Maria I (Lisboa, 17 de dezembro de 1734 – Rio de Janeiro, 20 de março de 1816), apelidada de "a Piedosa" e "a Louca", foi a Rainha de Portugal e Algarves de 1777 até 1815, e também Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves a partir do final de 1815 até sua morte. De 1792 até sua morte, seu filho mais velho João atuou como regente do reino em seu nome devido à sua doença mental. Era a filha mais velha do rei José I e de sua esposa a infanta Mariana Vitória da Espanha.
Nascimento:
Maria nasceu a 17 de dezembro de 1734 no Paço da Ribeira, em Lisboa, Portugal. O seu nome completo era Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança. Foi a segunda filha de D. José de Bragança, então Príncipe do Brasil, e sua esposa Mariana Vitória de Bourbon, Infanta de Espanha.
Quando o seu pai subiu ao trono em 1750 como D. José I, Maria tornou-se sua herdeira presuntivae recebeu os títulos tradicionais de Princesa do Brasil e Duquesa de Bragança.
Casamento:
A continuidade dinástica da Casa de Bragança ficou assegurada com o seu casamento com o tio Pedro de Bragança, que subiria ao trono como Pedro III de Portugal. O casamento foi realizado na Real Barraca da Ajuda a 6 de junho de 1760.
Reinado:
Embora Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira Rainha reinante em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,Teresa de Leão já havia sido reconhecida como tal pelo papa, em 1112. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a Viradeira, foi a demissão e exílio da corte do marquês de Pombal, a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família Távora durante o Processo dos Távoras. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu asilo a numerosos aristocratas franceses fugidos ao Terror da Revolução Francesa (1789-1799). Era, no entanto, dada a melancolia e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa.
O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a Prussia em 1789. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique, e a fundação de várias instituições, entre elas a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte. No âmbito da assistência, fundou a Casa Pia de Lisboa. Fundou ainda a Academia Real de Marinha para formação de oficiais da Armada.
A 5 de janeiro de 1785 promulgou um alvará impondo pesadas restrições à atividade industrial no Brasil; como por exemplo proibia a fabricação de tecidos e outros produtos. Durante o seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Moeda com as efígies de Maria I e Pedro III
Regência do filho:
Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de 1792 foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a Pombal perseguir os jesuítas, o via como "um monte de carvão calcinado".
Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, psiquiatra e médico real de Jorge III, enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes".
Em 1799, sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido Pedro III (1786) e seu filho, o príncipe herdeiro José, Duque de Bragança, Príncipe da Beira, Príncipe do Brasil, morto aos 27 anos (1788), a marcha da Revolução Francesa, e execução do Rei Luís XVI de França na guilhotina. Por isso, João, seu filho e herdeiro, que futuramente se tornaria João VI de Portugal, assumiu a regência.
Ida para o Brasil:
A Família Real Portuguesa transfere-se para o Brasil devido ao receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas francesas: Napoleão acumula o título de rei de Itália, dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão José Bonaparte, a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos Países Baixos a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte (Luís I da Holanda). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, Manuel Godoy apoiado por Napoleão invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente Tratado de Badajoz, Olivença passou para a coroa de Espanha, mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi invadido pela coligação franco-espanhola liderada pelo Marechal Junot. A família real foge para o Brasil a 13 de Novembro de 1807 deixando Portugal a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A 1 de Agosto de 1808, o Duque de Wellington desembarcou em Portugal e iniciou-se a Guerra Peninsular. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na Batalha do Buçaco. Quando Napoleão foi derrotado em 1815, Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir.
Morte:
Incapacitada, Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado infeliz. Ela morreu no Convento do Carmo, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1816, aos 81 anos de idade. Após as cerimónias fúnebres, o seu corpo foi sepultado no Convento da Ajuda, também no Rio. Com a sua morte, o Príncipe Regente João foi aclamado Rei de Portugal, Brasil e Algarves.
Em 1821, após o retorno da Família Real para Portugal, os seus restos mortais foram transladados para Lisboa e sepultados num mausoléu na Basílica da Estrela, igreja que ela mesma mandou erguer.
Títulos, Estilos e Honrarias
Títulos e estilos
17 de Dezembro de 1734 – 31 de Julho de 1750: "Sua Alteza Real, a Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos"
31 de Julho de 1750 – 24 de Fevereiro de 1777: "Sua Alteza Real, a Princesa do Brasil, Duquesa de Bragança, etc."
24 de Fevereiro de 1777 – 20 de Março de 1816: "Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha"
O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua Aclamação até 1815 foi: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc." Com a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, o seu estilo evoluiu para: "D. Maria, pela Graça de Deus, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."
Honrarias
Enquanto monarca de Portugal, D. Maria I foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo
Ordem de São Bento de Avis
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada
Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada
Descendência:
Casou a 6 de junho de 1760 com o seu tio Pedro de Bragança, que subiria ao trono como Pedro III de Portugal.
Tiveram os seguintes filhos:
José, Príncipe do Brasil (21 de Agosto de 1761 – 11 de Setembro de 1788)
D.João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança (16 de Setembro de 1763 – 10 de Outubro de 1763)
João VI de Portugal (16 de Setembro de 1763 – 10 de Outubro de 1763)
Infanta D.Maria Ana Vitória (15 de Dezembro de 1768 – 2 de Novembro de 1788)
D. Maria Clementina Francisca Xavier de Paula Ana Josefa Antónia Domingas Feliciana Joana Michaela Julia de Bragança (9 de Junho de 1774 – 27 de Junho de 1776)
D.Maria Isabel de Bragança (12 de Dezembro de 1776 – 14 de Janeiro de 1777)
José I (Lisboa, 6 de junho de 1714 – Sintra, 24 de fevereiro de 1777), apelidado de O Reformador, foi Rei de Portugal e Algarvesde 1750 até sua morte. Era o terceiro filho do rei João V e sua esposa a rainha Maria Ana da Áustria.
O reinado de José I é sobretudo marcado pelas políticas do seu secretário de Estado, o Marquês de Pombal, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesa, transformando Portugal num país moderno.
Quando subiu ao trono, José I tinha à sua disposição os mesmos meios de acção governativa que os seus antecessores do século XVII, apesar do progresso económico realizado no país, na primeira metade do século XVIII.
Esta inadaptação das estruturas administrativas, jurídicas e políticas do país, juntamente com as condições económicas deficientes herdadas dos últimos anos do reinado de João V, vai obrigar o monarca a escolher os seus colaboradores entre aqueles que eram conhecidos pela sua oposição à política seguida no reinado anterior.
