Adelaide Sofia Amélia Luísa Joana Leopoldina de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg (em alemão, Adelheid Sophie Amelie Louise Johanne Leopoldine von Löwenstein-Wertheim-Rosenberg), princesa de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg (Kleinheubach, 3 de abril de 1831 - Ryde, 16 de dezembro de 1909), era filha de Constantino, Príncipe Herdeiro de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg e da princesa Inês de Hohenlohe-Langemburgo, dois pequenos principados então existentes na Alemanha.
Enviuvou aos 35 anos, professou na Ordem de São Bento, após a educação de seus filhos, tornando-se monja no Mosteiro Beneditino de clausura em Ryde (Ilha de Wight).
Jaz no Panteão dos Braganças, na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, juntamente com seu marido D. Miguel para onde foram trasladados em 1967.
Casou em 24 de setembro de 1851, em Kleinheubach, com o ex-infante D. Miguel de Bragança, de quem teve os seguintes filhos:
Maria das Neves de Bragança (5 de agosto de 1852 - 1941), casada em 1871 com o infante Afonso de Espanha, filho do pretendente João Carlos de Espanha;
Miguel Januário de Bragança (19 de setembro de 1853 - 11 de outubro de 1927), avô do actual duque de Bragança;
Maria Teresa de Bragança (24 de agosto de 1855 - 1944), casada em 1873 com o arquiduque Carlos Luís da Áustria;
Maria José de Bragança (19 de março de 1857 - 11 de março de 1943), casada em 1874 com Carlos Teodoro, Duque da Baviera;
Aldegundes de Bragança (10 de novembro de 1858 - 15 de abril de 1956), casada em 1876 com o príncipe Henrique de Bourbon-Parma;
Maria Ana de Bragança (13 de julho de 1861 - 1 de agosto de 1942), casada em 1893 com Guilherme IV, Grão-Duque de Luxemburgo;
Maria Antónia de Bragança (28 de novembro de 1862 - 14 de maio de 1959), casada em 1884 com Roberto I, Duque de Parma.
Manuel Inocêncio Liberato dos Santos Carvalho da Silva (Santa Isabel, Lisboa, 23 de Agosto de 1802 — Mártires, Lisboa, 11 de Novembro de 1887) foi um músico executante e compositor português. Foi Fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Era filho de um músico da Real Câmara e do Teatro de S. Carlos - Manuel Inocêncio de Carvalho - e de Balbina Hirsch.
Notável compositor, que foi presença frequente no círculo de El-Rei D. Luiz I, fazia espectáculos para a corte.
Foi organista da Casa Real e mestre de música dos infantes da rainha D. Maria II, cargo que acumulou com o de Mestre da Capela Real. Compôs sobretudo música religiosa e duas óperas, «Ignez de Castro» e «O Cerco de Diu». Como reconhecimento, a rainha D. Maria II doou-lhe o piano de cauda Boisselot que Liszt lhe havia oferecido.
No dia 14 de abril de 1887 foi encarregado da direcção do Te Deum que se realizou na capela do Palácio da Ajuda por ocasião do baptizado do Príncipe Real Luís Filipe, filho do Rei D.Carlos I e da Rainha D.Amélia.
Em1823, foi nomeado organista dacapelareal. Residia na Travessa do Corpo Santo, número 10, terceiro andar, onde faleceu aos 85 anos, sendo sepultado em jazigo de família noCemitério dos Prazeres.
Teve nove filhos de Rita Ciríaca Joaquina Chaves da Fonseca e Silva.
A aclamação de D. Maria I enquanto Rainha de Portugal e dos Algarves teve lugar a 13 de Maio de 1777, em cerimónia pública na Praça do Comércio, em Lisboa, cerca de dois meses e meio após a morte de seu pai, D. José I.
A rainha tinha 42 anos, e era casada com o seu tio, D. Pedro III. Foi esta cerimónia a primeira aclamação de uma rainha reinante em Portugal.
