Na sua edição de 4 de Fevereiro de 1908, três dias depois do regícidio, o "Diário de Notícias" publicou algumas curiosidades históricas sobre a monarquia portuguesa.
1 - D.Manuel II foi o 33 Rei de Portugal. D.Manuel I foi 14. Este quando subiu ao trono em 1495 também era Duque de Beja. Governou o reino durante 25 anos (25 de outubro de 1495 a 13 de dezembro de 1521).
2 - A morte do Rei D.Carlos I e do Príncipe Real Luís Filipe abriu duas vagas na Ordem da Jarreteira no Reino Unido e na Ordem do Tosão de Ouro em Espanha. Em seis meses, faleceram os três únicos cavaleiros do Tosão de Ouro em Portugal: o Rei D.Carlos I, o Príncipe Real Luís Filipe e o conselheiro Hintze Ribeiro.
3 - O título Duque de Beja foi criado pelo rei D. Afonso V de Portugal em 1453 a favor do seu irmão, o Infante D. Fernando e Condestável de Portugal. O Rei D.Manuel II foi o 18 Duque de Beja. O seu avô, o Rei D.Luís I tinha sido até então o último a usar o título, depois do irmão deste, o Infante D.João de Bragança.
Woodnorton Hall, Evesham, Worcestershire (1904) Dom Carlos e Dona Amélia de visita a Philippe d’Orléans [irmão de Dona Amélia e Chefe da Casa Real Francesa], no contexto da sua Visita de Estado ao Reino Unido. De pé (da esquerda para a direita): Fernand (1841-1914), barão de Tonscolombe, Aubrey Vitit, senhor de Monicourt, Honoré Charles (1868-1923), duque de Luynes, senhora de Villeneuve-Bargemon, marquês de Soveral (1851-1922) [embaixador de Portugal no Reino Unido], coronel William Vicent Legge (1841-1918) [destacado para assistir Dom Carlos durante a sua estadia na qualidade de ajudante-de-campo]; Sentados (da esquerda para a direita) Jean d’Orléans, Duque de Guise [primo de Dona Amélia e pai do futuro Conde de Paris, Henri d’Orléans]; a Arquiduquesa Maria Doroteia de Áustria, Duquesa de Orleães; Philippe d’Orléans; Dona Amélia, Dom Carlos e Isabelle d’Orléans, Duquesa de Guise [irmã de Dona Amélia].
Construída na última década do século XIX, em posição dominante sobre a escarpa da costa do Monte Estoril, esta casa, ainda hoje imagem de marca do Monte Estoril, foi adquirida pela Rainha D. Maria Pia, para utilização durante o período do ano consagrado aos banhos de mar, em 1893, quatro anos depois do falecimento do Rei D. Luís na Cidadela de Cascais e da ascensão de D. Carlos ao trono.
D. Maria Pia adquiriu este chalet em 1893, por cerca de 20 mil reis, a um tal de Henrique Ulrick, então denominado de Vista Longa. Dera por ele quando passou uma temporada na casa emprestada da família Reynolds, localizada ao lado. Gostou tanto que decidiu que seria a sua segunda morada, a par do Palácio da Ajuda.
No entanto, em função da sua privilegiada localização também viria a ser utilizada durante grandes períodos no inverno, assumindo, então, a designação de Paço do Estoril, que se manteria até à implantação da República, em 1910.
Depois da Implantação da República esta residência foi vendida a António Herédia, depois para o filho deste, António Guedes Herédia e depois para o seu filho, António Herédia.
Oficio do Presidente da Câmara de Guimarães, Augusto Gomes de Castro Ferreira Cunha, dirigido ao Director do Arquivo Municipal, que junto envia uma fotocópia de uma carta escrita pelo rei D. Manuel II à Rainha D. Amélia. O Rei D. Manuel II relata a sua viagem de Lisboa a Paris e a sua estadia em Londres.
