagem de D. Dinis foi totalmente adulterada, sem qualquer rigor histórico e num puro exercício de invenção. Os trajes, cabelos e barba são reconstituídos à imagem régia de séculos mais tardios, desaparecem os símbolos que são geralmente associados às esculturas régias, como a espada e as esporas, ou outras insígnias do rei. A própria coroa é característica do século XIX.

“Hoje, a fazer-se o restauro, ter-se-ia de perceber o que é o original e o que é do século XIX. E depois tomar uma decisão. Muitos conservadores defendem que mais vale ficar uma coisa imperfeita, mas respeitando a primeira versão, do que fazer uma reconstrução. É preciso perceber o que é original e o que é gesso. Mas isso é uma decisão que não nos cabe a nós”, salienta o vereador.

A coordenadora do sector do Património Cultural da Câmara pormenoriza a explicação oferecida pelo vereador e refere que foi o próprio rei que projetou a sua representação futura: “Quando mandou fazer a sua estátua jacente, o rei nunca se deixaria representar sem ser com a sua espada e com as esporas, como outros reis ibéricos. Aqui nesta recuperação, tudo desapareceu. A mão aparece a segurar o manto do rei, uma posição mais feminina. Só com um estudo prévio é que temos alguma garantia de que se tratou de uma invenção do século XIX. A tutela terá de tomar essa decisão e perceber se se pretende manter a reconstrução errada ou fazer um novo restauro. Mas aqui há outro problema, não podemos inventar o que não sabemos como era”, esclarece.

André Varela Remígio, especialista em conservação e escultura em talha dourada, esteve envolvido no restauro dos túmulos de Pedro e Inês e trabalha atualmente no projeto de restauro de D. Nuno Álvares Pereira, no Convento do Carmo, em Lisboa. Nunca trabalhou o túmulo de D. Dinis, mas conhece o caso: “O estado atual do túmulo é mau, muito mau. Tanto têm problemas o original como as matérias novas adicionadas. Olhando para o túmulo vemos que faltam partes, existem fraturas e fissuras, para além da sujidade imensa. Existem fragmentos dispersos que se podem perder”. 

Diz que, enquanto representações de figuras cimeiras da História, o tratamento de túmulos como este é “quase uma obrigação nacional”, quase uma retribuição pelo legado deixado por estas personagens.

Reconhece, ainda assim, as dificuldades que poderão ser encontradas na eventualidade de um restauro: “É um caso muito complicado em termos técnicos. Há efetivamente uma grande parte de matéria nova que está a sobrepor-se à pedra original. Claro que não podemos censurar o restauro do século XIX. Foi feito de acordo com as ideias de então. Mas mais vale termos pouco original do que termos um puzzle, com várias matérias que deturpam a leitura. É complicado, só depois da desmontagem se pode tomar uma decisão e procurar um equilíbrio”, explica o técnico de conservação e restauro.Um ping-pong de responsabilidades
O Mosteiro de São Dinis e São Bernardo é considerado Monumento Nacional desde 1910 e por isso está sob a tutela do Ministério da Cultura. A última tentativa de concertar esforços aconteceu em 2013, mas acabou cancelada pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) por falta de financiamento.

“Há três anos, fizemos um caderno de encargos para o estudo prévio a realizar antes do restauro. Esse estudo prévio tinha em vista conhecer e perceber as patologias de que sofre o túmulo e o que é original ou não é. Chegou-se a um valor final para a realização do estudo, 11 mil euros. Meses depois, a DGPC disse-nos que não tinha disponibilidade financeira e ficou tudo sem efeito”, relembra o vereador.

Em declarações à agência Lusa, também Hugo Martins, presidente da Câmara Municipal de Odivelas, alertava no início de fevereiro deste ano para a necessidade de “obras urgentes de restauro” e sublinha que já foram emitidos diversos alertas sobre a crescente degradação do túmulo.

Com o processo congelado e na tentativa de encontrar uma segunda via, a autarquia avançou com uma candidatura do estudo prévio ao programa comunitário Portugal 2020, cujos resultados finais ainda aguarda.