Preparativos:
Com a morte de D. José I, em 24 de Fevereiro de 1777, e a subida ao poder de D. Maria, Princesa do Brasil e sua herdeira presuntiva, dá-se início a um período que ficou conhecido como a Viradeira, caracterizado pelo afastamento do Marquês de Pombal, Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino, que concentrava em si grande parte da função governativa. D. Maria desejava uma retoma da influência da Igreja e da alta nobreza sobre o Estado, e a extinção de algumas medidas políticas e económicas de Pombal.
Com efeito, logo após a morte de D. José, o Marquês de Pombal apresentou de imediato a sua demissão, que foi aceite pela rainha por decreto de 4 de Março de 1777.
Nessa altura, uma multidão de "povo miúdo" manifestou-se contra a presença da efígie de bronze do Marquês afixa ao pedestal da estátua equestre de D. José na Praça do Comércio, em Lisboa, clamando que fosse arrancada e atirando-lhe com pedras. O consorte da nova rainha, D. Pedro, temendo que a ira popular estragasse o ambiente de solenidade e de festa durante a aclamação de sua esposa, mandou retirar o retrato de bronze do Marquês e substituí-la por uma outra, politicamente neutra, com o brasão de armas da cidade de Lisboa. Foi esta manobra feita pela calada da noite, no início de Maio, temendo o rei quaisquer incidentes com o povo, contando com a presença de sentinelas nos caminhos que não deixavam passar pessoa ou carruagem alguma. Parece o objectivo inicial ter sido cumprido; o medalhão de Pombal apenas foi reposto a 12 de Outubro de 1833 (data que hoje figura no monumento), pelas mãos do Governo Liberal da Regência de D. Pedro IV.
No dia 12 de Maio, que precedeu a aclamação, um numeroso bando de cavaleiros em cavalos bem ajaezados, vestidos de forma garrida e com muitas plumas nos chapéus, percorreram as ruas e praças de Lisboa, anunciando as festas e convidando o povo a participar nelas. Incentivava-se ainda que todos os moradores da cidade e subúrbios colocassem luminárias vistosas nas suas casas, na noite da Aclamação. O Bando seria, noutras circunstâncias, composto somente pelo Neto e por alguns oficiais da Câmara mas, como o Marquês de Pombal havia exigido um Bando com grande dignidade durante os festejos da inauguração da estátua equestre de D. José em 1775, os intervenientes viram-se na obrigação de renovar esta função com grandeza: era, desta vez, composto por músicos do Regimento de cavalaria do cais; o Neto, vestido ricamente à cortesã; meirinhos de todos os bairros da cidade; pelo Senado da Câmara e os seus Vereadores; desembargadores montados em cavalos de jaezes muito ornados; e inúmeros criados.
Deu-se pela falta, nesta função, do Presidente do Senado da Câmara, o Conde de Oeiras, D. Henrique José de Carvalho e Melo (filho do Marquês de Pombal), que se escusou por motivo de doença.