A 1 de novembro de 1755, José I e a sua família sobrevivem à destruição do Paço Real no Terremoto de Lisboa por se encontrarem na altura a passear em Santa Maria de Belém. Depois desta data, José I ganhou uma fobia a edifícios de pedra e cal, vivendo o resto da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, em Lisboa.
Outro acontecimento notável do seu reinado foi a tentativa de regicídio que sofreu a 3 de setembro de 1758 e o subsequente processo dos Távoras. Os Marqueses de Távora, o Duque de Aveiro e familiares próximos, acusados da sua organização, foram executados ou colocados na prisão, enquanto que a Companhia de Jesus foi declarada ilegal e os jesuítas expulsos de Portugal e das colónias.
D. José I faleceu no dia 24 de fevereiro de 1777. Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa.
Início de Vida:
Nascimento e família
José Francisco António Inácio Norberto Agostinho nasceu no Paço da Ribeira, Lisboa no dia 6 de junho de 1714, recebendo o título de Duque de Bragança no nascimento. Dentre sete filhos era a terceira criança e segundo varão de João V de Portugal e de sua consorte, Maria Ana da Áustria, filha do imperador Leopoldo I do Sacro Império Romano-Germânico. Foi baptizado a 27 de agosto de 1714, sendo afilhado do rei Luís XIV de França e da imperatriz Isabel Cristina de Brunsvique-Volfembutel consorte do imperador de Carlos VI do Sacro Império Romano-Germânico.
Embora não tenha nascido sucessor da coroa portuguesa, por não ser primogénito, logo em outubro do mesmo ano, devido ao falecimento do seu irmão Pedro, veio a adquirir esse estatuto.
Educação:
Os seus primeiros tempos de infância passou-os junto de sua mãe, recebendo a sua influência altamente religiosa, bem como a do seu confessor o jesuíta António Stief que lhe ministrou as primeiras letras de latim.
Recebeu a educação adequada a um príncipe do seu tempo, no domínio das ciências e das línguas bem como da nobre arte da Cavalaria. Muito embora se saiba pouco sobre a sua educação musical, ao contrário da sua irmã D. Maria Bárbara, que beneficiou dos ensinamento dum dos grande músicos do seu tempo Domenico Scarlatti, que com ela seguiu para Espanha quando do seu casamento, o certo é que ficou conhecida a grande paixão de D. José pela ópera italiana.
Casamento:
Nova crise diplomática
Na sequência da curta, mas para a Espanha desastrada guerra contra as quatro potências em 1718-1720, o rei de Espanha tinha ainda prometido uma filha ― a infanta Mariana Vitória ― a Luís XV da França, para também tentar melhorar as relações com esse reino. Com menos de quatro anos de idade foi a pequena princesa por isso enviada além-Pirenéus. Mas o rei francês entretanto não quis esperar que a pequena princesa crescesse, e acabou por optar por outra esposa. Em março de 1725, a pequena princesa, agora com sete anos, regressou a Espanha.
Entretanto, novos conflitos tinham surgido entre Portugal e a Espanha, por causa da fundação pelos portugueses de Montevidéu, no Rio da Prata, a 22 de novembro de 1723. Isto era uma zona que os portugueses consideravam ser o limite meridional natural do Brasil, enquanto os espanhóis de Buenos Aires queriam controlar todo o estuário do Rio da Prata.
Os portugueses tinham desde 1680 a Colónia do Sacramento na região, que fora ocupada pelos espanhóis durante a Guerra da Sucessão Espanhola, mas devolvida pelo tratado de paz de 1715. No entanto, o tratado nada dizia sobre novas fundações na zona. Exatamente três meses após a fundação de Montevidéu, a 22 de Fevereiro de 1724, os espanhóis de Buenos Aires julgaram-se por isso justificados em ocupar a praça. Apenas um ano após o contrato de casamento entre Maria Bárbara e o Príncipe das Astúrias, estes acontecimentos, nesta remota parte dos respetivos impérios, causaram assim novos atritos diplomáticos entre as coroas ibéricas.
A Troca das Princesas:
A infanta Dona Mariana Vitória, antes da Troca das Princesas.
Para evitar novas controvérsias e fortalecer ainda mais a aliança que se pretendia, a diplomacia espanhola propôs então um duplo matrimónio: para além do casamento entre o príncipe herdeiro espanhol e Maria Bárbara, o príncipe herdeiro português poderia casar com a regressada Mariana Vitória. João V aceitou a proposta, e dois anos mais tarde, tendo os príncipes e infantas chegado a idade um pouco mais crescida, firmaram-se então os acordos pré-nupciais: o Príncipe do Brasil e Mariana Vitória a 27 de dezembro de 1727, e o Príncipe das Astúrias e Maria Bárbara de Portugal a 11 de janeiro de 1728.
Por fim, após demorada preparação, a Troca das Princesas realizou-se a 19 de Janeiro de 1729. A troca foi feita no Rio Caia, que faz fronteira entre Elvas no Alentejo, em Portugal, e Badajoz na Extremadura, em Espanha. A cerimónia fez-se literalmente a meio do rio, numa grande ponte-palácio de madeira ricamente decorada construida para a ocasião, com vários pavilhões em ambas as margens também. Praticamente toda a Corte participou, tendo todas as vilas e lugares entre Lisboa e Elvas sido enfeitadas com arte efémera, tal como arcos triunfais, jardins artificiais, fontes, etc., para receber os imensos cortejos na ida e na volta da fronteira. As preparações para a troca das princesas foram de tal modo detalhadas que já em Janeiro de 1727 a Coroa colocava encomendas de berlindas em Paris, e pedia contribuições extraordinárias dos quatro cantos do império para financiar todo o esplendor desejado ― incluindo da Capitania de Minas Gerais no Brasil.
De notar que todo este panorama de arte efémera se voltou a registar meio século mais tarde, aquando do novo consórcio duplo entre Portugal e a Espanha em 1785, com os casamentos do então apenas João e da irmã, a Maria Ana Vitória, e foi descrito recentemente em pormenor.
Depois de casada, Mariana Vitória e o Príncipe do Brasil passariam ainda vinte e um anos como príncipes herdeiros, antes de subir ao trono em 1750. Durante esse período, e com o piorar da saúde de Filipe V, Bárbara e o marido tiveram que enfrentar a animosidade da rainha e madrasta do príncipe, Isabel Farnésio, que queria manter o enteado longe da corte. Em 1733 foram aprovadas regras de conduta do príncipe herdeiro que eram, no dizer de um historiador, uma "especie de arresto domiciliario":
Pouco depois deu-se ainda o chamado Incidente das Embaixadas em 1735, e apesar da troca das princesas as relações entre Portugal e a Espanha deterioraram-se ao ponto do monarca português enviar uma forte esquadra ao Rio da Prata, e de passar a existir de facto um estado de guerra entre as duas coroas, apenas solucionado em 1737.
