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A Monarquia Portuguesa

Este blog pretende ser o maior arquivo de fotos e informações sobre a monarquia portuguesa e a Família Real Portuguesa.

Sab | 05.12.20

D.Duarte, Duque de Bragança atribuiu condecorações a individualidades da cultura portuguesa no Palácio Fronteira

Blog Real
Decorreu, hoje dia 5 de Dezembro de 2020, no Palácio Fronteira, em Lisboa, a sessão solene, a atribuição de condecorações por parte da Casa Real Portuguesa, nomeadamente por SAR o Senhor Dom Duarte Pio de Bragança, Duque de Bragança e Chefe da Casa Real Portuguesa, a três individualidades da cultura portuguesa, o actor Ruy de Carvalho, o fadista António Pinto-Basto, e o eterno guitarrista de Amália Rodrigues, Joel Pina.
Foram agraciados com o grau Cavaleiro Grã-Cruz da Real Ordem Militar e Equestre de São Miguel da Ala, pela carreira de mérito ao serviço da cultura em Portugal.

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Fonte: Facebook TV Monarquia Portuguesa

Sab | 05.12.20

Entrevista de D.Duarte, Duque de Bragança ao jornal "Sol"

Blog Real

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D. Duarte lamenta a forma como a pandemia está a ser tratada pelo Governo e chama a atenção para o risco de pobreza estar a aumentar. Apela ao sentido de voto dos portugueses, defendendo que o ato eleitoral devia ser obrigatório, assim como o serviço militar. Aponta também o dedo ao atual estado do ensino. O candidato ao trono recorda ainda a sua infância e juventude, destacando o seu percurso no Colégio Militar e garante que «a formação espiritual fica para toda a vida». Lembra que aprendeu pelo exemplo dos seus pais «o que são as obrigações especiais de estar sempre ao serviço do país e dos portugueses» e que os seus filhos seguiram o mesmo caminho. Chegou a falar com D. Juan Carlos sobre a sua possível vinda Portugal, mas percebeu que Cascais «não resolvia o seu problema de privacidade».

Na sua mensagem tradicional do 1.º de Dezembro critica as medidas do Governo para fazer face à pandemia e diz que ‘o Estado não pode mandar para casa um país inteiro sem garantir as atempadas condições económicas’...

Alerto para alguns erros que foram feitos. Muito mais difícil do que resolver a questão sanitária é resolver a questão económica e a questão da pobreza. Há pessoas que conheço que já estão nessa situação. Muita gente ou porque não tem acesso aos subsídios da Segurança Social ou porque exercia uma atividade independente – e não está diretamente protegida pelo Estado – já está a enfrentar grandes dificuldades económicas. Como é que se pode ajudar a economia e reagir perante esta situação pandémica para que isto não aconteça, para que não haja miséria? Pobreza vai sempre existir, mas devia-se evitar situações de pobreza grave. E depois como é que podemos reagir para repor a economia a funcionar? Devemos ver o que os outros países fizeram para seguirmos os bons exemplos e evitarmos os maus. Houve países que não fizeram confinamento e não se saíram muito pior do que aqueles que o fizeram. Houve países que reagiram antecipadamente, puseram todas as pessoas de máscara, e sobretudo em vez de fechar toda a gente de casa só retiravam de circulação as pessoas de grupo de risco: as pessoas de idade e as que tinham problemas de saúde. Esses é que foram confinados, enquanto os saudáveis continuaram nos seus trabalhos porque realmente não se pode fechar a economia de um país, não é solução. Conheço imensa gente que contraiu a covid e teve sintomas ligeiros, uma febrezinha durante uns dias mas de seguida ficaram bons, mas conheço outros que ficaram realmente aflitos. Há que ser mais seletivo em quem tem de ficar mais protegido e quem não tem.

Mas é uma situação difícil de gerir: não parar a economia mas controlar a pandemia...

Tem de se tirar da circulação as pessoas de risco, que é uma percentagem pequena da população e, em grande parte, são reformados. Se saírem do círculo económico não prejudicam a economia. Há poucas pessoas com 70 anos que ainda estejam em atividade, a não ser na agricultura. Aí há muita gente com essa idade que continua a trabalhar. Mas nessas regiões a probabilidade de serem infetados é menor do que nas cidades. Julgo que houve erros que foram feitos e quem os fez não tinha a experiência na altura para evitá-los, mas não deviam continuar a ser repetidos hoje. Devia-se tentar aprender com o que se passou.