Construções efémeras:
Incorporada na galeria ocidental da Praça do Comércio (localização que coincidia com o antigo Paço da Ribeira, arrasado no Terramoto de 1755) erigiu-se uma majestosa varanda composta por vinte e oito arcos e, no princípio e fim do seu plano, dois corpos nobres com duas escadas: a da parte do sul para Suas Majestades subirem aos seus quartos, e a da parte do Norte para a nobreza e demais pessoas distintas assistirem ao acto formal. No interior da varanda, um riquíssimo aparato de veludo e carmesim e, toda a cimalha entre as colunas se encontrava guarnecida de festões de seda decorados com franjas e borlas de ouro, dos quais pendiam vinte e três medalhões com imagens dos "Imperadores e Reys q̃ a Fama decanta mais gloriozos em acções heroicas".[4] O longo tecto da varanda era revestido a seda encarnada, interposta de nove painéis com molduras de veludo carmesim, nos quais figuravam alegorias da "Magnanimidade", "Liberalidade", "Sabedoria", "Autoridade", "Magnificência", "Piedade", "Religião", "Prémio", e "Amor da Virtude", todos eles guarnecidos com passamanes de ouro. Sobre a varanda contavam-se vinte e uma janelas decoradas com cortinas e sanefas de veludo carmesim, com galão e franjas douradas, e em cujos parapeitos se encontravam enfeites do mesmo estilo. O pavimento da varanda era todo coberto com catorze alcatifas francesas de padrão axadrezado, "todas ricas na qualidade e formosas no desenho, e com arte dispostas, e reunidas, enobrecião a sua grandeza por serem diverças na beleza das cores, e viveza dos matizes". O pavimento formava seis degraus suaves, no topo dos quais se armou o Trono Régio, encostado à parte do Sul, de frente para a entrada principal na parte Norte. O espaldar e dossel eram decorados com recamo de ouro sobre assento carmesim, condizentes com as sanefas. A armação do espaldar e dossel era em talha dourada, e tinha por cima uma Coroa Imperial, sustentada por dois Génios, e adornada de troféus e insígnias militares. Neste plano superior estavam as duas cadeiras utilizadas para entronizar D. Maria e D. Pedro: de feitio semelhante, com almofadas iguais ao dossel (carmesins com recamo de ouro), armação trabalhada em talha dourada e, no topo das costas, com dois Génios sustendo uma Coroa. Os tronos estavam cobertos com um grande véu carmesim, bordado e guarnecido com estrelas e renda de ouro. Dos dois lados do Trono haviam duas portas, recobertas por reposteiros de veludo carmesim, guarnecidos com galão e espiguilha de ouro. No ângulo esquerdo do Trono, uma mesa coberta pelos quatro lados com um pano de brocado de ouro com uma pequena franja nas extremidades; sobre esta mesa repousavam a Coroa e o Ceptro, num grande prato de prata lavrada e sobredourada. Num outro prato semelhante encontrava-se um Crucifixo, também de prata sobredourada, e um Missal com encadernação de veludo carmesim ornada com broches, chapas de prata dourada e as Armas Reais e as da Santa Igreja de Lisboa. Ainda nas proximidades do trono encontravam-se acomodações para a Marquesa de Vila Flor (camareira-mor) e mais damas de companhia da rainha, e uma outra mesa para os dois Notários Públicos Reais presenciarem e formalizarem o Auto do Levantamento e Juramento. Por cima, do mesmo lado esquerdo, situava-se a Real Tribuna, ornada e revestida com cortinas e sanefa de brocado de ouro com franjas nas extremidades, de onde assistiram a Princesa do Brasil D. Maria Francisca Benedita e as Infantas D. Maria Ana Vitória e D. Maria Ana. Na mesma tribuna também assistiu ao acto a Rainha Mãe, oculta do público por cortinas, por respeito ao luto do seu marido.
O espaço até então ocupado pelos Tribunais (temporariamente deslocados para outras dependências) encontrava-se transformado em acomodações para a Família Real, tendo-se procedido à abertura de novas portas e divisão de compartimentos já existentes para criar novas salas. A nova disposição do espaço imitava em tudo um Paço Real, com uma Sala da Guarda Real, uma Sala dos Porteiros da Cana, uma Grande Sala do Dossel, uma Sala das Audiências, e uma Real Antecâmara que conduzia a oito quartos, todos estes profusamente decorados com grandes panos de rás, alcatifas da Índia, e cortinas de damasco. Na sala de jantar destinada à Família Real, preparou-se "hũa Meza com a maior grandeza, e luzimento", e foi nesta ocasião que a Baixela Germain (encomendada a François-Thomas Germain por D. José) foi usada pela primeira vez.
Para que se pudesse celebrar a Missa votiva do Espírito Santo, foi erguida uma igreja de madeira no local da antiga Basílica Patriarcal de Lisboa (destruída em 1755). No interior, o tecto era em abóbada de berço e "primorosamente guarnecido com pinturas", o pavimento coberto em alcatifas, e o pórtico decorado com damasco carmesim. Do lado do Evangelho erguia-se uma tribuna para D. Mariana Vitória, a Rainha Mãe e, do lado da Epístola, uma tribuna para o grande coro dos Músicos da Capela e órgão. Não faltava ainda, a sul, uma torre, onde se colocaram sinos que tinham pertencido à Patriarcal, e que se tinham salvo do terramoto.