Ainda assim, durante todo este período, e durante todo o posterior reinado, a princesa teve o conforto da companhia de Domenico Scarlatti, o seu velho mestre de música em Lisboa, que seguiu com a sua aluna para Espanha, onde permaneceria o resto da vida. Aqui, o cravista napolitano compôs mais de quinhentas sonatas, muitas delas dedicadas a Bárbara, que passava grande parte do seu tempo a tocar composições do seu antigo professor.
Reinado:
O reinado de José I é sobretudo marcado pelas políticas do seu secretário de Estado, o Marquês de Pombal, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesa, transformando Portugal num país moderno.Quando subiu ao trono, José I tinha à sua disposição os mesmos meios de acção governativa que os seus antecessores do século XVII, apesar do progresso económico realizado no país, na primeira metade do século XVIII.
Esta inadaptação das estruturas administrativas, jurídicas e políticas do país, juntamente com as condições económicas deficientes herdadas dos últimos anos do reinado de João V, vai obrigar o monarca a escolher os seus colaboradores entre aqueles que eram conhecidos pela sua oposição à política seguida no reinado anterior.
Diogo de Mendonça Corte-Real, Pedro da Mota e Silva e Sebastião José de Carvalho e Melo passaram a ser as personalidades em evidência, assistindo-se de 1750 a 1755 à consolidação política do poder central e ao reforço da posição do marquês de Pombal, com a consequente perda de importância dos outros ministros.
O terramoto de Lisboa:
O desastre abateu-se sobre Portugal na manhã do dia 1 de novembro (dia de Todos os Santos) de 1755. Nesta data, Lisboa foi abalada por um violento tremor de terra, com uma amplitude que em tempos actuais é estimada em cerca de nove pontos na escala de Richter. A cidade foi devastada pelo tremor de terra, pelo maremoto e ainda pelos incêndios que se seguiram.
Sebastião de Carvalho sobreviveu por sorte, mas não se impressionou. Imediatamente tratou da reconstrução da cidade, de acordo com a famosa frase: "E agora? Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos". Apesar da calamidade, Lisboa não foi afectada por epidemias e menos de um ano depois já se encontrava parcialmente reconstruída.
A baixa da cidade foi redesenhada por um grupo de arquitectos, com a orientação expressa de resistir a terramotos subsequentes. Foram construídos modelos para testes, nos quais os terramotos foram simulados pelo marchar de tropas. Nesta altura, e pela orientação do Marquês do Pombal, teve início o modelo de construção de edifícios denominado "Gaiola", em que todas as obras eram edificadas a partir de uma estrutura de madeira, semelhante a uma gaiola. A partir deste período, todos os edifícios eram obrigados a respeitar esta norma, com o fim de tornar as construções resistentes aos terramotos, devido à sua flexibilidade.
Surgiram também os primeiros edifícios dotados de saneamento próprio, através de condutas ligadas diretamente ao rio, e as ruas adquiriram dimensões em torno dos 20 metros de largura - para as estradas principais - uma característica nunca antes vista.
Os edifícios e praças da Baixa Pombalina de Lisboa ainda prevalecem, sendo uma das atracções turísticas de Lisboa, construídos sob a assinatura do Marquês de Pombal.
Sebastião de Melo fez também uma importante contribuição para a sismologia: elaborou um inquérito enviado a todas as paróquias do país. Exemplos de questões aí incluídas: os cães e outros animais comportaram-se de forma estranha antes do evento?; O nível da água dos poços subiu ou desceu?; Quantos edifícios foram destruídos? Estas questões permitiram aos cientistas portugueses a reconstrução do evento e marcaram o nascimento da sismologia enquanto ciência.
O Processo dos Távoras:
O atentado sofrido por D. José I em 1758. Este atentado foi o catalisador do Processo dos Távoras.
Na sequência do terramoto ficou só menos de dois anos mais como Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. O rei D. José I deu ao seu primeiro-ministro poderes acrescidos, tornando-o numa espécie de ditador, e fê-lo Conselheiro de Estado e Comendadorde Santa Marinha da Mata de Lobos e de São Miguel das Três Minas, ambas na Ordem de Cristo. À medida que o seu poder cresceu, os seus inimigos aumentaram e as disputas com a alta nobreza tornaram-se frequentes.
Em setembro de 1758, a carruagem do rei foi alvejada quando este voltava da casa de sua amante, a esposa do Marquês de Távora. O monarca foi ferido e a rainha assumiu como regente. As investigações, durante o mês de dezembro, acusaram membros da alta nobreza, os quais foram imediatamente presos; entre eles integrantes da família dos Távoras (o número total de prisioneiros chegou a mais de mil, a maioria dos quais jamais foi julgada formalmente). Em 12 de janeiro de 1759, o José de Mascarenhas da Silva e Lencastre, então Duque de Aveiro, e diversos membros da família dos Távoras foram condenados à morte.
Sebastião de Melo não mostrou qualquer misericórdia, tendo perseguido cada um dos envolvidos.
Com este golpe final, o poder da nobreza foi decisivamente contrariado, marcando uma vitória sobre os seus inimigos, aqueles que tinham força para se oporem a si e ao rei. Pela sua acção rápida, D. José I atribuiu ao seu leal ministro o título de Senhor Donatário das vilas de Oeiras e seu termo e de Pombal, com o título de Conde de Oeiras, em 1759.
A 3 de Setembro 1759, um ano depois da tentativa de regicídio a D. José, expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias, confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autónomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio.
No seguimento do caso Távora, o novo Conde de Oeiras não conheceu qualquer nova oposição. Adquirindo o título de Marquês de Pombal em 1770, teve quase exclusivamente o poder de governar Portugal até à morte de D. José I em 1777.
A Regência:
Quando seu marido foi declarado inapto para governar 1774, devido a loucura, D. Mariana Vitória foi proclamada regente, uma posição que manteve até a morte de seu marido. Após isso, ela tornou-se regente de sua filha mais velha, futura D. Maria I.