Não há fecho completo dos setores, ao contrário do que aconteceu no início, agora temos outro tipo de restrições...

Fechar os restaurantes às 13h, por exemplo, não sei se fará muito sentido porque as pessoas não vão almoçar mais cedo. Para os restaurantes estas medidas são um desastre. Mas refiro-me mais às atividades produtivas, que produzem produtos transacionáveis, riqueza, e esses se fecharem é mais grave. Deixar de ter produção industrial ou agrícola é fatal. No caso dos serviços, claro que é péssimo, mas pode-se ser mais flexível. Por isso é que defendo que quem devia ficar fechado não são as pessoas que estão a trabalhar mas as que pertencem a grupos de risco ou pela idade ou por fraquezas de saúde. Esses é que deviam ser retirados de circulação e protegidos. Os outros apesar de correrem o risco de ficarem infetados não será tão grave porque os médicos dizem que as estatísticas mostram isso. Normalmente não são hospitalizados e não põem em causa a segurança dos hospitais. Por outro lado, há um bloqueio burocrático para algumas situações. Li que há cerca de dois mil médicos estrangeiros a viver em Portugal que não estão autorizados a praticar medicina porque os seus diplomas são passados por países que não têm acordos de equivalência com Portugal. Faz algum sentido? Um bom médico venezuelano ou cubano ou brasileiro não pode praticar em Portugal quando praticava bem no seu país e é reconhecido pelas universidades desses países? A justificação que dão é que não se sabe se os cursos são equivalentes. Então não os ponham a fazer cirurgias, por exemplo, mas podem perfeitamente tomar conta dos doentes e fazer diagnósticos.

E com a crise pandémica há falta de médicos...

Mas as Ordens dizem, muitas vezes, que há médicos a mais e por isso não querem autorizar os médicos estrangeiros. Se houvesse médicos a mais, os doentes teriam de ficar à espera dez anos por algumas consultas? Não há médicos a mais, possivelmente há é médicos mal distribuídos. Há muitas pessoas que, por não conseguirem ser atendidas pelos médicos do SNS ou da medicina privada, são tratadas por médicos que não estão reconhecidos em Portugal. Os médicos cubanos têm muito sucesso em Portugal. Houve a famosa crise dos dentistas brasileiros. No Brasil tiram formação de dentista, mas são perfeitamente capazes de tratar dos dentes. Se são situações mais complicadas, então mandam para outro. Em Viseu, Nelas, onde acompanhei mais esta situação, são os dentistas brasileiros que tratam da maior parte das pessoas. Não há preconceito por parte da população, até porque são mais baratos.

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Pode ler a entrevista completa na edição impressa do jornal "Sol".

Fonte: https://sol.sapo.pt/

Sex | 04.12.20

Cerimónia da Quebra dos Escudos com as Armas Reais

Blog Real

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A quebra dos escudos, de remota tradição, era uma cerimónia fúnebre que se realizava após o falecimento dos monarcas, como demonstração de sentimento e tinha por finalidade a quebra dos escudos das armas reais, em sinal de luto e de pranto pelo rei falecido, para serem substituídos pelos escudos do monarca sucessor.
A referência mais antiga a esta cerimónia encontra-se nas “Memorias da vida d’el rei D. João I”, falecido em 1433. O Regimento de D. Manuel I, de 1502, regulava no “Capítulo da Pranto” o que o senado devia fazer quando o rei morria e quando era aclamado o sucessor da coroa.
A quebra dos escudos realizava-se principalmente em Lisboa e, com poucas variações, em todas as sedes de concelho do Reino e capitais do Império. Em Goa, houve em 1522 grandiosas exéquias e a quebra dos escudos de D. Manuel I, seguindo-se-lhes a aclamação de D. João III. Organizava-se em desfile público civil, de luto rigoroso, com a participação de fidalgos, cavaleiros e oficiais da Câmara, seguidos de muitas pessoas, pelas principais ruas da cidade. Juízes ou vereadores levavam os escudos das armas reais. Em vários pontos da cidade, cada um deles se erguia sobre um banco negro para fazer a alocução do pranto – “Chorai Portugueses, que faleceu o vosso Rei. . .”–e quebrar o escudo que transportava sobre a cabeça, arremessando-o violentamente ao chão.
Revestiram-se de grande pompa as quebras dos escudos de D. Pedro II (1706), D. José I (1777), D. Maria I(1816) e D. João VI (1826). Embora a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira refira que a última quebra dos escudos se realizou em 1861 (D. Pedro V), a Câmara Municipal do Funchal ainda realizou o cerimonial em 1889, quando faleceu o rei D. Luís.
Em Ponta Delgada, houve pelo menos três cerimónias de quebra dos escudos – no falecimento de D. Maria I, de D. João VI e de D. Maria II.