As cerimónias:
Para o dia da Aclamação foi escolhido o 13 de Maio, uma terça-feira, dia de culto de Nossa Senhora dos Mártires, a quem foi dedicada a primeira freguesia de Lisboa imediatamente após a reconquista da cidade aos Mouros, em 1147.
Por volta das dez horas teve início a Missa na igreja de madeira, presidida por D. Tomás de Almeida na capacidade de Principal Decano da Igreja Patriarcal (a Sé Patriarcal encontrava-se vacante desde a morte do Patriarca D. Francisco I, no ano anterior), invocando-se o Espírito Santo "para ilustração dos novos Monarchas em o acerto do bom regimen do seu Reino".
A Família Real — a Rainha, o Rei, os Príncipes do Brasil D. José e D. Maria Benedita, as Infantas D. Maria Ana e D. Maria Ana Vitória e o Infante D. João, futuro rei, nomeado para a ocasião Condestável do Reino — chegaram por volta das 11 horas. D. Mariana Vitória, a Rainha Mãe, chegou um pouco mais tarde. As Reais Pessoas foram então encaminhadas para a igreja de madeira, onde deveriam render graças diante do altar: foram colocadas, para esse efeito, almofadas para os joelhos, e substituídos o dossel e frontal do altar (de tecido carmesim por outros brancos com renda dourada).
Entretanto, os regimentos de Infantaria, com novas fardas, espalharam-se pela zona para manter a ordem. Na Praça do Comércio, formaram-se em batalha, de frente para a Varanda, o Regimento de Guarnição da Corte, o Primeiro Regimento da Armada, o Regimento da Guarnição da Corte, e o Regimento de Peniche. Ainda junto à Varanda se formaram os soldados da Guarda Real. Nas entradas para o complexo palaciano, duas Companhias do Regimento de Infantaria de Lippe. No Rossio e na Praça do Pelourinho estavam grandes destacamentos de Cavalaria, dos três regimentos que guarnecem a Corte. Nas praças da cidade, acumulava-se uma grande multidão de populares.
Saindo da igreja, a Família Real dirigiu-se ao Palácio para jantar. Pelas 4 horas da tarde, a comitiva régia dirigiu-se para a Varanda da Aclamação, que dava para a Praça do Comércio.
A Rainha D. Maria envergava um manto de tafetá tecido com fio de prata, recamado de lantejoulas, canutilhos e palhetas douradas; o peitilho do vestido era guarnecido com flores de brilhantes. Envergava ainda a Cruz da Ordem de Cristo, em diamantes, pendente da sua fita encarnada. Na cabeça, tinha um toucado coberto de diamantes, imitando uma Coroa Imperial. Sobre o vestido, seguro por duas presilhas de brilhantes, o Manto Real era de volante carmesim com fios de prata, com uma cauda de 22 palmos de comprimento (cerca de 4,5 metros) adornada nas extremidades com renda de ouro; era todo ele decorado por 120 castelos com as quinas reais, bordados a fio de ouro. O Rei D. Pedro vinha vestido de veludo cor de fogo bordado a lantejoulas e canutilhos, botões de diamante, e punhos de renda. O espadim e as fivelas eram de ouro, guarnecido de brilhantes. Pendia-lhe dos ombros uma opa roçagante do mesmo comprimento e decoração do Manto de D. Maria, mas em lhama de prata recamada de ouro; na presilha que a segurava, três grandes brilhantes, e uma Cruz de Cristo em diamante. Trazia ainda, sobre a cabeleira, um chapéu desabado dos dois lados adornado com plumas brancas, com botão e presilha de diamantes.