Mas aparentemente a tutela voltou a lembrar-se da situação indefinida do túmulo, na sequência da atenção mediática que o mesmo recebeu no início deste ano. Foi criada uma petição pública na internet, “Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis”, dirigida ao Ministério da Cultura, atualmente com 776 assinaturas, onde se denuncia o “péssimo estado de conservação” e um túmulo vandalizado que “está a cair aos bocados”. A petição nasceu através de uma página criada no Facebook, onde se exige também o restauro deste monumento.

Em resposta às questões colocadas pelo site da RTP, a que a Direção-Geral do Património Cultural optou por responder através de um e-mail, a direção da tutela informa que “está a acompanhar o processo” e “tem estado em contacto com a Câmara Municipal de Odivelas”. 

“Atendendo ao seu estado de degradação, a DGPC elaborou já um caderno de encargos com vista à realização dos diagnósticos por parte de especialistas em conservação da pedra”, acrescenta.

Mais refere que o Monumento Nacional “tem estado afeto ao Ministério da Defesa Nacional”, pela relação com o Instituto de Odivelas, a escola militar entretanto desmantelada.

Edgar Valles confirma esta fase embrionária do retomar deste processo. “Fomos muito recentemente contactados para reunir com a diretora na próxima semana. Vamos ver o que a DGPC nos diz”, diz o vereador.

Entretanto - e até ao momento da reunião com a DGPC, marcada para 10 de março -, foi criado um grupo de trabalho com a Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Estudos Medievais e investigadores da tumulária medieval, que já começaram a reunir-se com o objetivo de estudar o próprio túmulo e a melhor forma possível de intervir na sua conservação.
O rei e a rainha, na vida e na morte
Giulia Rossi Vairo é uma das investigadoras envolvidas nestas reuniões e esclarece o que está em causa. Veio de Itália há vários anos para estudar, cruzou-se com a Rainha Santa Isabel, que se encontra em Coimbra, na igreja do mosteiro de Sta. Clara e Sta. Isabel de Coimbra. A história particular desta família medieval portuguesa despertou-lhe a curiosidade.

A sua tese de Doutoramento em História de Arte debruça-se exatamente na relação entre o rei D. Dinis e a rainha Isabel de Aragão: “Ao contrário do que se passou com o túmulo do rei, o túmulo da rainha foi muito mais estudado e foi sempre objeto de mais atenção. A minha tese parte da constatação desta diferença”.

Aqui, o interesse está sobretudo na separação e conflito que houve em vida, até porque a fase final do reinado de D. Dinis fica marcada por um período de guerra civil e de conflito conjugal: “Sabemos que na época medieval o casal régio devia deixar uma ideia de união da monarquia e da coroa. Os cônjuges são sepultados um ao lado do outro, como acontecia por toda a Europa, naquela altura. Neste caso, a rainha morre depois do rei e tem mais liberdade de escolha e escolhe ir para Coimbra. Os dois são separados na morte, portanto, para a eternidade”, explica.

Com acesso privilegiado ao arquivo secreto do Vaticano, Giulia Rossi Vairo acedeu à correspondência entre a Sé Apostólica e o Reino português. Encontrou várias cartas entre os anos de 1316 e 1319 onde o Papa pede que o casal real restitua a imagem de união e harmonia. Mas a "Rainha Santa" acabaria mesmo por escolher ficar longe do monarca na sua última morada.

Perto de D. Dinis ficou um outro mistério, um túmulo não identificado, na capela exatamente oposta à do rei. Do lado direito do altar, está o que se pensa ser o túmulo de uma criança, muito possivelmente de um neto do rei, o infante Dinis, que terá morrido com pouco mais de um ano. Mas a questão gera discussão e diferentes interpretações entre os historiadores.A história conservativa
Afinal, o que sabemos em concreto sobre este monumento? O novo grupo de trabalho que vai estudar a intervenção no túmulo quer descobrir o que se foi passando ao longo dos séculos, em local tão secreto e enclausurado. O mosteiro cisterciense feminino era muito circunscrito, de autêntica clausura, e assim permaneceu até à extinção da comunidade: “Não há testemunhos, não sabemos se alguém viu o túmulo antes de ser alterado”, explica-nos a investigadora italiana.

O facto de ser um mosteiro tão isolado prejudicou a recordação e a memória do rei. Giulia Rossi Vairo quer saber o que lhe aconteceu durante todo esse tempo.