"Dona Maria, por Graça de Deos, Rainha de Portugal e dos Algarves Faço saber aos que esta Minha Carta virem que, Tendo consideração ao que pelo Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios do Reino Me foi exposto acerca da antiquissima Villa de Guimarães; Attendendo a haver ella sido o berço da Monarchia, e assento da primeira Côrte dos Reis Portuguezes, onde nasceu e foi baptizado o poderoso Dom Affonso Henriques; Attendendo que a mesma Villa desfructa a primazia de ser uma das mais populosas da provincia do Minho, e a mais florescente em diversos ramos de industria, à qual são devidas a sua opulência e prosperidade, e as suas relações commerciais dentro e fóra do Paiz; Attendendo a que a famosa Villa de Guimarães, sempre Honrada por Meus Augustos Predecessores com especiaies privilegios, possue as condições e elementos necessarios para sustentar a dignidade e cathegoria de Cidade: Por todas estas circunstancias, e Querendo Eu tambe´m dar, aos habitantes de tão nobre Povoação, um testemunho authentico do distincto Aprêço em que Tenho a sua honrada e habitual dedicação á cultura das artes e trabalhos uteis, por Mim presenceados na occasião da Minha visita ás provincias do norte: Hei por bem elevar a Villa de Guimarães à cathegoria de Cidade com a denominação de Cidade de Guimarães, e Me praz que nesta qualidade goze de todas as prerogativas, liberdades e franquesas que direitamente lhe pertencerem. Pelo que Mando a todos os Tribunaes, Auctoridades, Officiaes e mais pessoas, a quem esta Minha Carta fôr mostrada, que indo assignada por Mim, referendada pelo Ministro e Secretario d'Estado dos NEgocios do Reino, e sellada com o sêllo pendente das Armas Reaes, hajam a sobredita Villa por Cidade, e assim a nomeiem sem duvida ou embargo algum. Pagou de Direitos de Mercê e addicionaes cento e quarenta e sete mil quatrocentos e vinte reis, como constaou de um recibo de talão numero tres mil cento e sete passado em nove de Junho corrente na Direcção Geral de Thesouraria do Ministerio da Fazeenda, e de um conhecimento em forma numero mil quatrocentos e quatro passado em sete detse mez na Administração Geral da Casa do Moeda e Papel Sellado. E esta Carta, que será publicada no Diário do Governo, é passada em dois exemplares, um dos quaes depois de registado nos livros da Camara Municipal de Guimarães e no Governo Civil do Districto de Braga, servirá para título daquella Corporação, e o outro será depositado no Reall Archivo da Torre do Tombo. dada no Paço das Necessidades em vinte e dois de Junho mil oitocentos cincoenta e tres.Raynha D. M.."
D. Afonso (Elvas, 19 — 23 de Julho de 1382) foi filho de D. Fernando I de Portugal e de D. Leonor Teles de Menezes.
Nasceu na alcáçova do Castelo de Elvas, por ocasião de o monarca português se ter deslocado àquela vila com sua esposa e com o seu conselho, por altura da III Guerra Fernandina em que se envolvera com João I de Castela.
Viria a falecer com apenas quatro dias de vida, correndo histórias várias sobre a sua morte. Uns dizem que se ficou a dever ao tempo abafado que se fazia sentir no Alentejo em pleno Verão; outros (como relata o cronista oficial e guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes) diziam que o rei D. Fernando, suspeitando da infidelidade da sua esposa, julgara que o infante era filho do conde de Ourém, João Fernandes Andeiro (que era voz pública ser amante da rainha), e teria, por isso, movido pela raiva, sufocado o jovem D. Afonso no berço. O cronista afirma ainda que a Corte só se vestiu de luto para não chocar o rei, visto que a maior parte dos cortesãos achava que Afonso não seria filho d'el-rei.
Com a morte do infante, voltava a ser herdeira a única filha lídima e sobreviva do rei, D. Beatriz, então com nove anos de idade, a qual se casaria com o rei de Castela em Maio do ano seguinte, prenunciando, assim, o início da crise de 1383-1385.
“[…] ao sabado foram pousar a Ellvas, que eram seis dias do mes de julho. […] A rrainha, que andava prenhe, avendo treze dias que alli estava, pario hũu filho, e mostrou el-rei mui gram prazer e aquelles que da parte da rrainha eram; e acabados quatro dias morreo: e por sua morte tomarom todollos grandes, que com el-rrei estavom, capas de burell por doo, mais por seguirem voontade d'el-rrei, que por entenderem que era seu filho, ca muitos presumiam que era filho do conde Joham Fernandez, dizendo que el-rrei, por seer adoorado [cheio de dores], aviia tempos que nom dormia com a rrainha; e outros que sse mais estendiam a murmurar, deziam que el-rrei por esta rrazom ho afogara no collo de sua ama. […]”
D. Beatriz de Portugal (ou D. Brites de Portugal, Coimbra, Fevereiro de 1373 — Toro, após Junho de 1412 ou entre 1419 e 1420), que veio a ser rainha consorte de Castela, foi filha do Rei D. Fernando I de Portugal e de sua mulher, a rainha D. Leonor Teles.
A Rainha que não foi Rainha de Portugal:
No início de 1383 a infanta D. Beatriz era a única descendente do rei D. Fernando, já então muito doente, após a morte prematura dos seus irmãos mais novos D. Pedro em 1380 e D. Afonso em 1382. Como herdeira do trono, o seu casamento aparentemente iria decidir quem havia de ser o sucessor de D. Fernando.