O cortejo régio constituia-se da seguinte forma: primeiro, os Porteiros da Cana (uns com as canas nas mãos, outros com as maças de prata aos ombros); depois, os Reis de Armas, Arautos e Passavantes com as suas cotas de armas. Seguiam-se os Moços da Câmara, e os Moços Fidalgos; o Dr. José Alberto Leitão, Fidalgo da Casa de Sua Majestade e Corregedor do Crime da Corte; e, depois, todos os Grandes e Títulos (Barões, Viscondes, Condes, Principais, Bispos, Arcebispos, Marqueses) com os Oficiais da Casa Real no meio; a seguir os ministros e secretários de Estado (o Visconde de Vila Nova da Cerveira, Martinho de Melo e Castro, e Aires de Sá e Melo); o Duque do Cadaval; o Patriarca-Eleito D. Fernando de Sousa e Silva, Capelão-mor; o Conde de Óbidos, Meirinho-mor; o Conde de São Lourenço, Alferes-mor do Reino; o Infante D. João, que fazia a função de Condestável do Reino; o Conde de Vale de Reis, Gentil-homem da Câmara do Rei; o Príncipe do Brasil e seu Camarista D. Francisco Xavier de Meneses Breyner. Atrás vinha o Rei D. Pedro III, acompanhado do seu Estribeiro-mor, D. Pedro da Câmara, que lhe segurava a cauda da opa roçagante e, do seu lado esquerdo, o Conde da Ponte, seu Mordomo-mor. Do lado direito do rei, vinha a Rainha D. Maria I, com seu Mordomo-mor D. João, seguida pela Marquesa Camareira-mor, D. Mariana de Mendoça (filha do terceiro Conde de Vila Flor), que lhe segurava a cauda do Manto Real; do lado esquerdo da Rainha, o Marquês de Tancos, servindo de Camareiro-mor. Seguiam-se no cortejo várias damas de companhia, filhas dos Grandes do Reino.
Quando a Rainha entrou na Varanda, soaram charamelas e trombetas, timbales e clarins, e os Regimentos na Praça fizeram as devidas continências, apresentando armas durante toda a cerimónia. Todos os presentes assistiram a esta função de pé, e descobertos.
Chegados os reis diante do Trono, D. Pedro tirou o chapéu saudando a Princesa do Brasil e as Infantas, que ocupavam a Tribuna acima deles. O Conde da Calheta, enquanto Reposteiro-mor, descobriu as duas cadeiras; os reis sentaram-se e foram imediatamente auxiliados pelos seus Camaristas, que lhes compuseram as caudas dos Mantos Reais. Logo a seguir, o Marquês de Tancos entregou à Rainha o Real Ceptro de ouro esmaltado, num grande prato de prata dourada.
Em seguida, o Rei de Armas Portugal, António Rodrigues de Leão, exclamou "Ouvide, ouvide, ouvide, estai atento!", e deu-se a palavra ao Dr. José Ricalde Pereira de Castro, Desembargador do Paço, que proferiu um extenso discurso exaltando as virtudes da Rainha e do falecido monarca D. José. No fim do discurso, o Conde da Calheta pôs aos pés da Rainha uma almofada de lustrina carmesim e, diante dela, uma cadeira rasa coberta por um pano de seda, sobre a qual o Patriarca-Eleito colocou o Missal aberto e sobre ele o Crucifixo. Posto isto, ajoelhou-se diante da Rainha, juntamente com o Bispo de Elvas à sua direita e o Bispo de Penafiel à sua esquerda. A Rainha levantou-se e, ajoelhando-se sobre a almofada, pôs a mão direita sobre o Missal e Cruz e repetiu o Juramento que lhe ia ditando o Secretário de Estado do Reino, Visconde de Vila Nova da Cerveira, também ajoelhado:
“
Juro e prometo, com a graça de Deus, vos reger e governar bem e direitamente, e vos administrar direitamente Justiça, quanto a humana fraqueza permite; e de vos guardar vossos bons costumes, e privilégios, graças, mercês, liberdades, e franquezas, que pelos Reis meus predecessores vos foram dados, outorgados, e confirmados.