“O meu projeto de pós-doutoramento é focado na história do mosteiro e do património, das obras de arte que ainda lá estão. Quero continuar o estudo dos túmulos no sentido de aprofundar o destino sofrido por estes. Nós não sabemos nada, neste momento. Quero estudar todos os danos, todos os restauros, recorrendo a fontes iconográficas, arqueológicas, arquivistas e narrativas. O meu trabalho será construir uma história conservativa. Quantos restauros houve, quem trabalhou naquilo, quando procederam, quais foram as técnicas e critérios, os adotados e os ausentes”, até porque atualmente “existem critérios que estão muito bem definidos. Mas até uma certa época, até ao século XIX, o restauro estava no âmbito da pura fantasia”, explica a investigadora.

“Por estar dentro do Instituto de Odivelas, este túmulo acabou por estar sempre muito esquecido. Há estudos muito profundos sobre outros túmulos, com vastas publicações. E este acaba por estar à margem. O próprio instituto esteve fechado à comunidade. Fechado à cidade e à comunidade científica”, acrescenta o autarca Edgar Valles.

O que se sabe até hoje é muito pouco para mais de sete séculos de história e depende sobretudo da sabedoria popular. É tradição oral dizer, por exemplo, que o túmulo de D. Dinis foi adulterado pelos franceses na época das invasões napoleónicas, mas a investigadora usa o raciocínio lógico para descartar por completo essa hipótese: “Quando as tropas francesas vandalizavam outros locais pela Europa fora, massacravam totalmente a imagem do rei e roubavam o conteúdo. Mas o túmulo de D. Dinis nunca foi aberto, até ao século XX.”

“Para além da lógica, há uma questão de conservação. Se o ar entra num túmulo, nada fica intacto. Para além disso, na zona cabeceira do túmulo, uma das poucas imagens que ainda está integral é precisamente uma representação do rei, o que não deixa de ser estranho. E será que as tropas teriam passado por Odivelas? O que era a Odivelas daquela época?”
Do outro lado do Atlântico, outros restauros
Além das questões artísticas que envolvem a reconstrução do túmulo, há outra curiosidade sobre este monumento fúnebre: o túmulo está, de facto, ocupado. Foi aberto apenas nos anos 40 do século XX. Num estudo publicado na Real Sociedade de Geografia de Lisboa, os investigadores contam que o esqueleto do monarca e os tecidos estavam intactos. O que levanta questões mais vastas, segundo Edgar Valles: “Num dia em que se faça o restauro, até que ponto não seria útil fazer também o estudo osteológico, envolvendo várias áreas de investigação e técnicas multidisciplinares?”, questiona.

Valdirene do Carmo Ambiel, historiadora e arqueóloga brasileira, dedicou vários anos ao estudo dos túmulos de D. Pedro I e das imperatrizes Leopoldina e Amélia. Enquanto investigadora, a curiosidade e sobretudo a vontade de preservar a memória de três figuras marcantes na história da independência do Brasil.

Com estudos de base na área da História e das ciências humanas, este trabalho específico envolveu um esforço multidisciplinar. Foi buscar à arqueologia, à biomédica e às ciências exatas os conhecimentos de que precisava para o melhor estudo possível dos remanescentes humanos das três figuras, algo que lhe permitiu questionar o que lemos nos livros de História, nomeadamente no que diz respeito à morte de D. Amélia, cuja morte é muitas vezes atribuída ao rei D. Pedro I. Na sua perspetiva, a História “não é estática” e pode ser sempre alterada.

E é isso mesmo que a investigadora brasileira defende, a reconstituição científica da História e a colocação de novas hipóteses com o estudo do material dos nossos antepassados que sobrevive ao tempo e que chega até nós. Em causa está a própria imagem que guardamos deles: “Conheço arqueólogos que dizem que o ser humano fala mais dele mesmo morto do que vivo”, acrescenta.Se as pedras falassem
No final do nosso percurso à roda do túmulo, o vereador da Cultura chama a nossa atenção para as duas cenas gravadas à cabeceira do túmulo. Uma delas, destruída e praticamente impercetível. A outra, quase intacta, mostra-nos aquela que se pensa que será a imagem mais fidedigna que temos da fisionomia exata de D. Dinis. Segundo os investigadores, estas duas cenas representam os dois últimos sacramentos recebidos pelo rei, indicadores e comprovativos da sua religiosidade e devoção.