Sex | 04.12.20

Discursos proferidos pelo Rei D.Pedro V nas sessões solenes de atribuição de prémios na Escola Real de Mafra (1858-1860)

Blog Real

Discurso [de D. Pedro V] pronunciado por ocasião da distribuição de prémios na Escola de Mafra, em 14 de março de 1858 [fl. 2]

Dois anos de existência são entre nós suficiente prova da vitabilidade11 de uma instituição. Quinze dias leva, por via de regra, a envelhecer tudo quanto ao nascer mereceu algum favor pelo simples facto da novidade.

É pois na virtude intrínseca da instituição que devemos procurar as causas da vida, dissemelhante da que arrastam entre nós tantos institutos de igual natureza, que se nota na Escola de Mafra.

Modesta chama, para assim dizer, encarcerada no mais gigantesco dos monumentos, que entre nós deixou um passado, de que tantos ainda não se desacostumaram a afastar os olhos, poderá dizer-se que ela simboliza o futuro, débil e apenas nascido, acabrunhado pelo peso do passado.

E, contudo, se caísse o monumento de pedra que parece indestrutível, o tempo e o bom senso popular poupariam a Escola, que ficaria de pé no meio das ruínas. O monumento deslumbrava, a Escola civilizava instruindo. [fl. 2 v.]

Alguém, porventura, me atribuirá a honra dos resultados até hoje obtidos. A lisonja, que não distingue, passa ao pé do mestre, que colheu os louvores para o fundador, e independente dele vem enfeixar o merecido com o imerecido para lançá-lo aos pés daquele, a quem se crê necessário atribuir o bem, porque se espera dele o benefício.

Antes pois de dizer algumas palavras sobre a natureza desta instituição, definirei o que pertence ao fundador, e o que pertence ao mestre.

Ao fundador pertence o pensamento, bom ou mau, seguindo aqueles que creem ou deixam de crer na utilidade da evangelização do ensino elementar. Construí a máquina, do mestre dependia que ela funcionasse.

Criando a Escola de Mafra obedeci a dois deveres, ou antes obedeci a um só dever, que se divide pelos dois motivos, que poderiam determinar-me a ceder à instrução um aposento em minha casa.

Olhei primeiro para o meu dever, como soberano, e, [fl. 3] sobretudo, para o caráter de permanência da minha pouca invejável autoridade. Julguei que era compreendê-lo o fazer servir a influência, que eu pudesse derivar da minha posição, como soberano, dos meus atos, como homem, em promover os melhoramentos que carecem de uma iniciativa moral, cuja continuidade se quebra tantas vezes pelas mutações da cena política. Entendi que era aplicar bem os meios de ação, que a Constituição deixa ao soberano, o chamar a instrução a criar esse bom senso universal que evita os excessos das paixões populares por uma parte, e por outra os da autoridade soberana, provocadores uns dos outros, e conseguintemente inocentes e criminosos ao mesmo tempo.

Depois, pareceu-me que a civilização bate a todas as portas, e que ela pede esmola a todos. Pareceu-me que o progresso dá obra para todos, e reclamei para mim também o nome de operário. Tantos negam à civilização e ao progresso o seu óbolo e o seu abraço, porque não têm [fl. 3 v.] nem meios nem força para alcançar uma glória que não querem repartir, porque pensam (fatal engano!) que a glória se diminui pela divisão! Esses que ignoram o valor da associação, ainda mesmo associados, seriam incapazes de produzir coisa alguma. Associariam acaso os seus capitais, sem associarem a inteligência, o coração e a vontade. Esquecem que a sociedade é responsável pelos males que sofre, que ela não deveria recorrer ao Estado, quer dizer, à necessidade de pagar o imposto forçado, sem ter pago esse imposto voluntário, cujo emprego o contribuinte tem o direito e a possibilidade de fiscalizar a cada momento.