Quando a filha assume o poder, D. Mariana Vitória tentou melhorar as relações com a Espanha que era governada por seu irmão mais velho, Carlos III. Os dois países estavam em conflito em relação a posses territoriais nas Américas. Deixando Portugal, D. Mariana Vitória viajou para a Espanha, onde permaneceu por pouco mais de um ano, residindo entre o Palácio Real de Madrid e o Palácio Real de Aranjuez.
Por influência da rainha, assinou-se em 1778 o tratado que estipulou dois casamentos: o do infante Gabriel, filho de Carlos III, com a sua neta D. Maria Ana Vitória, e o da infanta Carlota Joaquina, neta mais velha de Carlos III, com o infante D. João, futuro D. João VI.
Morte:
D. José I faleceu no dia 24 de fevereiro de 1777 no Palácio de Sintra, sucedendo ao pai a rainha D. Maria. Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Títulos, Estilos e Honrarias:
Títulos e estilos
6 de Junho 1714 – 29 de outubro de 1714: "Sua Alteza", o Sereníssimo Infante José de Portugal"
29 de Outubro de 1714 – 31 de julho de 1750: "Sua Alteza Real, o Príncipe do Brasil"
31 de Julho de 1750 – 24 de fevereiro de 1777: "Sua Majestade Fidelíssima, o Rei"
O estilo oficial de D. José I enquanto Rei de Portugal: "Pela Graça de Deus, José I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."
Honrarias
Enquanto monarca de Portugal, D. José I foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:
Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo
Ordem de São Bento de Avis
Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem de Sant'Iago da Espada
Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada
Casamento e Descendência:
O Rei D.José I casou com a Princesa Mariana Vitória de Espanha de quem teve os seguintes filhos:
Maria I de Portugal (17 de dezembro de 1734 –20 de março de 1816)
Maria Ana, Infanta de Portugal (7 de outubro de 1736 –16 de maio de 1813)
Maria Doroteia, Infanta de Portugal (21 de setembro de 1739 –14 de janeiro de 1771)
Benedita, Princesa do Brasil (25 de julho de 1746 –18 de agosto de 1829)
No âmbito das Celebrações do Centenário de nascimento de Amália Rodrigues, que já arrancaram no passado dia 23 de Julho, a Fundação Amália Rodrigues criada por testamento da própria, acaba de celebrar um importante Protocolo de Cooperação com as Fundações Histórico Cultural Oureana e D. Manuel II, ambas ligadas à figura da saudosa Fadista.
A assinatura do Protocolo teve lugar na emblemática Sala da Casa Museu Amália Rodrigues na Rua de São Bento numero 193, em Lisboa, e reuniu Joaquim Vicente Rodrigues, Presidente da Fundação Amália, D. Duarte Pio, Duque de Bragança, Presidente da Fundação D. Manuel II e Carlos Evaristo, Presidente da Fundação Oureana.
O Protocolo prevê parcerias e patrocínios para a realização urgente de vários projectos que as Fundações parceiras pretendem realizar durante o Centenário, incluindo eventos, exposições, edições, sinalização, recolha e conservação de espólio e a publicação de um Catalogo para o visitante da Casa Museu.
Para o Senhor D. Duarte, que era amigo pessoal da Fadista e frequentava a casa desde muito jovem acompanhado de sua tia D. Filipa e da Marquesa D. Olga Cadaval grande Patrona das Artes, "Este Protocolo representa um profundo respeito que sempre tivemos pela Amália e pelo que fez pela Cultura e por Portugal. É o testemunho de uma amizade pessoal que se manteve até ao fim da sua vida e o compromisso de continuar a ajudar a preservar a sua memória."
José Eduardo de Magalhães Coutinho foi director e lente jubilado da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa; comendador da ordem de Cristo, primeiro medico da real câmara, conselheiro, director da Biblioteca Real da Ajuda, membro do Conselho Superior de Instrução Publica, deputado, sócio da Sociedade das Ciências Médicas, de que foi presidente; sócio da Academia Real das Ciências, e de muitas outras sociedades científicas, secretário particular do Rei D.Luís I, etc. Nasceu em Évora a 24 de Outubro de 1815, faleceu em Lisboa a 13 de Janeiro de 1895, sendo filho de José Bernardo Magalhães Coutinho, oficial de infantaria.
Começou a estudar as primeiras letras, aos 8 anos de idade, numa escola de Évora, indo depois para Torres Novas, onde se dedicou ao estudo do latim. Deram-se então os acontecimentos políticos de 1828 para 1829, e Magalhães Coutinho veio para Lisboa em companhia de seu pai, que poucos dias de liberdade gozou nesta cidade, porque o intendente da policia logo o prendeu, julgando ver ameaçados os absolutistas com a presença dum oficial, já desligado por não ser afecto àquele regime. Magalhães Coutinho ficou abandonado, e não pensou em aulas, não deixando contudo de ler os compêndios, e mais dois ou três livros, que o pai trouxera na sua mala. António Maria do Couto, professor régio de grego, recebeu-o em sua casa, perguntando-lhe o que já tinha estudado, e vendo a sua boa vontade de aprender admitiu-o nas aulas; ali estudou então latim, francês, grego, lógica e retórica. Chegou o ano de 1831, em que as perseguições políticas se tinham tornado deveras ameaçadoras, e o governo, por causa da guerra civil iminente, procedeu a um rigoroso recrutamento.
Magalhães Coutinho, apenas contava 18 anos, mas receava que o obrigassem a assentar praça, vida para que não se sentia com vocação, e muito mais porque iria contrariar as crenças liberais de seu pai, que ele também professava. António Maria do Couto, vendo-o assim receoso, aconselhou-o a que se matriculasse na escola régia de cirurgia que livrava do recrutamento, e fez-lhe o elogio daquela profissão, o que muito entusiasmou o jovem estudante, que pensara sempre em frequentar na Universidade de Coimbra o curso de Direito. Couto observou-lhe ainda que fosse para o hospital, e se não gostasse da vida de médico, a todo o tempo poderia dedicar-se a outra; o que se tornava preciso, era evitar que o fizessem soldado, com que o seu pai muito se desgostaria. Magalhães Coutinho matriculou-se poucos dias depois na escola de cirurgia, frequentando a aula de anatomia em 1831, e a de matéria médica em 1832. A inquietação em que andava pelas desgraças de sua família, e a necessidade em que se via de continuar com os seus exercícios de latim e do grego, o fizeram descuidar-se do estudo, para que lhe faltava o tempo, chegando até a ser considerado mau estudante, entre os condiscípulos. Havia pouco tempo que se matriculara no terceiro ano do curso da escola, quando raiou o dia 24 de Julho de 1833, em que se proclamou em Lisboa o restabelecimento do regime constitucional e a legitimidade da rainha D. Maria II. Magalhães Coutinho teve a fortuna de ver logo reunida a sua família, que tanto sofrera com os rigores do partido miguelista, e o jovem estudante prosseguiu na escola de cirurgia. Contudo, os estudos ficaram interrompidos por algum tempo, porque a mocidade de Lisboa correu toda a alistar-se nos batalhões que se organizaram, e Magalhães Coutinho também assentou praça, mas pouco tempo serviu na vida militar, porque logo depois da acção de 5 de Setembro foi requisitado pelo cirurgião-mor Lourenço Félix Sardinha, director do hospital da Estrela, para o ajudar no tratamento dos feridos. As funções, que então exerceu, foram as de enfermeiro, mostrando sempre a maior dedicação tanto por amigos como por inimigos.