D. Fernando arranjou e cancelou o casamento de Beatriz por diversas vezes, até que finalmente, tentando evitar que um príncipe castelhano, D. Fernando, filho segundo do rei de Castela, lhe sucedesse no trono por força do tratado de Elvas, pensou encontrar a solução, por mais estranho que nos pareça, no casamento da sua única filha e herdeira com o próprio rei João I de Castela. Viúvo desde o ano anterior de uma princesa aragonesa, João de Castela aceitou, crendo que lhe estava aberta a via para anexar o reino de Portugal ao de Castela e Leão. O respectivo tratado de matrimónio e sucessão no trono de Portugal foi negociado em Março de 1383 em Salvaterra de Magos, e a cerimónia final do casamento teve lugar a 17 de Maio de 1383 na cidade fronteiriça de Badajoz. D. Beatriz tinha então apenas 10 anos e cerca de 3 meses de idade.
Porém o tratado de Salvaterra de Magos não reconhecia como soberanos plenos João I de Castela e Beatriz, e reservava o trono de Portugal para um hipotético neto do rei D. Fernando, o qual, três meses após nascer, seria trazido para Portugal e aqui criado sob a tutela dos avós ou de quem eles nomeassem, caso viessem a falecer quer antes quer depois do nascimento do dito neto ou neta.
Os reis de Castela e Leão só tinham, pelo tratado de Salvaterra, à morte do rei D. Fernando, direito a intitularem-se rainha e rei de Portugal e às rendas e frutos do reino, depois de pagas todas as despesas que se costumavam de ter no tempo do pai de Beatriz. Teriam apenas direito ao título de reis numa situação precária de fideicomisso (a respeito do título real) e seriam usufrutuários do saldo líquido das rendas do reino (se porventura o houvesse), nem sequer podendo ser qualificados, em rigor, como verdadeiros soberanos nominais, pois que das decisões em Portugal não cabia apelo para a corte castelhana, pertencendo o Regimento (governo) a Leonor Teles ou a quem, em caso de sua morte, ela deixasse nomeado. Mas a novidade maior, no dito tratado, era que os naturais do reino a teriam ou haveriam de tomar por Rainha (a Beatriz). Pasmosamente, os naturais do reino intervêm no tratado (fonte: Provas da História Genealógica, Sousa, A. Caetano).
O rei D. Fernando morre pouco depois, possivelmente tuberculoso, a 22 de Outubro. De acordo com o tratado de casamento, a rainha mãe, Leonor Teles de Menezes, cerca de um mês após a morte de D. Fernando (segundo Ayala e Fernão Lopes), manda aclamar em algumas cidades e vilas a filha como rainha de Portugal, tendo assumido entretanto a regência como «Dona Leonor, pela graça de Deus, Rainha, Governador e Regedor dos Reinos de Portugal e Algarve». No entanto, em Toledo, João I de Castela já se proclamara e fizera aclamar rei de Castela e de Leão e de Portugal, juntando as bandeiras de Castela e Leão e de Portugal numa só, e tentando nomear o fidalgo português Vasco Martins de Melo Alferes-mor de Castela e de Portugal. Vasco Martins não aceita e diz polidamente ao rei castelhano que este não pode juntar o que está separado, ou seja, os dois reinos, e que se o fizer poderá haver uma guerra, e que ele, Vasco Martins de Melo, deve obediência a Portugal. É esta atitude e pretensão de João I de Castela que está verdadeiramente na origem da crise de 1383-1385. É verdade que houve cidades e vilas que se mantiveram indiferentes, e outras que impediram ou repudiaram a aclamação de D. Beatriz como Rainha de Portugal, como foi o caso em Lisboa, Santarém, Elvas e outros lugares, mas os próprios apoiantes mais chegados do Mestre de Avis estavam dispostos a aceitar os termos do tratado de Salvaterra, chegando a propor a Leonor Teles, já depois do assassinato de João Fernandes Andeiro, um curioso arranjo: «que o Mestre casasse com a Rainha dona Lionor» e que os dois fossem Regedores durante a menoridade do futuro filho de Beatriz e de João I de Castela (Crónica de el-rei D. João I, de Fernão Lopes, cap. XXV, edição Civilização). Quem levou o recado a Leonor Teles foram Álvaro Pais, um dignitário burguês extremamente influente em Lisboa, e Álvaro Gonçalves Camelo, um homem das Ordens Militares. Leonor Teles recusou a proposta, contudo o que aqui nos interessa é que tal proposta demonstra a disponibilidade do Mestre de Avis e dos seus apoiantes em aceitar aquela aparente soberania nominal dos reis de Castela. Mas, diz-nos o grande fidalgo e cronista castelhano Pero Lopez de Ayala, João I de Castela não queria saber para nada do tratado de Salvaterra, achando que pelo facto da esposa ser herdeira do trono ele tinha o direito a reinar plenamente sobre Portugal. Decide então entrar em Portugal pela Guarda nos finais de Dezembro de 1383, numa nova violação do tratado de Salvaterra e ainda antes de saber que o Mestre de Avis em Lisboa fora aclamado Regedor e Defensor do Reino.