Julguei que a Escola devia ensinar aos homens a união, ensinando-lhes a necessidade, que eles, qualquer que seja a sua posição recíproca, têm uns dos outros. Julguei que o primeiro passo dado para este fim era fazer com que eles se conhecessem desde a infância, sem que os afastassem as distinções a que tão geralmente se liga a tão funesta ideia de separação. Assim procurei que aqueles [fl. 4] que no mundo acham bastante ocasião de fazer sentir, no que tem de necessário ou de irritante as distinções do nascimento, do acaso ou da fortuna, fossem iguais diante da justiça do mestre e da disciplina escolar.

Considerei as inteligências dos alunos como páginas brancas, entre as quais se distinguiriam aquelas em que mais rapidamente ou melhor pudesse escrever o mestre. Considerei a Escola como uma pequena democracia, do seio da qual a cada momento nasce uma aristocracia. Mas as mesmas distinções, que o merecimento tivesse de criar nela, quis eu que fossem um princípio de emulação, sem jamais se converterem em um princípio de inveja. Por isso são elas o alvo de um constante certame.

Esse fim creio tê-lo alcançado, graças, sobretudo, ao mestre, que compreendeu não somente o espírito da instituição, à qual ele deu vida, senão também o dever de fazer amar e respeitar a sua magistratura sem carecer do auxílio do temor. [fl. 4 v.]

Lembrai-vos, alunos da Escola de Mafra, no decurso da vossa vida, do dia de hoje. Nele criastes a alegria em três espécies de corações, feitos igualmente para senti-la, mas feitos ao mesmo tempo para compreendê-la diversamente - O fundador da Escola pede-vos que não o esqueçais - Vossos pais viram que a índole da organização da Escola, que o seu ensino chamando o espírito a educar o coração, não frustraram a confiança que nela depositaram - Para os mestres, para os que em nome da religião e da ciência substituíram a família no mister da educação, peço a gratidão dos seus discípulos.

Mafra, 14 de março de 1858

D. Pedro V

Discurso pronunciado por S. Majestade El Rei o Senhor D. Pedro V por ocasião da distribuição de prémios na Escola Real de Mafra, em 26 de agosto de 1858, à qual presidiu também S. Majestade a Rainha a Senhora D. Estefânia [fl. 2]

São tantas as razões que podem aconselhar a criação de uma escola, que seria não acabar enumerá-las todas.

Quando, pela última vez, distribuí aos alunos da Escola de Mafra os prémios, que conquistaram com a aplicação e bom comportamento, falei de algumas. Hoje acrescentarei outras, não todas, que não é dado tê-las presentes a um tempo, mas aquelas que me pareceram mais ponderosas.

Para ser sincero direi ainda que não foram estas as que realmente inspiraram o pensamento da criação deste presepe da redenção intelectual das novas gerações, o qual por si pouco valeria se a cegueira de pai me não levasse a crer que ele vale muito pelo espírito da sua instituição.

Mas se as razões de que hoje me ocuparei não têm realmente um direito de paternidade sobre esta Escola, podem elas reclamar o direito de adoção. Por terem vindo tarde, por terem acompanhado a reflexão, não são elas menos fortes que as que se geraram da ideia um pouco vaga, nascida mais do coração que da cabeça, de que era um serviço abrir mais uma escola, sobretudo arrancar ao Estado uma parte desse domínio, que se justifica e ao mesmo tempo se deplora.

As sociedades humanas apresentam-se-nos irremissivelmente debaixo de três aspetos diferentes. [fl. 2 v.]

Vemo-las lutar, pela sua inércia, contra os esforços do poder para lhes fazer aceitar os melhoramentos, reclamados mais ainda pelo parentesco moral dos povos entre si, que pelas necessidades mesmas das sociedades. Esse estado avizinha-se da barbárie, se é que ele não é a barbárie mesma.

Depois, as boas ideias, à força de serem repetidas, começam a ser escutadas, aquilo que anos antes era utopia, subitamente deixa de sê-lo; aceita-se passivamente o que passivamente se rejeitava, e a civilização começa a identificar-se com os hábitos populares, com a índole mesma dos povos.

Como se operam essas revoluções; até que ponto sejam (sic) o resultado da ação do poder, que se envergonha de ficar atrás do seu tempo, ou da sociedade, que começa a sentir esse pudor, que é a maturidade para uma ação mais energicamente progressiva - não é aqui lugar de dizê-lo. Nem seria vergonha ignorá-lo, quando tantos o explicam diversamente.