Em 1836 acabou o curso da escola, e tirou a respectiva carta. Em 1837 acompanhou o marechal Saldanha ao Chão da Feira. Para esta digressão militar houve motivo contrário ás suas opiniões politicas, que não eram então as mesmas porque combatia o marechal. O conflito de 28 de Agosto desse anuo, entre as forças que Saldanha comandava e as do conde de Bonfim, deu ocasião ás primeiras operações cirúrgicas que praticou. Nos fins do referido ano de 1837 chegou a Lisboa, e resolveu habilitar-se para concorrer aos lugares do magistério da escola. Foi explicador de anatomia, e começou vida nova de estudo, frequentando os cursos de Química, Física, Botânica e Zoologia. Considerava que tendo sido a primeira reforma da escola em 1836, depois dele ter concluído o curso, ver-se-ia muito inferior aos alunos que viessem depois, e por isso se tornava preciso, aspirando ao professorado, preencher as faltas que tinha nos seus estudos, a que se aplicou, mas com bastante irregularidade. Em 1830 desempenhou o lugar de cirurgião-mor do segundo batalhão de voluntários do comércio; em 1842 fez algumas conferências públicas sobre frenologia. Em 1847 entrou para o corpo docente da Escola Médico Cirúrgica. Em 2 de Junho de 1856 foi nomeado cirurgião extraordinário do hospital de S. José, e em 1857 ajudante do cirurgião do banco. Serviu nos hospitais da cholera-morbus e da febre-amarela, em 1856 e 1857; exerceu clínica no hospital do Desterro, pedindo a sua exoneração em 1 de Março de 1862. Foi depois director da Escola Médica, regendo com brilhantismo a cadeira de obstetrícia. Magalhães Coutinho foi o primeiro cirurgião, em Portugal, que fez a aplicação do clorofórmio nos partos (1857), e o segundo que praticou a litotrícia (1857), operação esta que tinha sido feita apenas uma vez entre nós, 20 anos antes, pelo cirurgião João José Pereira. Também foi o primeiro cirurgião que em Portugal operou um doente anestesiado pela amylena (3 de Junho de 1857). Sendo eleito deputado em 1853, entrou nas seguintes legislaturas até 1856. Na, sessão de 12 de Março de 1853 apresentou uma proposta para reforma das escolas médico-cirúrgicas, ficando os alunos com privilégios e títulos iguais aos da Universidade de Coimbra. Depois duma vida muito trabalhosa, consagrando muitos anos à clínica e ao magistério, Magalhães Coutinho deixou quase completamente o exercício da sua profissão em que tanto se assinalara, e pedindo a jubilação, ficou sendo primeiro médico da real câmara e bibliotecário da biblioteca real da Ajuda. Exerceu também por algum tempo as funções de director geral da instrução pública, no ministério do reino. Em 26 de Janeiro de 1861 era vogal suplente do Conselho Geral de Instrução Publica, sendo nessa data, juntamente com João de Andrade Corvo, também vogal suplente, encarregado de propor, ouvindo o director da Escola Normal Primária do distrito de Lisboa, o plano das obras indispensáveis para o melhor aproveitamento do edifício e quinta anexa, em que esta escola ia funcionar, tanto em relação à instrução dos alunos, como ao aproveitamento e regularidade do ensino. Quando se criou o Conselho Superior de Instrução Publica, por decreto de 23 de Maio de 1884, foi Magalhães Coutinho nomeado um dos seus membros.
Manuel Francisco das Misericórdias de Almeida e Vasconcelos do Soveral de Carvalho da Maia Soares de Albergaria nasceu a 30 de Novembro de 1811 em Anjos, Lisboa. Foi o 4º barão de Mossâmedes; Vedor e Porteiro-mor da Casa Real, Par do Reino; Oficial-mor honorário da Casa Real. Senhor do Palácio do Mitelo. Senhor da grande Quinta do Barão, em Carcavelos; 2º conde da Lapa 4 Barão de Mossâmedes de juro e herdade. Herdeiro de toda a grande Casa de seus maiores. Alcaide-mor de Barcelos ( hereditário ); Senhor do Solar dos Soverais, em Sernancelhe.
Era filho de Manuel de Almeida e Vasconcelos 1.º conde da Lapa e Francisca de Paula de Figueiredo Cabral da Camara.
Casou com Francisca de Paula Luisa de Sousa Coutinho com quem teve cinco filhos.
Faleceu a 17 de Novembro de 1898 em Anjos, Lisboa, Portugal.
A Real Barraca ou Paço de Madeira foi a residência oficial dos reis portugueses após a destruição do sumptuoso Paço da Ribeira durante o Terramoto de 1755.
A corte estabeleceu-se na Quinta de Cima, uma das três quintas adquiridas em 1726 por D. João V na zona de Belém-Ajuda. Desenhado por Giovanni Carlo Galli da Bibbiena[1] (que já havia projectado o edifício da Ópera do Tejo, que também ruiu com o terramoto), o edifício teria sido edificado em madeira devido à recusa de D. José I em voltar a habitar edifícios construídos "em pedra e cal", embora tivesse conhecido algumas partes inferiores em alvenaria.
Serviu de residência da Corte durante cerca de três décadas, até à data da sua completa destruição (e de grande parte do seu valioso recheio) num incêndio que deflagrou na madrugada de 11 de novembro de 1794, já no reinado de D. Maria I. A família real recolhe ao Palácio de Queluz, e Príncipe Regente D. João aprova então a construção de raiz de um novo palácio no local da Real Barraca. Aprovado o projecto de Manuel Caetano de Sousa, foi assente a primeira pedra do novo Paço Real de Nossa Senhora da Ajuda em maio de 1796 por José Pedro de Carvalho, Mestre da Repartição dos Pedreiros na Real Obra da Ajuda
Jazigo de Joaquim Pinheiro das Chagas, no Cemitério dos Prazeres
Joaquim Pinheiro das Chagas (Lamego, 5 de Fevereiro de 1809 - Lisboa, 3 de Dezembro de 1859), militar e secretário particular do rei D. Pedro V de Portugal. Foi pai do conceituado jornalista e escritor Manuel Joaquim Pinheiro Chagas.