”
Feito o Juramento, a Rainha tornou a sentar-se e o mesmo fez o Rei que se havia levantado e descoberto. Desta vez cumpria aos presentes fazer o Juramento, preito e homenagem à Rainha; ajoelhados de frente para o Trono, repetiam, com a mão direita no Missal e Crucifixo, a fórmula que lhes era lida pelo Visconde Secretário de Estado:
“
Juro aos Santos Evangelhos tocados corporalmente com a minha mão, que eu recebo por nossa Rainha e Senhora verdadeira e natural, a Muito Alta e Muito Poderosa, a Fidelíssima Rainha Dona Maria Primeira, Nossa Senhora, e lhe faço preito e homenagem segundo o foro destes Reinos.
”
Depois de jurarem, subiam o estrado, beijando a mão da Rainha, e depois a do Rei. O primeiro a proferir o Juramento foi D. José, Príncipe do Brasil — após o qual o Alferes-mor do Reino, Conde de São Lourenço, se apressou a desenrolar a Bandeira Real. Seguiu-se o Juramento do Infante D. João (que celebrava nesse dia o seu 10.º aniversário; tendo sido dispensado por decreto da Rainha da Lei da Menoridade para que pudesse jurar). Em seguida, juraram o mordomo-mor da Rainha D. João, do Duque do Cadaval, proferindo, sumariamente, "Eu assim o juro e prometo." Depois, o Rei de Armas indicou que os restantes presentes deveriam vir proferir o Juramento pela ordem em que se encontravam, sem terem de observar precedências.
Acabada a cerimónia, foram retirados o Crucifixo, o Missal e as almofadas, e a Rainha declarou aceitar os juramentos, preitos, e homenagens que lhe haviam feito. Ouvidas estas palavras, o Rei de Armas Portugal disse em voz alta "Ouvide, ouvide, ouvide, estai atento!" e o Alferes-mor do Reino, Conde de São Lourenço, disse, com a Bandeira Real desenrolada: "Real, Real, Real, pela Muito Alta, Muito Poderosa, a Fidelíssima Senhora Rainha Dona Maria Primeira, Nossa Senhora!". Esta proclamação foi repetida, em voz alta, para o Povo que ocupava a Praça do Comércio, que rompeu em altos vivas e expressões de alegria, aclamando a Rainha. Ao mesmo tempo, repicaram os sinos das igrejas e retumbaram salvas de tiros do Castelo de São Jorge, a quem correspondiam as naus de guerra e navios mercantes fundeados no Tejo com iguais estrondos.
O Rei e a Rainha desceram do Trono e mostraram-se ao povo junto à colunata da Varanda. O delírio entre o povo foi tal, que alguns chapéus chegaram a entrar na varanda. Saíram da Varanda para a Real Capela para o acto de Acção de Graças. O Principal Decano saiu da Sacristia já paramentado de Pontifical para o Te Deum (que havia sido composto por David Perez); reverenciaram, em seguida a Relíquia do Santo Lenho, e lançaram água benta à Rainha, ao Rei, aos Príncipes, e aos Infantes, e foi-lhes dada a triplicada Benção Pontifical.
A Família Real retirou-se para o complexo palaciano, finalizando as cerimónias, por volta das 7 horas e 50 minutos da tarde. Pelas 10 horas da noite, a Família Real deu um passeio de coche pelas ruas da cidade, que se encontravam enfeitadas com candelabros, velas, fogaréus, tochas e archotes, se bem que o vento que se fez sentir desfez algumas das luminárias, como as da Praça do Comércio. A iluminação e decoração da casa de Jacob Pedro Estraus, que imitava um Palácio com uma galeria onde tocava uma orquestra, e com um sol que deitava raios de luz, foi a mais opulenta, detendo-se diante dela a Família Real para melhor admirar o espectáculo.