É difícil discriminar o que, nos resultados da vida social, pertence a cada uma das duas tendências que, nas sociedades que se chamam povos, se digladiam, se exterminam e se vencem temporariamente, e que eternas como a humanidade mesma, renascem quando as crêramos mortas.

De um resultado, cada povo conserva no seu desenvolvimento, [fl. 3] no que chamamos a sua civilização, um caráter de individualidade, diante do qual falha tantas vezes a razão do legislador demasiadamente impaciente. De outro lado, cada povo participa da natureza comum da humanidade, com quem mais frequentemente caminha o legislador. Se a sua natureza própria, por vezes, o conserva no atrasamento, a humanidade o arrasta consigo, e lhe ordena que progrida. Daí os frequentes desacordos entre a condição real dos povos e a civilização que lhes formoseia a superfície; entre a massa que espera mas não crê, e as classes e os indivíduos que creem e esperam.

Ninguém contesta que os esforços, ainda extemporâneos dos governantes por comunicar movimento à inércia mesma, têm por efeito dar à sociedade, no momento da sua maioridade, os instrumentos de transformação que, aliás, ela mesma teria de construir. Não se simulam contudo oficialmente fenómenos da vida social, nem se vacina a civilização em um corpo mal disposto a deixar-se contaminar do bem e do mal que a civilização em si encerra.

O que aqui reconheço como facto, aceito-o facilmente como teoria.

A civilização existe, para mim, no estado em que a sociedade [fl. 3 v.] e o poder contendem entre si para se substituírem e se excluírem mutuamente no cuidado dos interesses da comunidade.

A esse estado desejo que cheguemos, e tenho a simplicidade de acreditar que as escolas - quando as escolas preencherem em Portugal a sua grande missão religiosa, moral e política - hão de formar a sociedade em que eu espero viver os meus últimos dias. Volver-se-iam em consolação os trabalhos, os dissabores (e, ser-me-á permitido acrescentar, as desesperações?) que custa o ser procurador dessas crianças de quem um escritor eminente disse “que já são homens”.

Não sei como se compadeçam o desfavor real, que o ensino popular encontra no fundo das declamações, que lhe prometem nova vida, e a convicção tão universal - tão triste para nós e tão lisonjeira para as que nos hão de suceder - da necessidade de quebrar a continuidade moral entre a antiga e a nova humanidade. E, contudo, essa obra tentada e malograda no século xviii, ou se há de servir da escola primária, ou é mais um desses sonhos desanimadores com que se iludem os homens.

Tentamos, disse eu, o que o século xviii tentara, mas entre uma e outra época a diferença é grande.

Substituímos à filosofia que exalta para abater, a [fl. 4] religião que nos humilha e nos atenta; e em vez de pretendermos comprimir os novos homens nos antigos moldes, entregamo-los às noções despretensiosas com que os lançamos no mundo. Entendemos que instruir é educar, e não nos parece necessário lisonjear pretensões de classes por meio de uma distinção a que não reconhecemos razão de ser. Formando o espírito, formamos o coração, e não nos lembramos de fazer da escola, que instrui com a doutrina um perfeito sucedâneo da família, que instrui pelo exemplo.

Entendemos, e creio que entendemos bem, que pelo que pode ensinar a escola primária começa e acaba a ciência humana e que, nas noções com que daí sai o mancebo, ele encontra - tolere-se a expressão - o gérmen e como que a síntese do que podem ensinar as Academias. Por isso, as boas escolas primárias dispensam, para muitos, as Academias.

Não me compete dizer bem da Escola de Mafra. Eu, que confio na regeneração do povo, que se diz rude, porque ainda não rompeu o invólucro de qualidades puras e nobres, não posso rejeitar os sufrágios que a minha obra recolhe com o número crescente de Alunos. E quando estes por tal forma se encarregam do louvor de seus Mestres, não poderei hoje dispensar-me de repetir o que há meses dizia dos que deram [fl. 4 v.] o ser ao meu pensamento?

Alunos da Escola de Mafra! Foi a Rainha quem desejou distribuir-vos hoje as recompensas que alguma coisa significam, quando tocam a poucos de entre muitos.

Não perdeis em terdes mais uma Mãe que, como as vossas, folga com as vossas primeiras satisfações, satisfações de orgulho, se não vos lembrasse que os talentos são mais acaso do que merecimento.