“Este túmulo acaba por refletir duas preocupações do rei. Por um lado, a “boa morte”, nos termos religiosos, por outro, deixar para o futuro a mensagem política da importância que teve”, explica Fernanda Moroso, coordenadora do setor do Património Cultural da Câmara.

Giulia Rossi Vairo, fascinada com a época dionisina, explica ao site da RTP que o que trazem de inovador é sobretudo o controlo da sua imagem: “A rainha e o rei conseguem ver realizados os próprios túmulos. Preparam a morte, preparam a recordação que os vindouros terão deles. Controlam dessa forma a memória, a sua memória para o futuro. E isso é inédito para aquela época. Eles aprovaram a imagem que os túmulos transmitiam de si próprios”, acrescenta.

Carla Varela Fernandes, investigadora doutorada em História de Arte, dedicou a sua tese de Doutoramento à iconografia das famílias reais durante a época medieval, explica a fundo esta mensagem: “O rei quis deixar uma memória exemplar, de alguém que cumpriu os rituais cristãos e católicos em relação à morte”.

Num texto académico publicado em 2011, “O Bom Rei Sabe Bem Morrer: Reflexões sobre o Túmulo de D. Dinis”, a historiadora explora o conceito de “Boa Morte”.

“É uma morte preparada, assistida e idealizada, que ia contra o que os homens medievais mais temiam: a morte súbita, uma morte sem tempo para pedir perdão pelos pecados, para se reconciliar com os que cá ficavam, sem tempo de fazer testamentos e deixar legado”, explica à RTP.

O túmulo é a representação visual dessa inquietação pela conquista do espaço religioso na hora da morte, muito característica do homem medieval. “Quando se manda reproduzir um túmulo em pedra, quer-se passar à eternidade”, diz a historiadora. No caso de D. Dinis, essa preocupação extrema levou a ser a primeira figura laica da nossa história com autorização do clero para ser sepultado no interior de uma igreja.
O futuro do túmulo
Na arte do restauro e conservação de obras desta natureza, existem correntes de pensamento distintas: Eugène Viollet-le-Duc que defende a busca pela perfeição formal em termos estéticos, desconsiderando os aspetos históricos, John Ruskin, historiador que se bate pela intocabilidade do monumento degradado, onde a intervenção deve ser mínima e de cariz apenas preventivo.

Na perspetiva do inglês, também o monumento tem uma hora para a sua morte digna. Entre as duas teorias antagónicas, o crítico e historiador Cesare Brandi que defende uma intervenção tendo em conta o significado histórico do objeto e o estado físico em que se encontra. Valdirene do Carmo Ambiel explica que esta teoria defende que o restauro “não pode depender do gosto particular do restaurador” e deve deixar os acréscimos e intervenções facilmente reconhecíveis.

Ao longo dos séculos, não teve a melhor sorte. Foi destruído, adulterado e sobretudo esquecido. A melhor forma de intervir e garantir a conservação deste túmulo, respeitando a obra original? Carla Varela Fernandes diz que é “a pergunta de um milhão de dólares”, mas arrisca uma hipótese, mais próxima do que é defendido pelo crítico italiano.

“Seria excelente que se pudesse reconstruir o túmulo com materiais mais novos e menos perecíveis, que pudessem devolver alguma dignidade à figura de D. Dinis. Mas, é claro, mostrando sempre o que é novo e o que é da peça original”, defende a investigadora, acrescentando que “só um grupo muito sério de conservadores” pode responder da melhor forma.

É o que procuram as várias entidades envolvidas, que começam a reunir já esta semana. Na reta final da nossa visita, Edgar Valles identifica o túmulo e o mosteiro que o encerra como o “ex-libris do concelho de Odivelas”.

“Trata-se de um mosteiro do século XIII, com um rei de Portugal da I Dinastia. Isso é algo que não pode ser esquecido e de que muito nos orgulhamos”, acrescenta o vereador da Cultura.

Mas há mais uma questão que vem complicar o possível restauro: o próprio futuro do antigo Instituto de Odivelas. Fundado em 1900 pelo infante D. Afonso, irmão do rei D. Carlos, o Instituto fechou portas no ano passado, com as alunas a serem transferidas para o Colégio Militar, em Benfica.