Estando na Guarda, em Janeiro, João I de Castela recebe cartas de Leonor Teles a contar-lhe o sucedido e a pedir-lhe que venha a Santarém em seu socorro. A Rainha regente, entretanto, em meados de Dezembro, mandara finalmente aclamar a sua filha Beatriz (fonte: Crónica da Regência e do Reinado de D. João I, capítulo 67) por todo o reino como rainha e senhora de Portugal. Aqui as posições de ambos os partidos já se extremaram. João I de Castela e muitos dos seus fidalgos, não querendo cumprir de modo nenhum o tratado de Salvaterra, preparam-se para remover o que pensam ser o último obstáculo, a regência de Leonor Teles. Do lado dos partidários do Mestre de Avis, vendo que o rei castelhano não está disposto a contentar-se com uma pretensa soberania nominal, perdem-se as esperanças num qualquer entendimento na base do acordo de Salvaterra e chega-se à conclusão de que é necessário um novo e efectivo rei português. O Mestre de Avis, bastante menos popular que o seu meio-irmão João, entretanto preso em Castela, pensa então tão-só assumir a Regência e a Defesa do reino que a cidade de Lisboa lhe oferece até que o irmão seja livre e possa reinar em Portugal. A revolta desencadeada pelo pregão que anunciava a aclamação de Beatriz (o pregão dizia que o povo teria de aclamar como sua senhora a rainha de Castela) espalha-se por vilas e cidades. Termina aqui qualquer hipótese de alguma vez Beatriz vir a ser reconhecida pelos portugueses como rainha de Portugal (Crónica de el-rei D. João I, cap. XXVIII, ed. Civilização). Minho e Trás-os-montes estavam então quase completamente dominados por alcaides que haviam prestado vassalagem a João I de Castela ou a Beatriz. Nas Beiras a maioria ficara na expectativa. Na Estremadura e no Alto Alentejo as forças do partido pró-castelhano e do partido nacional equilibravam-se. Quase todo o resto do Alentejo e todo o Algarve eram pelo reino de Portugal. A grande epopeia da luta pela conservação da independência iria começar.
Fim da pretensão à coroa portuguesa:
Entretanto D. João I, antes Mestre de Avis, fora eleito rei de Portugal nas Cortes de Coimbra. Aqui se evidenciou o Doutor João das Regras, que assentou a sua argumentação, contra Beatriz e João I de Castela, principalmente na quebra do tratado de Salvaterra de Março de 1383, e também no facto de serem cismáticos, além de outras razões, que no entanto considerou serem de menor peso. O princípio que João das Regras defendeu e que as Cortes converteram em lei foi o de que, ao violar o tratado, Beatriz e João I de Castela tinham perdido todos os seus direitos à coroa, ou seja, o tratado era superior e anulava os laços de sangue de Beatriz e os direitos por via do casamento de João I de Castela. Quanto a outros pretendentes, os infantes D. João e D. Diniz, João das Regras provou que eles eram ilegítimos exibindo e lendo, entre outras, uma carta do Papa Inocêncio VI que isso mesmo demonstrava.
Esta eleição e a batalha de Aljubarrota puseram, na prática, fim a qualquer hipótese de êxito quanto às pretensões de João de Castela e de Beatriz ao trono português. No entanto elas não desapareceram, e só bastantes anos após a sua morte a paz definitiva entre Portugal e Castela e Leão seria finalmente confirmada, em Medina del Campo, a 30 de Outubro de 1431.
Para as Cortes de Coimbra a única fonte com algum detalhe entre os cronistas é Fernão Lopes, Crónica de el-rei D. João I, caps. CLXXXI em diante. Ver também esta Crónica, na sua 2ª parte, cap. CXCV, quanto à confirmação do tratado de paz entre Portugal e Castela.
Um Real de prata, com a efígie de D. Beatriz. Esta moeda de extrema raridade, batida em Santarém, pretende ser a afirmação dos direitos de D. Beatriz e seu marido D. João I de Castela ao trono de Portugal. Curiosamente, há também um exemplar de um selo de Beatriz que inclui a representação de 7 castelos, tal como é mencionado em Rui de Pina, desde Afonso III.