Mafra, 26 de agosto de 1858

D. Pedro V

Discurso pronunciado por S. Majestade El Rei o Senhor D. Pedro V por ocasião da distribuição de prémios na Escola Real de Mafra, em 26 de agosto de 1860

Num ponto existe verdadeira unidade de pensamento nos que se preocupam com o porvir das sociedades, em se empenharem todos, conquanto diversas se possam considerar as tensões, pelo alargamento da área conquistada pela instrução popular.

Não quisera que concordassem tão facilmente; quisera que a arma não deixasse de denunciar a mão que a maneja, e penso que os princípios, verdadeiros ou falsos, que entre si disputam o governo da educação nacional, ganhariam mais em se definirem com sinceridade que em se matizarem enganosamente, apelando do dia de hoje, que é sempre para o dia de amanhã, que é nunca.

Julgo ter feito bom serviço na instituição da Escola de Mafra. Desejei que fosse norma e exemplo. Melhor serviço entendo ter prestado, mantendo-a neutral no meio das contendas que, do ensino primário e do secundário, tendem a fazer um problema tão delicado e árduo.

Esforçando-me por vencer sucessivamente as dificuldades que, de comum, embargam os primeiros passos a instituições desta natureza, [?] meus quase sempre de si mesmos, não pretendo apresentar isenta de defeitos a minha feitura, ou embargar à crítica o seu voto sobre o verdadeiro valor dos resultados, que de ano para ano parecem afracar.

De uma parte da crítica me encarregarei eu mesmo, que se há faltas a confessar, quase todas se explicam e se desculpam.

Recordarei a origem da Escola, em que se fundiu quase imediatamente a antiga aula régia. Dela recebeu um contingente valioso de alunos medianamente desenvolvidos, e destes saiu, nos primeiros tempos, grande parte dos candidatos às distinções escolares. Esgotada esta camada, que pesava sobre as inferiores, principiou a Escola a operar exclusivamente sobre a matéria rude.

Cumpre em seguida atender à desproporção temporária entre as aspirações do ensino e os meios de realizá-las. Estão irmanados [?] uma unidade que não podia deixar de ser transitória, dois institutos de índole absolutamente distinta - uma escola elementar [fl. 1 v.] e uma escola de segundo grau. Presidiu até agora a ambos um só mestre insuficientemente secundado pelos ajudantes tirados de entre os alunos mais distintos.

Era impraticável o ensino simultâneo, na sua aceção mais rigorosa, com uma população, que raras vezes desceu de setenta alunos, desiguais na idade, tendo de repartir-se por um número excessivo de classes, desde o alfabeto até às noções elementares da geometria aplicada. Era difícil estabelecer o ensino mútuo, defetivo em si, mas necessário nas aulas superabundantemente povoadas, sem que grande parte do tempo se gastasse no lavor incessante de formar decuriões.

Fazer dos decuriões, ao mesmo tempo, um elemento de decomposição do ensino e uma aristocracia amovível completando o sistema disciplinar, são necessidades que, de algum modo, se prejudicam, e que não é de admirar que dessem em resultado o criar uma grande atividade na instrução de uma minoria seleta de alunos em prejuízo do aproveitamento das classes mais atrasadas.

Pode censurar-se o sistema que, em verdade, praticado imprudentemente exporia ao risco de privar mais e mais de uma base sólida a instrução das últimas classes; mas duvido que se possa dizer, sem injustiça, que tenha sido pretexto a preferências menos justificadas. Creio mesmo que, durante o período de instalação, de que apenas acaba de sair a Escola, não se teriam logrado resultados numéricos mais avantajados, sem que decrescesse proporcionalmente a média da instrução individual.

Não tratarei agora de inquirir se numa escola primária se deve olhar menos para a beleza que para a quantidade dos frutos; ou se a sua missão é antes acudir à pobreza de espírito e coração do que ativar o desenvolvimento dos talentos mais salientes. Limito-me a fazer sentir o que tem tido de excecional, até ao presente, a existência da Escola. Tem dado o que devia dar; mas não pode continuar a dar o que deu nos primeiros anos, sem se esquecer da [fl. 2] sua verdadeira destinação ainda mais do que tem sido obrigada a fazê-lo. Não se contentará de ser uma segunda lactação, mas não se lembrará nunca de ser um meio de propaganda. A Escola está ou, pelo menos, deve conservar-se igualmente afastada dessa simplicidade idílica como da utilidade que lhe atribuem as paixões políticas ou religiosas.