“O futuro do próprio mosteiro e do instituto confundem-se. Está tudo muito indefinido. A Câmara de Odivelas tem mostrado toda a disponibilidade junto do Ministério da Defesa. Temos estado em conversações para podermos assumir este património. Claro que, ao assumirmos este património, há todo um custo de conservação, quer seja do túmulo ou do mosteiro, em que teremos de ser naturalmente ajudados. Mas estamos empenhados na conservação e manutenção deste espaço. Não queremos que este excelente património caia nas mãos de privados ou acabe por ser usado para outros fins que não fins públicos”, garante o autarca.
Fonte: rtp.pt
Seg | 07.03.16

António Maria Vasco de Melo César e Meneses, Mordomo-mor da Casa Real

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António Maria Vasco de Melo César e Meneses (Lisboa, 13 de Novembro de 1851 — Lisboa, 21 de Maio de 1923), 9.º Conde de Sabugosa, também conhecido por António Vasco de Melo, bacharel formado em Direito, diplomata e alto funcionário, mordomo-mor da Casa Real, Par do Reino, poeta e escritor distinto. Foi autor de múltiplos contos, crónicas, comédias e poemas, de diversas obras sobre escritores portugueses do século XVI e de uma obra histórica sobre Sintra. Fez parte do grupo dos Vencidos da Vida, tendo colaborado também na Revista de Portugal.

Biografia

António Maria Vasco de Melo César e Meneses nasceu em Lisboa, a 13 de Novembro de 1851, filho de D. António Maria José de Melo da Silva César e Meneses, o 3.º marquês de Sabugosa, e de D. Maria do Carmo da Cunha Portugal e Meneses, dama honorária da rainha D.Maria Pia. Seu pai foi um prestigiado par do Reino, ministro, governador civil e um dos mais destacados membros do Partido Histórico do seu tempo.

Casou a 8 de Janeiro de 1876 com D. Mariana das Dores de Melo, 4.ª condessa de Murça, título que lhe foi renovado como herdeira de seu pai, D. João José Maria de Melo Abreu Soares de Vasconcelos Brito Barbosa e Palha, o 3.º conde de Murça, e de D. Ana de Sousa Coutinho Monteiro Paim. A esposa foi dama das rainhas D. Maria Pia e D. Amélia de Orleães e presidente da Associação Protectora das Escolas para Crianças Pobres.

António Vasco de Melo, nome que utilizou enquanto estudante e com o qual assinou muitas das suas obras literárias, era bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, onde terminou o seu curso em 1877.

Por decreto de 15 de Setembro de 1879, recebeu a mercê do título de 9.º conde de Sabugosa, para além de ter herdado diversos outros títulos e honras, que reuniu na sua casa aos da casa dos condes de Murça, provenientes da família da esposa. Apesar de poder suceder a seu pai nos títulos de marquês de Sabugosa e de conde de São Lourenço, nunca se encartou.

Em 1882 ingressou na carreira diplomática como funcionário da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, com o cargo de segundo-oficial, sendo nomeado secretário de legação em 1885. Ascendeu a enviado extraordinário e ministro plenipotenciário, servindo no gabinete do ministro, cargo de que foi exonerado, a seu pedido, por decreto de 3 de Novembro de 1910, na sequência da implantação da República.
Foi também alcaide-mor de Elvas e veador e mordomo-mor da casa da rainha D. Amélia de Orleães, tendo sido o último a exercer esses cargos.

Actividade literária

Herdeiro de uma vasta biblioteca, que incluía muitas obras raras e inéditos, foi escritor e poeta de mérito. Em 1894 publicou, de colaboração com Bernardo Pinheiro Correia de Melo, 1.º conde de Arnoso, um interessante livro de contos, intitulado ''De braço dado''. Em 1903 publicou o livro ''O Paço de Sintra, Apontamentos Históricos e Arqueológicos'', obra que inclui desenhos da autoria da rainha D. Amélia de Orleães, para além de colaboração artística do aguarelista Enrique Casanova (1850-1913) e do arquitecto Raúl Lino da Silva (1879-1974). A obra inclui a primeira publicação em português do poema ''Sintra'' de poetisa humanista Luisa Sigea.