As construções efémeras (a Varanda, o complexo palaciano na ala oeste da Praça do Comércio, e a Capela Real) estiveram patentes durante oito dias; passado este tempo, tudo foi desmontado e retirado. Seria esta a última cerimónia de Aclamação com tamanha ostentação realizada em Portugal; instaurada a Monarquia Constitucional, todo este aparato perdeu o sentido.
Retratos de Isabel Isabel de Bragança diz que é muito paciente. As obras da casa de São Pedro de Sintra ainda não acabaram mas já deram à casa um ambiente familiar e organizado. O aquecimento central não está a mais numa casa de chão de pedra e madeira, em dois andares agora redivididos. "Se calhar a casa era espartana e eu tornei-a mais cómoda", concede a Duquesa.
A porta da rua está aberta e no escritório ouve-se o barulho das correrias do príncipe D. Afonso, a brincar no piso de cima com o seu cavalinho. Mas as mudanças que a casa de São Pedro conheceu não ficaram por aí e Isabel de Bragança passeia-se por elas com um à vontade bem sustentado.
"O meu marido ajudou-me muito. Quando casei com ele sabia muito bem o género de vida que me esperava, conhecia a vida de outros Príncipes da Europa, muito mais difícil que a nossa. E antes de resolver casar demorei um ano a decidir se teria estaleca e capacidade para aguentar algumas coisas." Para trás ficou aquele dia em que Isabel de Herédia e o Duque de Bragança fizeram um pacto que iria para além da lealdade. A menina de seis anos que Dom Duarte ensinou a nadar em África lembra-se bem do dia em que, devia ter 16 anos, lhe fez um qualquer reparo. Ele agradeceu e confessou-lhe que ela era das poucas pessoas com coragem de o contrariar. "Sabe, é que sempre houve muitas coisas que nunca lhe diziam, era só salamaleques pela frente e críticas pelas costas", afirma a duquesa, ainda ressentida. A união com o amigo da família, vinte e um anos mais velho, não era previsível e nem mesmo o astrólogo Paulo Cardoso, autor do mapa astral que lhe foi oferecido por uma das tias, previu o desenlace. O casamento parece ter trazido popularidade e um acréscimo de credibilidade a D. Duarte. D. Isabel é sincera e contida na resposta.
"A recuperação da causa monárquica pode ter tido a sua explosão com o casamento mas foi o resultado do trabalho de uma vida inteira do meu marido, do seu serviço em várias causas. Não só a de Timor, a mais conhecida, mas a de muitas outras ligadas ao antigo Ultramar, à nossa língua e património. Uma coisa é certa, graças ao lado cor-de-rosa do casamento, que não deixou ninguém indiferente, o interesse pelas suas posições e actividades aumentou." Publicamente, a sua intervenção tem sido deliberadamente remetida para segundo plano, o que "faz parte da minha personalidade, sou mais de bastidores", justifica. O que não significa que a duquesa não interfira nas decisões mais importantes, nem que seja pela troca de ideias constante com o marido, o que lhe criou mesmo algumas hostilidades junto de alguns dos conselheiros mais próximos de Dom Duarte, que esperavam dela um maior alheamento. Todas as manhãs a Duquesa segue a agenda do marido e lê os jornais: o Público, o Correio da Manhã e O Dia.
Sinto as aclamações como uma confirmação de que há um lado monárquico dentro do Ser português, apesar de em alguns de nós isso ser mais evidente do que noutros.
As acusações da excessiva interferência e protagonismo da duquesa nos assuntos do gabinete da Casa Real, trazidas à imprensa pela última direcção, revelaram a influência da duquesa. Para a Duquesa de Bragança, a questão central reside na diferença "entre o trabalho de um ministro e o de um representante de uma casa real, em que não se dissocia a mulher do marido". Parece-lhe portanto legítimo querer ser consultada quando os assuntos se relacionam com ela "e apenas nesses".Seja como for, a Duquesa pensa pela sua própria cabeça, graças a Deus. E interpreta a empatia geral com que foi criada, incluindo com republicanos. "O nosso país vive uma certa angústia com esta entrada na União Europeia, sente-se o medo do país se desfazer e por isso mesmo as pessoas agarram-se a nós no sentido em que se identificam com esta família em que há uma mãe, o pai, os príncipes."