Aos pais dos alunos pediria eu que concorressem menos às festividades escolares, nas quais se expõem a dissabores que na sua mão estaria muitas vezes evitar, e frequentassem mais a aula nos dias ordinários; que não contassem só os prémios concedidos ou recusados no fim do ano, mas os títulos que, durante ele, dão direito a essas distinções. Tenho para mim que, se fosse possível recolher os votos das famílias e os dos alunos, estes últimos conhecedores e juízes uns dos outros, absolveriam o magistério das imputações de parcialidade com que se costuma comentar a solenidade que hoje celebramos. Nem todas as queixas supõem razão ou injustiça, e não faltaria a si mesma escola, desatendendo as que procedem de uma apreciação inexata e impaciente das aparências.

Questões de método os resultados, e só os resultados, podem cortá-las. Ora os resultados, até hoje, são satisfatórios, se os compararmos com o que sucede em institutos análogos. Vale sempre o método de ensino o que valer o mestre, e a liberdade em escolhê-lo é das que eu concederia sem repugnância ao ensino público. A regularidade e a simetria, que tantas vezes se confunde com a primeira, são coisas que estimo, mas no seu lugar. Não me parece que possa haver ortodoxia onde há progresso, nem segurança na preferência onde é tanta a incerteza no debate.

Do que venho de dizer não se infira que eu conte entre as justas de vaidades as discussões sobre a excelência relativa dos métodos, ou que a escola deva ter-se indiferente às reclamações que têm por fundamento as pretendidas restrições opostas à concorrência.

Separando de todo os dois institutos, a cujo consórcio forçado aludi [fl. 2 v.]; dando maior largueza à instrução elementar; pondo sobretudo ao ensino os marcos miliários, que hoje lhe faltam, e que digam ao aluno o que lhe é necessário, útil ou supérfluo aprender, entendo que se terá conseguido entrar na ordem e satisfazer os mais exigentes.

Virá desta forma a desdobrar-se o ensino segundo a sua divisão mais racional, interpondo-se de envolta uma barreira necessária entre a instrução primária elementar e a superior.

Distinguem-se, ao mesmo tempo, mais completamente que na atualidade os exercícios de memória, que na instrução da infância são tudo, dos exercícios de raciocínio, que supõem um começo de cultivo intelectual. Sem que haja precisão de alterar por modo sensível os métodos, desvanecer-se-ão assim, penso eu, os inconvenientes da reunião de um número excessivo de funções diversas numa mesma mão. Deixarão umas disciplinas de ser sacrificadas às outras; deixando a escola urbana de absorver a escola rural.

A solenidade que, para Vós, é uma festa, é para mim uma lutuosa comemoração. É hoje o aniversário da única distribuição de prémios a que presidiu a Rainha, a minha companheira, a amiga dos pobres. Nenhuma dor igual à de recordar na desgraça os tempos felizes. Orai pelo descanso de Aquela que fora Vossa protetora, que ontem ainda, flor pendida sobre o sepulcro, folgava com as vossas alegrias como eu sei que folgava.

Mafra, 26 de agosto de 1860

D. Pedro V

Fonte: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-34592018000300254&lng=pt&tlng=pt

Qui | 03.12.20

Somos finalistas no "Blogzillas do Ano"

Blog Real

Foi através da blogger A Lupa de Alguém que fez um comentário aqui no blog, que fiquei a saber que o blog "A Monarquia Portuguesa" tinha sido incluído no concurso dos melhores blogues do "Blogzillas do Ano". Para votarem no nosso blog só precisam de ir aqui e votar no blog através de um comentário.

Obrigado ao  "Blogzillas do Ano" por nos terem incluído neste concurso.

Qua | 02.12.20

Correio Real nº 22

Blog Real
Aqui está a capa do Correio Real nº 22, a revista produzida pela Real Associação de Lisboa para a Causa Real, a ser distribuída nos próximos dias. Deste número com 36 páginas destacamos, além de uma homenagem ao Arqº Ribeiro Telles, uma entrevista concedida pelo Infante D. Diniz, Duque do Porto. Digno de relevo é o ensaio de Nuno Miguel Guedes intitulado “A suspensão da descrença” sobre o semipresidencialismo português, e um revelador artigo sobre o sistema monárquico nos Países Baixos.
Receber o Correio Real comodamente em casa com notícias sobre o movimento monárquico é uma das vantagens de estar inscrito na Real Associação de Lisboa.

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