Em 1906 editou o ''Auto da Festa'', de Gil Vicente, obra então caída no esquecimento, a partir de raro exemplar que encontrou na biblioteca do seu palácio do Calvário. O ''Auto da Festa'' foi publicado acompanhado por um estudo crítico da sua autoria e de numerosas notas e comentários. Também editou, a partir de texto encontrado na sua livraria, a obra ''Auto da Natural Invenção'' do poeta António Ribeiro Chiado, o Chiado (1917).

Em 1908 publicou o livro Embrechados, que em pouco tempo teve duas edições. Colaborou assiduamente na Revista de Portugal editada por Eça de Queirós e também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas A semana de Lisboa (1893-1895), Serões (1901-1911), O Thalassa (1913-1915) e Ideia Nacional (1915).

Para além das obras atrás citadas, publicou muitas outras, bem como muitos artigos e ensaios de carácter histórico e literário, contos e versos que se encontram dispersos em revistas e jornais.

Fez parte do grupo de intelectuais que se autodenominava Vencidos da Vida, tendo privado, entre outros, com Joaquim Pedro de Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós e Maria Amália Vaz de Carvalho.

Actividade política

Na eleições gerais de Outubro de 1879 foi eleito deputado às Cortes pelo círculo de Arouca, prestando juramento a 14 de Janeiro de 1880. Apesar de pouco interventivo, participou nas comissões parlamentares de negócios estrangeiros e de legislação civil, sendo secretário de ambas. Não voltou a ser eleito.

Por falecimento de seu pai, a 2 de Dezembro de 1897, ascendeu ao pariato por direito hereditário, tendo tomado assento na Câmara a 26 de Março de 1898. Na Câmara dos Pares fez parte de múltiplas comissões, com destaque para as relacionadas com os negócios estrangeiros e o comércio externo, com destaque para a procura de mercados para as exportações tradicionais portuguesas: vinho e cortiça. Não fez intervenções de grande fôlego, nem foi muito participativo no hemiciclo.

Destacou-se em 1908 na discussão da lei sobre os cargos e o financiamento da Casa Real, defendendo a sua independência em relação ao poder político e a necessidade de evitar a ingerência partidária na vida palatina.

Com o advento da República, afastou-se da actividade política, mas manteve-se fiel aos seus princípios monárquicos, tendo visitado frequentemente a família real portuguesa durante o seu exílio em Inglaterra. Essa fidelidade, e aberta defesa que fazia da monarquia, valeram-lhe algumas semanas de prisão no Castelo de São Jorge durante a fase crítica da intentona da Monarquia do Norte.

Falecimento, honras e títulos

Faleceu em Lisboa a 21 de Maio de 1923. Foi grã-cruz da Ordem de Cristo; comendador e grã-cruz da Ordem de Santiago da Espada, por decreto de 4 de Dezembro de 1909; mordomo-mor da Casa Real, nomeado em Abril de 1903; Par do Reino, por nomeação de 17 de Março de 1898; e sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Foi também membro do Instituto de Coimbra, da Associação dos Arquitectos Civil e dos Arqueólogos Portugueses e da Sociedade Literária Almeida Garrett. Foi presidente da Sociedade de Bibliófilos Diogo de Machado.

Tendo passado pela carreira diplomática, foi agraciado com múltiplas condecorações estrangeiras.

Obras publicadas

António Maria José de Melo César e Meneses foi editor de obras de Gil Vicente e do poeta Chiado. Entre as suas principais obras publicadas contam-se:
*''Minuete'' (1877);
*''Poemetos'' (1882)
*''Na Goela do Leão'' (1882);
*''De Braço Dado'' (em colaboração com o 1.º conde de Arnoso) (1894)
*''O Paço de Cintra, apontamentos historicos e archeologicos'' (adornado com desenhos da rainha D. [[Amélia de Orleães]]) (1903);
*''Embrechados'' (1908);
*''Neves de Antanho'' (1910);
*''Donas de Tempos Idos'' (1912);
*''Gente d'Algo'' (1915);
*''A Rainha D. Leonor'' (1921);
*''Bobos na Corte'' (1923).

Dom | 06.03.16

Reis de Portugal - Afonso III de Portugal

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Afonso III de Portugal (Coimbra, 5 de maio de 1210 – 16 de fevereiro de 1279), cognominado O Bolonhês por ter sido casado com a condessa Matilde II de Bolonha, foi o quinto Rei de Portugal. Afonso III era o segundo filho do rei Afonso II e da sua mulher Urraca de Castela, e sucedeu ao seu irmão Sancho II em 1248.