Últimos anos:
Tendo enviuvado em 1390, D. Beatriz veio a residir em Toro. Aí seria sepultada no convento de São Francisco. O seu falecimento ocorreu já posteriormente a meados de 1412, altura em que temos a certeza que ainda era viva, pois conhece-se uma carta sua a Fernando I de Aragão em que lhe pede ajuda para o restauro daquele convento.
Em 1419 Beatriz enviou através de Juan González de Sevilla, catedrático da Universidade de Salamanca e mais tarde Bispo de Cádiz, uma súplica ao papa Martinho V pedindo favores próprios de alguém que se preparava para morrer. Embora não haja prova documental de quando Beatriz morreu, algumas das suas propriedades foram concedidas ao condestável Álvaro de Luna a partir de 1420, e em junho desse ano a cidade de Toro foi incorporada na Coroa, pelo que é provável que Beatriz tenha falecido entre 1419 e 1420.
Em abril de 1423 firmou-se uma nova trégua entre Portugal e Castela e nela se refere a herança e sucessão de Beatriz.
Tumulo da Rainha Beatriz de Portugal, rainha consorte de Espanha, que se encontra no Mosteiro de Sancti Spiritus, em Toro, Espanha.
Maria, infanta de Portugal (Évora, 6 de abril de 1342 — Aveiro, 137?) era filha de Constança Manuel, de Castela, e de Pedro I, rei de Portugal
Era neta materna de Constança de Aragão e de João Manuel de Castela, príncipe de Vilhena, sendo portanto trineta do rei Fernando III de Leão e Castela.
Em 3 de fevereiro de 1354, em Évora, o seu avô Afonso IV casou-a com o primo afastado Fernando de Aragão (1329-1363), que foi marquês de Tortosa e era quinze anos mais velho do que ela, filho de Leonor, infanta de Castela, e do rei Afonso IV de Aragão). Deste casamento, de que não houve descendência, refere Zurita que "mostró el rey de Aragón mucho descontentamiento y pesar".
Enviuvando em 1363, o rei Pedro IV de Aragão apoderou-se dos domínios do infante Fernando de Aragão (Tortosa, Albarracín, Fraga e outros lugares) e proibiu que Maria voltasse a Portugal, como era sua intenção, enquanto não renunciasse aos bens que pertenciam ao marido. Após uma fuga mal sucedida, Maria foi detida e conduzida à corte, sendo colocada sob custódia de duas damas aragonesas da rainha Leonor da Sicília, apesar dos protestos de Carlos II de Navarra, que a apoiava.
Durante os dez anos anos seguintes (1364-1373) a vida de Maria não deve ter sido fácil em Barcelona. Rodeada por parentes do marido que a odiavam a ponto de quererem matá-la, e que suspeitavam dela a ponto de acreditar que ela seria capaz de usar magia e feitiços contra os seus inimigos, Maria permaneceu privada de liberdade de movimentos.
Durante a sua estada em Aragão, terá recusado a proposta do Papa Urbano V para que casasse com Frederico III da Sicília.
Em 09 de outubro de 1365 ditou o seu primeiro testamento e em 6 de dezembro de 1370 o seu segundo, neste instituindo seu herdeiro universal dos seus bens em Portugal o seu irmão Fernando I.
Por fim, em Barcelona, em 27 de maio de 1373 Maria e Pedro IV chegaram a acordo e, em 13 de agosto desse ano, Maria dispensava vários alcaides do vínculo de homenagem e vassalagem.
Entretanto, no contexto da Primeira Guerra Fernandina (1370), Maria terá diligenciado para que se estabelecesse a aliança entre Aragão e Portugal ("De Valencia fueron por este invierno enviados por embajadores al rey don Fernando de Portugal, don Juan de Vilaragut y un letrado que se decía Bernaldo de Miragle; y llevaban comisión de tratar de matrimonio del infante don Juan duque de Girona con la infanta doña Beatriz hermana del rey de Portugal, el cual ya había movido la guerra contra el rey de Castilla entrando poderosamente por Galicia, pretendiendo que le pertenecía la sucesión de aquellos reinos como a bisnieto del rey don Sancho y nieto de la reina doña Beatriz su hija que casó con el rey don Alonso de Portugal su abuelo. Hizo muy grande instancia porque esta paz y nueva confederación se asentase entre el rey de Aragón y el de Portugal la infanta doña María hermana del rey de Portugal mujer del infante don Fernando marqués de Tortosa que estaba en estos reinos"). De acordo com Zurita, nos termos do tratado de aliança entre os dois reinos, ficariam em Aragão como reféns (garantes) o conde de Barcelos, Martim Garcia e Baltasar de Espinola "ballestero del rey de Portugal".