Nasceu em Lamego a 5 de fevereiro de 1809, faleceu em Lisboa a 3 de dezembro de 1859. Era filho de Manuel Pinheiro, médico, e de sua mulher, D. Maria Teresa.
Aos dezasseis anos de idade, depois de concluídos os preparatórios, foi para Coimbra na intenção de se formar em medicina, o que não pôde conseguir por se ter em 1829 alistado no Batalhão Académico que se formara para defender a causa liberal, a que tão brilhantes e desinteressados serviços prestou durante a guerra civil e que pôs termo a Convenção de Évora Monte.
Como soldado do batalhão tomou Pinheiro Chagas parte em todos os combates em que este corpo se distinguiu, e de que rezam com merecido louvor as crónicas contemporâneas. Depois de conhecido o lamentável caso do Belfast, que ia contribuindo para aniquilar de vez as aspirações e as esperanças dos defensores da causa, liberal, Pinheiro das Chagas entrou em Espanha com os restos do exército constitucional, seguindo mais tarde para Inglaterra, couto da foragida liberdade, como lhe chamou Almeida Garrett, mas que por vezes desmentiu com os emigrados portugueses a fama do seu hospitaleiro agasalho, encerrando-os no barracão de Plymouth, uma das mais dolorosas recordações do exílio daquele heróico punhado de bravos que arriscou a vida e fazenda em nome da redenção moral da pátria oprimida e vilipendiada. Os tormentos que passaram ali, o desprezo e desumanidade, com que o governo inglês os tratou, inspiraram a Pinheiro das Chagas uns artigos que ele intitulou Noites do Barracão, e tiveram então imensa voga, como eco que eram do sentir geral de todos os seus companheiros do infortúnio. O verdadeiro título deste curioso, e hoje raríssimo, livro é As noites do barracão passadas pelos emigrados portugueses em Inglaterra; em verso alexandrino, Paris, 1834. Pinheiro das Chagas fez parte da expedição dos Açores comandada pelo conde de Vila Flor, mais tarde duque da Terceira, contribuindo para a defesa da ilha Terceira, e também com os seus camaradas do Batalhão Académico, para submeter ao domínio do governo constitucional as demais ilhas do arquipélago. Entretanto, se a causa da emigração não ganhava terreno, conquistava lentamente para si os espíritos tímidos e animava o duque de Bragança à aventurosa expedição para Portugal, confiado na dedicação dos seus partidários e no apoio moral que os seus esforços iam encontrando na imprensa e nos parlamentos estrangeiros. Pinheiro das Chagas foi um dos bravos da expedição do exército libertador que veio desembarcar nas praias do Mindelo em julho de 1832, e tomou parte muito activa na defesa do Porto. Organizada depois a expedição para o Algarve, de que tomou o comando o general duque da Terceira, foi Pinheiro das Chagas nomeado para fazer parte do destacamento do batalhão académico que exclusivamente constituía a artilharia do corpo expedicionário, podendo por este simples facto ajuizar-se ainda hoje de que prestante auxílio não foi à consolidação do governo constitucional na nossa terra a desinteressada corporação da mocidade académica. No combate da Cova da Piedade, um dos últimos feridos naquela sangrenta luta de irmãos, ficou Pinheiro das Chagas estendido no campo como morto em resultado de uma violenta contusão na cabeça, tributo que raros dos seus camaradas deixaram de pagar à fixidade das suas crenças a ao amor pela sua terra natal. Quase, ao terminar a guerra civil já em Lisboa, e depois de haver sido dissolvido o corpo académico, permitindo-se aos estudantes optarem pela continuação dos seus respectivos cursos ou pela entrada no exército com o posto de alferes, a que todos tinham mais que justificado direito, Pinheiro das Chagas optou pelo serviço militar, a que se habituara nas rudes provações do exílio, sendo colocado em infantaria n.º 18, fazendo o resto da campanha da liberdade até à memorável batalha da Asseiceira, em que tomou parte.
Joaquim Pinheiro das Chagas foi um homem de inexcedível modéstia, e de completo desapego das ostentações e vaidades sociais. Uma única preocupação o dominava o cultivo da inteligência, já então prometedora de seu filho único, o futuro estadista e distinto escritor Manuel Pinheiro Chagas. Foi neste propósito que aceitou, por convite do general Augusto Palmeirim, então director do Colégio Militar, o lugar de oficial do mesmo colégio, isto no intuito de vigiar e dirigir a educação de seu filho, que nele era aluno, e se dispunha a seguir a carreira das armas. Foi por este tempo, e quando exercia interinamente o lugar de director do Colégio Militar, que o rei D. Pedro V teve ocasião de o conhecer, de avaliar o alcance da sua inteligência e a solidez dos seus conhecimentos, afeiçoando-se-lhe desde logo com a bonomia característica de todos os actos da vida do jovem monarca, chamando-o meses depois para o lugar de seu secretário particular. Cumpre denunciar como hereditária em D. Pedro V esta honrosa afeição pelo seu secretário, antes confidente das mágoas a dissabores de que a realeza não anda isenta. (V. D. Pedro V, neste vol., pag. 504). O rei D. Fernando já distinguia Pinheiro das Chagas com a sua amizade muito antes de 1857, ano em que este fora chamado para desempenhar as melindrosas funções de secretário dum rei moço e estudioso, e dedicado, como ele dizia, ao seu ofício de reinar. Apesar da fortuna por vezes lhe haver sorrido, Pinheiro das Chagas teimou sempre em viver na obscuridade, negando-se quer às sedutoras exterioridades da corte, quer ao arruido fascinador da publicidade. Dotado de grande inteligência, já na emigração era conhecido como poeta de largos horizontes, como o prova uma Ode a Catão, que se recitou em Plymouth numa récita do Catão, de Almeida Garrett, e que teve um êxito enorme. Esta Ode, além do seu mérito literário, exprimia os sentimentos dos emigrados que viam a sua