O Rei Afonso III abandonou o Reino durante o governo de seu irmão, D. Sancho lI, para procurar posição e fortuna nas cortes de França ou Borgonha, a que se encontrava ligado por laços familiares. De 1234 a 1245 frequenta a corte de Luís VIII, casado com Branca de Castela, sua tia materna, aí sendo, sucessivamente, armado cavaleiro (1239), casado com Matilde, uma viúva, herdeira do rico condado de Bolonha, e feito vassalo do rei, notabilizando-se na batalha de Saintes (1242), travada contra o monarca inglês.

Esta carreira ascendente, junto com um grande interesse pelos assuntos do seu reino de origem, alimentado pelos nobres que o acompanharam a França, depressa o faz um dos mais fortes candidatos à chefia da coroa portuguesa, ameaçada por uma série de lutas internas, que culminam com a contestação da autoridade do rei seu irmão, que é deposto em 1245 por Inocêncio IV, com o apoio do clero e parte da nobreza do Reino. O conde de Bolonha, contando com o apoio papal e depois de ter recebido em Paris uma delegação de clérigos e nobres portugueses, a quem promete a restauração das leis e justiça do Reino, a par do respeito pelos direitos eclesiásticos, dirige-se então a Portugal, chegando a Lisboa no início de 1246.

Até 1248 travam-se diversas lutas entre os partidários dos dois irmãos, resolvendo-se a guerra civil com a morte de D. Sancho lI, exilado em Toledo, principiando então o reinado do Bolonhês. Um dos seus objectivos prioritários foi a pacificação da nobreza, mobilizando-a em torno de uma luta comum que permitisse ultrapassar os recentes confrontos e divergências. É nesse contexto que se insere a ofensiva algarvia de 1249-1250, que também procurava assegurar a posse definitiva das terras meridionais, repelindo as ameaças de uma anexação castelhana, o que só virá a ser conseguido no reinado seguinte, segundo o conteúdo de um tratado celebrado com Afonso X (1252), que previa o casamento do rei português com Beatriz, bastarda do rei Sábio, sendo, contudo, ainda viva a condessa de Bolonha (morre em 1258). Procurando contrabalançar os excessivos poderes da nobreza e do clero, o rei desenvolve uma política de equilíbrio social, privilegiando o diálogo com os concelhos, sobretudo os urbanos, promovendo-os nas Cortes de Leiria de 1254 à categoria de interlocutores político-sociais, ao mesmo tempo que incentiva uma série de medidas conducentes ao enriquecimento do património da coroa, nomeadamente desenvolvendo a implantação da propriedade régia nas cidades e controlando as actividades comerciais do Reino.

A restauração do abalado prestígio da coroa passava ainda por um combate aos abusos senhoriais: retomando medidas já utilizadas por seu pai, o rei ordena confirmações régias e promove novas inquirições gerais (1258) nas zonas do Reino mais propensas à extensão indevida de coutos e honras, iniciativas que reacenderam os conflitos com os poderes eclesiásticos, situando-se os momentos críticos em 1275 e 1277.

É pois com D. Afonso III que o Reino se tende a estruturar em país e que começa a ser mais permeável às influências norte-europeias, ainda que conserve inúmeros traços peculiares.

O rei, que era muito querido pelos portugueses por decisões como a da abolição da anúduva (imposto do trabalho braçal gratuito, que obrigava as gentes a trabalhar na construção e reparação de castelos e palácios, muros, fossos e outras obras militares), recebeu apoio das cortes de Santarém em Janeiro de 1274, onde foi nomeada uma comissão para fazer um inquérito às acusações que os bispos faziam ao rei. A comissão, composta maioritariamente por adeptos do rei, absolveu-o. O Papa Gregório X, porém, não aceitou a resolução tomada nas cortes de Santarém e mandou que se excomungasse o rei e fosse lançado interdito sobre o reino em 1277.

À sua morte, em 1279, D. Afonso III jurou obediência à Igreja e a restituição de tudo o que lhe tinha tirado. Face a esta atitude do rei, o abade de Alcobaça levantou-lhe a excomunhão e o rei foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça.