Maria permaneceu em Aragão, onde em 1370 conheceu o genovês Badasal de Espínola. Fernão Lopes, na Crónica de D. Fernando (capítulo LIV), conta-nos o que aconteceu a seguir: Micer Badasal não se tornou mais para o reino (de Portugal), e a afeição longa que com a Infanta houve, feito gerador sempre de semelhantes frutos, lhe fez com que ela vendesse quantas rendas tinha em Aragão e se fosse com ele para Génova, e depois ele a deixou e ela viveu minguadamente, morrendo mui afastada do que a sua honra pertencia.
Não conhecemos a data da sua morte, apenas podemos deduzir, pelo que Lopes escreveu (a afeição longa), que tal sucesso é bastante posterior a Abril de 1371. Por outro lado, é conhecida uma carta do futuro João I de Aragão para o seu pai, de 1374, na qual acusa Maria de Portugal de ser instigadora da morte da primeira mulher daquele príncipe, pelo que é presumível que nesse ano ainda estivesse viva.
Luís de Portugal (Lisboa, 27 de fevereiro de 1340 – Lisboa, 6 de março de 1340) foi o primeiro filho de D. Pedro I e da sua primeira esposa Constança Manuel.
Constança de Portugal (3 de janeiro de 1290 — 18 de novembro de 1313) foi uma princesa portuguesa, a filha primogénita de Dinis I de Portugal e da Rainha Santa Isabel. Tornou-se rainha de Castela pelo seu casamento com o rei Fernando IV de Leão e Castela, em 1302, como forma de selar definitivamente a Paz de Alcanizes assinada cinco anos antes.
Primeiros anos:
Constança nasceu a 3 de janeiro de 1290, como primeira e única filha de Dinis I de Portugal e Isabel de Aragão. No ano seguinte nasceria o seu único irmão inteiro, o infante Afonso. Tinha, por outro lado, diversos irmãos bastardos, como Pedro Afonso e Afonso Sanches.
Constança foi comprometida com o seu destino desde os 20 meses de idade, uma vez que o tratado recentemente assinado entre o pai de Constança e Sancho IV de Castela, em setembro de 1291, estabeleceu um compromisso entre o herdeiro castelhano, o infante Fernando, à época com cinco anos, com a princesa bebé.
Sancho IV falece a 25 de abril de 1295, acentuando-se uma turbulência política em Castela. Sancho determinara no seu testamento que se devolvessem a Dinis de Portugal as vilas de Serpa, Moura, Mourão, Arronches e Aracena, injustamente arrebatadas a Portugal e se encontravam indevidamente retidas pelos castelhanos. O filho de Sancho contava apenas 9 anos, pelo que a sua mãe, Maria de Molina, se teve de encarregar da regência do Reino. Terminadas as Cortes de Valladolid nesse mesmo ano, a regente, juntamente com o infante Henrique de Castela O Senador, encontraram-se com Dinis I de Portugal em Ciudad Rodrigo, em março de 1300[1], onde a regente entregou várias praças para que cessassem as hostilidades entre ambos os reinos. Foi confirmada a promessa de casamento de Constança com Fernando, e delineou-se ainda o casamento do infante Afonso de Portugal, irmão de Constança, com a infanta Beatriz, irmã de Fernando, estabelecendo-se desta forma uma dupla aliança matrimonial que pretendia selar a paz entre os dois reinos. O Tratado de Alcanizes volta a confirmar o que estava já disposto.
Rainha consorte:
Na cidade de Valladolid, a 23 de janeiro de 1302 Constança, que contava 12 anos, desposou finalmente Fernando, já com 16 anos.
Não demorou muito para que o feliz casal desse à luz o seu primeiro rebento: em 1307, nasce a primeira filha, a infanta Leonor (futura rainha de Aragão). Fernando encontrava-se a cercar Tordehumos, onde se refugiara o nobre rebelde João Nunes II de Lara, e enviou à esposa um pedido para que pedisse um empréstimo monetário ao Rei de Portugal. Nesse mesmo ano de 1307, em novas cortes realizadas em Valladolid, e onde Constança não participou, Fernando tentou acabar com os abusos da nobreza, corrigir a administração da justiça e suavizou a taxa para os castelhanos. No ano seguinte Constança daria à luz outra infanta, à qual deu o seu próprio nome, mas que faleceu com apenas dois anos de idade, sendo sepultada no Convento (hoje desaparecido) de Santo Domingo el Real.