energia e o seu vigor paralisados por falta de chefe, a por discórdias dos que deviam dirigir o movimento liberal. Fiel aos princípios da sua mocidade, poucos artigos firmou com o seu nome, a esses mesmos só quando julgou que deles lhe poderia advir responsabilidade perante a classe a que pertencia, e tais são os que escreveu a assinou na Revista Militar, então nascente, a que a boa camaradagem lhe não permitia negar o auxílio da sua colaboração. Como poeta, pertenceu à escola intermédia entre a clássica que chegava ao seu termo, e a romântica que principiava a despontar acaudilhada em Inglaterra por lorde Byron, em França por Victor Hugo a Lamartine, em Espanha pelo duque de Ribas, em Portugal por Almeida Garrett. Deixou belas traduções de Parny, Turquety, Lamartine, Thomaz Gray, Goldsmith, lorde Byron e de Victor Hugo. Também traduziu a ampliou por ordem do rei D. Pedro V a Chave da Ciência, do dr. Brewer, para ser adaptada às escolas portuguesas. Esta tradução ficou interrompida pela inesperada morte de Pinheiro das Chagas, contando apenas cinquenta anos, e parecendo gozar de boa saúde. Deixou inéditas umas Memórias, manifestando o desejo de que só fossem publicadas vinte anos depois da sua morte. O seu funeral realizou-se no dia 5 de dezembro de 1859, sendo os seus restos mortais depositados no jazigo do conde da Ponte no cemitério dos Prazeres; um ano depois foram trasladados para jazigo próprio, onde se gravou a seguinte inscrição:
AQUI JAZ JOAQUIM PINHEIRO DAS CHAGAS. NASCEU NA CIDADE DE LAMEGO A 5 DE FEVEREIRO DE 1809. FALECEU NA DE LISBOA A 3 DE DEZEMBRO DE 1859. ILUSTRADO ESPIRITO, E MODESTO, SOUBE SER BOM CIDADÃO BOM AMIGO E SOLDADO HONRADO. PERTENCEU AO CORPO ACADÉMICO. FEZ TODAS AS CAMPANHAS PELA LIBERDADE DESDE 1828 ATÉ 1834 SENDO UM DOS DEFENSORES DA ILHA TERCEIRA, E DA CIDADE DO PORTO. ERA MAJOR DO EXERCITO, E SECRETARIO PARTICULAR DE EL REI O SENHOR D. PEDRO V, POR CUJA ORDEM SE LEVANTOU ESTE MONUMENTO. 1860
Bernardo Pinheiro Correia de Melo, primeiro conde de Arnoso, (Guimarães, 27 de Maio de 1855 — 21 de Maio de 1911) foi um escritor português e secretário pessoal do rei D. Carlos, tendo sido ainda membro dos Vencidos da Vida. Usou o pseudónimo literário Bernardo Pindela. Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas A imprensa (1885-1891), A semana de Lisboa (1893-1895) e na revista Brasil-Portugal (1899-1914).
Filho de João Machado Pinheiro Correia de Melo, 1.º Visconde de Pindela, e de Eulália Estelita de Freitas Rangel de Quadros. Foi Fidalgo da Casa Real, e General do Exército.
Recebeu o título de 1.º Conde de Arnoso por decreto, em 28 de Setembro de 1895, pelo rei D. Carlos.
Os Reis de Portugal tinham sempre o seu secretário particular, que era sempre um homem da sua inteira confiança.
O escrivão da puridade era um alto funcionário da Coroa de Portugal, durante a Idade Média e o Renascimento. O cargo foi criado no século XIII, competindo-lhe inicialmente a função de escrivão ou secretário pessoal do Rei de Portugal, com a responsabilidade de lidar com os seus documentos particulares e assuntos mais reservados.
Sobretudo a partir da segunda metade do século XIV, o escrivão da puridade foi assumindo funções cada vez mais importantes, passando a ser o detentor do Selo do Camafeu (ou Selo da Puridade) que permitia autenticar os documentos sem passar pela Chancelaria-Mor e a ser responsável pelos assuntos relacionados com as Cortes e pelos negócios estrangeiros. O cargo de escrivão da puridade acabou por ganhar preponderância sobre todos os outros cargos do Estado, como os de chanceler-mor, de mordomo-mor e de vedor da fazenda, passando a funcionar como uma espécie de primeiro-ministro.
Assumindo cada vez mais funções de Estado, o escrivão da puridade acabou por perder a sua função original de secretário pessoal do Soberano, sendo criado o cargo de secretário de el-Rei para o substituir no desempenho desta função.
Para além do próprio Rei, alguns outros membros da Casa Real - como a Rainha, o Príncipe e os Infantes - tinham também os seus próprios escrivães da puridade. Estes eram contudo meros secretários particulares, sem quaisquer funções de Estado.
O cargo de escrivão da puridade foi extinto no século XVI, quando das reformas administrativas do Rei D. Sebastião que levaram à criação de três secretarias de Estado (Secretaria de Estado, Secretaria das Mercês e Expediente e Secretaria da Assinatura).
O cargo foi restaurado, já no século XVII, pelo Rei D. Afonso VI, em favor do 3.º conde de Castelo Melhor, ao qual foram atribuídos alargados poderes governativos. Quando da queda de D. Afonso VI e da consequente queda do conde de Castelo Melhor, o cargo foi novamente extinto.
No século XVIII, foi dado o título meramente honorífico de "escrivão da puridade" a alguns secretários particulares dos reis.
O Rei D.Manuel II com o seu primeiro secretário particular, o Marquês do Lavradio no seu gabinete de trabalho.
José Ferreira Pereira Felício, 2º conde de São Mamede era filho de Rodrigo Pereira Felício, 1º conde de São Mamede e Joana Ferreira da Silveira. Nasceu no dia 4 Outubro 1853 no Rio de Janeiro, Brazil e faleceu no dia 14 de Junho de 1905 em Loures, Portugal.
José Ferreira Pereira Felício era Doutor em Filosofia. Adido de Legação, Secretário de SM o Rei Dom Carlos. Escritor. Cavaleiro das Ordens de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa São Lázaro e São Maurício, Legião de Honra, Carlos III, Alberto Valoroso.
A Quinta da Senhora da Luz, em Castelo de Vide poderá vir a albergar uma Escola Real de Artes patrocinada pelo seu atual proprietário Dom Duarte de Bragança.
Este projeto cultural e artístico foi dado a conhecer ao presidente do Município de Castelo de Vide, pelo Duque de Bragança numa reunião que decorreu na passada semana.