 Moedas cunhadas com a éfige do Rei Afonso III de Portugal.

Segundas núpcias:

Em 1253, o rei desposou D. Beatriz, popularmente conhecida por D. Brites, filha de D. Afonso X de Castela, O Sábio. Desde logo isto constituiu polémica pois D. Afonso era já casado com Matilde II de Bolonha.

O Papa Alexandre IV respondeu a uma queixa de D. Matilde, ordenando ao rei D. Afonso que abandone D. Beatriz em respeito ao seu matrimónio com D. Matilde. O rei não obedeceu, mas procurou ganhar tempo neste assunto delicado, e o problema ficou resolvido com a morte de D. Matilde em 1258. O infante, D. Dinis, nascido durante a situação irregular dos pais, foi então legitimado em 1263.

O casamento funcionou como uma aliança que pôs termo à luta entre Portugal e Castela pelo Reino do Algarve. Também resultou em mais riqueza para Portugal quando D. Beatriz, já após a morte do rei, recebe do seu pai, Afonso X, uma bela região a Este do Rio Guadiana, onde se incluíam as vilas de Moura, Serpa, Noudar, Mourão e Niebla. Tamanha dádiva deveu-se ao apoio que D. Brites lhe prestou durante o seu exílio na cidade de Sevilha.

Descendência:

* Primeira esposa, Matilde II de Bolonha, sem descendência.
* Segunda mulher, infanta Beatriz de Castela (1242-1300)
** Branca de Portugal (1259-1321), freira e senhora no Mosteiro de Las Huelgas (Burgos)
** Dinis I de Portugal (1261-1325)
** Afonso de Portugal (1263-1312), senhor de Portalegre, casou com a infanta Violante Manuel
** Sancha de Portugal (1264-1284?)
** Maria de Portugal (1265-1266)
** Constança de Portugal (1266-1271)
** Vicente de Portugal (1268-1271)
** Fernando de Portugal (1269?)
* Filhos naturais
** Havidos de Madragana Ben Aloandro, depois chamada ''Mor Afonso'', filha do último alcaide do período mouro de Faro, o moçárabe Aloandro Ben Bakr:
*** Martim Afonso Chichorro (1250 -1313)
*** Urraca Afonso de Portugal (c. 1260- depois de 1290) casada por duas vezes, a primeira em 1265 com Pedro Anes Gago de Riba de Vizela (1240 - 1286) e a segunda em 1275 com João Mendes de Briteiros (1250 -?), filho de D. Mem Rodrigues de Briteiros (1225 -?).
** Havidos de Maria Peres de Enxara:
*** Afonso Dinis (1260-1310)
** De outras senhoras:
*** Fernando Afonso, cavaleiro hospitalário
*** Gil Afonso (1250-1346), cavaleiro hospitalário
*** Rodrigo Afonso (1258-1272), prior de Santarém
*** Leonor Afonso (1250), senhora de Pedrógão e Neiva, casada por duas vezes, a primeira com D. Estevão Anes de Sousa, senhor de Pedrógão (c. 1240 -?) e a segunda com D. Garcia Mendes de Sousa (1175 – 29 de Abril de 1239).
*** Leonor Afonso (m. 1259), freira em Santarém
*** Urraca Afonso (1250-1281), freira no Lorvão
*** Henrique Afonso

Títulos, estilos, e honrarias:

  • 5 de Maio de 1210 – Maio de 1239: O Infante Afonso de Portugal
  • Maio de 1239 – 4 de Janeiro de 1248: O Infante Afonso de Portugal, Conde de Bolonha
  • 4 de Janeiro de 1248 – 16 de Fevereiro de 1279: Sua Mercê, El-Rei de Portugal e do Algarve

O estilo oficial de D. Afonso III enquanto Rei de Portugal:

Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal e Conde de Bolonha

Em 1253, por suspeitar da sua esterilidade, D. Afonso repudia a esposa, D.Matilde, e abandona o título de Conde de Bolonha:

Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal

Após a conquista definitiva do Algarve e a disputa quanto ao domínio algarvio com Castela, o Tratado de Badajoz reconhece a D. Afonso III o senhorio do Algarve, evoluindo a sua titulatura régia para:

Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal e do Algarve