Em abril de 1311, estando em Palência, Fernando IV adoeceu gravemente e foi levado para Valladolid, apesar dos protestos de Constança, que o queria em Carrión de los Condes, uma vez que se aliara a João Nunes II de Lara para o controlar. Durante a doença do rei, emergiram vários conflitos ente João Nunes de Lara, os infantes irmãos de Fernando e João Manuel de Castela. Para piorar o conflito, e ainda com o rei gravemente doente em Toro, Constança dá à luz um varão a 13 de agosto de 1311, em Salamanca, o infante Afonso. Este foi batizado na Catedral Velha de Salamanca, e, novamente contra as palavras do rei, foi entregue, não a Maria de Molina (mãe do rei), mas sim à esposa do rei e mãe do infante, Constança, fazendo-se assim prevalecer a vontade da rainha, que queria dar a custódia ao infante Pedro, senhor de Cameros, e irmão de Fernando IV, sendo apoiada por João Nunes de Lara e Lopo Dias de Haro.
No outono de 1311, uma conspiração tentou depor Fernando IV e levar o seu irmão Pedro ao poder, estando encabeçada pelos apoiantes de Constança (João Nunes de Lara e Lopo Dias de Haro) e ainda o infante João, senhor de Valência de Campos. O projeto não foi avante porque a rainha viúva, Maria de Molina, se recusou a participar em tal ato contra o próprio filho.
Em 1312, fizeram-se uma vez mais Cortes em Valladolid, onde se reuniram fundos para uma campanha contra o Reino de Granada e se reorganizou a administração, tentando o rei reforçar a sua autoridade em detrimento da nobreza, projeto que já fora posto em prática em Portugal, desde Afonso III. Os nobres concordaram com as mudanças de Fernando IV, que estabelecia um pagamento pelo serviços prestados pelos vassalos, com exceção de João Nunes de Lara, que se tornara entretanto vassalo do Rei de Portugal.
A 7 de setembro desse ano falecia em Jaén, Fernando IV, com 26 anos apenas. As altas temperaturas que se faziam sentir nessa altura levaram a agora viúva Constança e o seu cunhado o infante Pedro a sepultar os seus restos mortais na Mesquita-Catedral de Córdova. A crónica de Afonso XI confirma este dado.
Constança presidiu ao cortejo fúnebre que levou o seu falecido marido até Córdova. Constança ordenou a sua sepultura na Capela Maior da Catedral e ainda que seis capelães deveriam orar todas as noites junto ao seu túmulo durante o mês de setembro, como aniversário da sua morte, disposição esta de caráter perpétuo.
Menoridade de Afonso XI de Castela (1312 - 1313):
Quando João de Lara e o infante João de Castela souberam da morte de Fernando, pediram à rainha-viúva Maria de Molina, em Valladolid, para tomar a regência em nome do neto Afonso, por forma a evitar que Pedro a tomasse (uma vez que já o tinham tentado colocar no trono). Contudo, Maria recusou, e pediu aos requerentes que acordassem os termos da regência com Pedro.
João de Lara acabou por tentar raptar o pequeno infante, que se encontrava em Ávila. Contudo as autoridades da cidade pararam-no, avisadas por Maria de Molina. Pouco depois chegavam à cidade a rainha-viúva Constança e o seu aliado o infante Pedro, que também foram impedidos de entrar.
João de Lara e o infante João, uma vez falhado o rapto, convocaram os ricos-homens de Castela em Sahagún, e em simultâneo o infante Pedro, aliado de Constança, obtinha da mãe, Maria, a guarda do infante Afonso. Isto fez com que o infante João tentasse humilhar o que parecia ser o favorito da mãe, mas Pedro tomou armas contra o irmão; o infante João acabou por enviar Pedro ao irmão, o infante Filipe, senhor de Cabrera e Ribera, para que esclarecesse a situação. Os três irmãos entraram em acordo em como se deveria organizar uma regência em triunvirato, encabeçada por Maria de Molina, e os seus filhos Pedro e João (avó e tios do pequeno Afonso). Maria concordou com a ideia.
Morte e sepultura:
A 18 de novembro de 1313, um dia após ditar o seu testamento, onde aponta os seus pais, os Reis de Portugal, como executores a Rainha Constança faleceu em Sahagún com apenas 23 anos, provocando, assim, e finalmente, o acordo entre as fações: o infante João acaba por oferecer à rainha Maria de Molina a guarda do pequeno Afonso XI, e os infantes seriam guardiões do rei nas terras onde assim haviam sido reconhecidos como tal nas Cortes de Palência.
Constança foi sepultada no Mosteiro Real de San Benito in Sahagún, onde Afonso VI de Leão e várias das suas esposas também se encontravam sepultados. Os restos foram depositados num sepulcro, no cruzeiro da igreja do mosteiro, junto às esoas de Afonso VI. A sua tumba acabou destruída durante o incêndio de 1810 no Mosteiro, durante a Guerra Peninsular ou durante a confiscação do mosteiro em 1835.