À Rádio Portalegre, o presidente da autarquia António Pita, adiantou que o projeto “é muito embrionário”, pelo que é prematuro avançar com pormenores, contudo considera um sinal positivo Dom Duarte estar interessado em criar uma solução para o histórico imóvel, bem como contribuir para o desenvolvimento cultural, social e económico da região.
O autarca disse ainda que a Câmara Municipal está disponível para colaborar ativamente no projeto importante para a região.
O projeto envolve no imediato a realização de um “Architecture Summer School” de 18 a 20 e Junho do próximo ano.
Recorde-se que Dom Duarte procura pelo menos desde 2012 encontrar “um destino” para esta Quinta, que herdou de Virgínia Lee Malone Flores, viúva do Francisco Mimoso Flores. Entre as possibilidades elencadas esteve o turismo de habitação ou mesmo um empréstimo, e uma das hipóteses aventadas na altura chegou mesmo a ser "acolher uma Ordem religiosa expulsa de Portugal há 150 anos”.
Afonso de Bragança, Príncipe da Beira esteve presente num evento de gala no Château de Belœil, Hainaut, Bélgica com George Townsend, filho da Princesa Yolanda de Ligne e Johannes de Orléans-Bragança e Jong, filho da Princesa Maria Teresa de Orleães-Bragança, entre outros.
José Trasimundo Mascarenhas Barreto, 7.º Marquês de Fronteira, 8.º Conde da Torre, 8.º Conde de Coculim, Representante do Título de Marquês de Alorna e 10.º Conde de Assumar (Lisboa, 4 de janeiro de 1802 — Lisboa, 19 de fevereiro de 1881) foi um nobre, militar e político português.
Filho de D. João José Mascarenhas Barreto e de D. Leonor Benedita de Oyenhausen de Almeida, filha da Marquesa de Alorna. Mal conheceu o pai, falecido em 1806, e herdou os bens da casa; o regente D. João o agraciou com os títulos e bens da Coroa, de que os seus antepassados gozavam, em portaria de 17 de maio de 1811, e suplementos de 24 de setembro de 1814 e 26 de abril de 1815. Assentou praça de cadete a 8 de maio de 1818, tendo 16 anos, na primeira companhia de granadeiros do regimento de infantaria n.º 4, sendo promovido a alferes do regimento nº 1 da mesma arma em 10 de dezembro de 1820.
Casou em 14 de fevereiro de 1821 com D. Maria Constança da Câmara, dama da Ordem de Santa Isabel, depois dama de honor das rainhas D. Maria II de Portugal, D. Estefânia e D. Maria Pia; filha de D. Luís Gonçalves da Câmara Coutinho Pereira de Sande, 11.° senhor das Ilhas Desertas, de Regalados e do morgado da Taipa; alcaide-mor de Torres Vedras, e D. Maria de Noronha, filha dos 7º conde dos Arcos.
Em 1820, o chefe da revolução liberal, general Sepúlveda, o nomeou seu ajudante de campo, conservando-o no seu estado-maior até à queda do governo constitucional. Não querendo anuir ao movimento da Vilafrancada em Maio de 1823, foi colocado no sétimo regimento de cavalaria, de guarnição em Torres Novas. Voltou depois a Lisboa, e foi mandado servir no regimento nº 4 da mesma arma, poucas semanas antes da revolta de 30 de abril de 1821. Esteve então preso na torre de Belém, e depois na praça de Peniche, correndo os perigos de vida, pois esteve quase a ser fuzilado.
Saindo da prisão obteve licença para sair do reino, e em companhia de sua mulher percorreu parte da Europa, regressando à pátria depois de ser outorgada a Carta Constitucional em 1826. Foi eleito par do reino, por carta régia de 30 de abril de 1826, não tomando logo posse, por estar ainda na menoridade, que então se contava de 25 anos.
Por ocasião do casamento de D. Pedro V de Portugal, em Maio de 1858, foi nomeado mordomo-mor da casa da rainha D. Estefânia até seu falecimento, em Julho de 1859.
Quando morreu D. Pedro V e o infante D. João, em 1861, adoeceu o Duque de Saldanha, mordomo-mor da Casa Real, e foi substitui-lo no cargo. Depois do casamento de D. Luís I de Portugal, em 1862, foi nomeado mordomo-mor da casa da rainha D. Maria Pia. Era neto pelo lado materno da Marquesa de Alorna, e este título lhe foi dado em 22 de outubro de 1839, ficando reunido ao de Fronteira, renovado em Julho de 1844. Assistiu à coroação de Carlos X de França e às festas nas Tulherias. Tinha paixão pelas artes, e em Roma viveu na convivência do pintor Domingos Sequeira.
Teve apenas uma filha, D. Maria Mascarenhas Barreto.
Faleceu no seu palácio, em São Domingos de Benfica, aos 79 anos de idade, sendo sepultado, por autorização do Ministério do Reino, num jazigo da Igreja de São Domingos de Benfica, em Lisboa.
Títulos e comendas:
Veador da Fazenda Honorário da Casa Real, Par do Reino; 7.º Senhor de Fronteira, 8.º Senhor dos Morgados da Torre da Vargem, Senhor de Coculim e Verodá, na Índia; 15.º Senhor da Quinta das Chantas, no termo de Santarém; 13.º Senhor da Quinta da Goncharia em Almeirim; Donatário na Mordomia-Mor de Faro; Marechal de Campo reformado; Comendador e Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo; Comendador de Santa Cristina, de Afife, de Nossa Senhora da Conceição, de Rosmaninhal; de São Miguel, de Linhares; de São Nicolau, de Carrazedo de Montenegro; de Santiago, de Fonte Arcada; de São Tiago, de Torres Vedras. Cavaleiro, Oficial e Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, Grã-Cruz da Ordem de Carlos III, de Espanha; da Ordem da Águia Vermelha, da Prússia; da Ordem de São Gregório Magno, da Santa Sé; da Ordem de Alberto o Valoroso, da Saxónia; da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, de Itália, e da Imperial Ordem da Rosa do Brasil.
Recebeu a Medalha das Campanhas da Liberdade, algarismo 9, a Medalha de Bons Serviços, a Medalha de Valor Militar e a Medalha de Comportamento Exemplar.
A entrega do Grande Prémio no dia 29 de Junho de 2008 às 18h00, foi feita por SS.AA.RR., O Duque de Bragança e Príncipe da Beira, Dom Afonso de Santa Maria.
O Rei D. Carlos I de Portugal e o Infante D.Afonso Henriques, Duque do Porto, posando junto ao repuxo manuelino do Pátio Central do Palácio Real de Sintra.