Apesar de tudo, atualmente os restos mortais de Afonso VI e suas esposas estão depositados nas sepulturas no Mosteiro Beneditino de Sahagún, mas os da rainha portuguesa simplesmente desapareceram. No século XIX, mais concretamente após a Guerra Peninsular, foi esculpida uma lápide que lhe foi dedicada, com o epitáfio:
H. R. CONSTANCIA. R. FERDINANDI. IV UXOR CUIUS. VITAE FINIS DIE XXIII NOV. Aº MCCCXIII
Aquí descansa Dona Constança, esposa do rei Fernando IV. Faleceu a 23 de novembro de 1313.
Casamento e descendência:
Do seu casamento com Fernando IV de Castela resultou a seguinte descendência:
Leonor de Castela (1307-1359), casada com o rei Afonso IV de Aragão;
O conselheiro Luís de Bivar apresentou ao príncipe os Santos Evangelhos para este fazer o juramento.
O Conde de Sabugosa, alferes-mor, teve a missão de empunhar o estandarte real.
Moços Fidalgos: Jorge e Pedro de Mello (Sabugosa), José de Vasconcelos e Sousa (Figueiró), Rodrigo Correia Henriques (Seisal), António de Sousa Holstein (Faial), Ruy de Câmara (Ribeira Grande), José de Sá Pais do Amaral, Francisco de Carvalho (Pombal) e José Telles (Tarouca):
Na cerimónia nas cortes serviram de moços fidalgos, com os seus trajes de gala, seis crianças filhos dos Condes das Galveias, Tarouca e Ribeira, Marquês de Castelo Melhor e D.Vasco da Câmara (Belmonte).
O comandante da guarda real dos archeiros, o Marquês do Faial.
O ministério e o presidente da Câmara dos Deputados, o Conde de Penha Garcia.
Pedro Nunes (Alcácer do Sal, 1502 — Coimbra, 11 de agosto de 1578), com o nome latinizado Petrus Nonius, foi um matemático português que ocupou o cargo de cosmógrafo-mor para o Reino de Portugal. Foi um dos maiores vultos científicos do seu tempo. Contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da navegação teórica, tendo-se dedicado, entre outros, aos problemas matemáticos da cartografia. Foi ainda inventor de vários instrumentos de medida, incluindo o "anel náutico", o "instrumento de sombras", e o nónio (nonius, o seu sobrenome em latim).
Traduziu para a língua portuguesa o Tratado da Esfera de João de Sacrobosco (1537), os capítulos iniciais das Novas Teóricas dos Planetas de Georg von Peuerbach (por vezes referido como Jorge Purbáquio) e o primeiro livro da Geografia de Ptolomeu.
Em 1544 foi-lhe confiada a cátedra de matemática da Universidade de Coimbra, a maior distinção que se podia conferir, no país, à época, a um matemático.
Subsistem ainda hoje dúvidas sobre a origem familiar de Pedro Nunes. Judeu ou não, o certo é que os seus netos Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira foram detidos, interrogados e condenados pelo Santo Ofício, sob a acusação de judaísmo. O primeiro esteve detido de 31 de Maio de 1623 a 4 de Junho de 1631; o segundo, em Lisboa, de 6 de Junho de 1623 a 1632.
A infância de Pedro Nunes é pouco conhecida. Estudou na Universidade de Salamanca talvez de 1521 a 1522, e na Universidade de Lisboa (que mais tarde veio a ser transferida para Coimbra, transformando-se na Universidade de Coimbra) onde obteve a graduação em medicina em 1525.[5] No século XVI a Medicina recorria à Astrologia, vindo assim a dominar as disciplinas de Astronomia e Matemática. Posteriormente prosseguiu os seus estudos de Medicina, mas também leccionou várias disciplinas na Universidade de Lisboa, incluindo Moral, Filosofia, Lógica e Metafísica. Quando, em 1537, a universidade retornou para Coimbra, ele transferiu-se para a refundada Universidade de Coimbra para lecionar matemática, cargo que manteve até 1562. À época, esta era uma disciplina nova naquela instituição, tendo sido criada com o intuito de fornecer as instruções técnicas necessárias para a navegação, que se tornara um tópico vital no país, à época. A matemática tornou-se uma disciplina independente em 1544.
Além de se dedicar ao ensino, foi nomeado Cosmógrafo Real em 1529 e tornou-se o primeiro Cosmógrafo-mor do Reino em 1547, cargo que exerceu até seu falecimento, e onde foi sucedido por Tomás de Orta.
Em 1531, João III de Portugal encarregou-o da educação dos seus irmãos mais novos, Luís e Henrique. Anos depois, foi também responsável pela educação do neto do rei (e futuro rei), Sebastião.
É possível que durante a sua estadia em Coimbra, Christopher Clavius tenha assistido às aulas de Pedro Nunes, sendo assim influenciado pelo seu trabalho.