A esta popularidade não terá também sido alheia a presença regular em revistas ditas populares, para surpresa de alguns monárquicos e regozijo da Duquesa, que pensa que "o Rei quando é Rei é-o de todos os portugueses e não só de elites".
As aclamações com que o povo os brinda constantemente são sentidas por Isabel de Herédia como a confirmação de que os portugueses são, mais ou menos compulsivamente, monárquicos. "Há um lado monárquico dentro do Ser português, apesar de em alguns de nós isso ser mais evidente do que em outro", afirma. Quanto a Isabel de Herédia as suas convicções são tão feitas de intuições como da mais pura das racionalidades. "Neste momento o maior argumento a favor da monarquia é sobretudo a consolidação da identidade nacional, a única defesa possível face ao continente de Federações que a União Europeia preconiza. Aliás basta pensar nos Estados Unidos para perceber que os americanos só conhecem os países da Europa que têm reis - desses conhecem a capital, a localização." A propósito da ameaça da transformação de Portugal numa nova região de Espanha, trazida a lume pela imprensa, esta parece-lhe um claro sintoma dessa crise de identidade nacional. "Foram os jornalistas que primeiro perceberam a forma como os espanhóis estão a tomar conta de tudo e a angústia que os portugueses sentem por isso. Não penso que os espanhóis se atrevam a juntar um novo problema ao dos bascos e catalães, mas penso que o simples levantar desta questão prova que não está a ser feita a necessária defesa da nossa identidade".
Neste momento o maior argumento a favor da monarquia é sobretudo a consolidação da identidade nacional, a única defesa possível face ao continente de Federações que a União Europeia preconiza. Não dever favores a ninguém é um estado de graça que Sua Alteza aprecia também devidamente. "Um Rrei que não é de nenhum partido é uma vantagem incomparável. Por mais imparcial que um presidente pretenda ser, é sempre eleito por um partido e sofre pressões", diz, corroborando uma das principais espinhas atravessadas nas gargantas republicanas. A função de representatividade do rei também parece estar condignamente assegurada por Dom Duarte e sua mulher, já que Dona Isabel frequentou a melhor sociedade europeia antes de se casar e ambos têm tido, nos últimos tempos, um treino "semi-oficial" difícil de igualar. Estranhamente, enquanto o apoio do povo aos duques não tem parado de crescer desde que a noiva real levantou o véu e se mostrou à multidão que a aguardava, a esquerda portuguesa tem ela mesmo sido particularmente simpática com o casal real. "A nossa posição supra-partidária faz com que os partidos não temam apoiar-nos. Até as câmaras comunistas nos fazem festas vistosas, com a bandeira da monarquia içada." Apesar da "angústia" que sente dominar o país a, nossa Rainha acredita ainda que Portugal pode vir a dar novos mundos ao mundo. "É essencial investir na educação e formação, precisamos de operários qualificados. Precisamos de ter todo o cuidado para evitar que não tomem conta de nós, não digo os espanhóis, mas as economias mais fortes." Religiosa como D. Francisca de Orleãs e Bragança, Dona Isabel tem charme e simplicidade, talvez com menos glamour do que queríamos mas com mais elevação do que sonhávamos. E depois tem a coragem de dizeralto e bom som que muitas vezes na História tivemos a mão de Nossa Senhora da Conceição por nós, de dizer caridade em vez de solidariedade social, de dizer sidosos em vez de doentes com sida, de ser directa e chamar as coisas pelos nomes, mesmo correndo o risco de ser politicamente incorrecta. Acima de tudo, é realmente uma boa mãe e quem fica indeciso entre gostar dela ou detestar qualquer coisa de retrógado que paira na sala acaba por se render. A família não é, para Dona Isabel, uma rede sem a qual se possa viver. A relação entre a Duquesa e os restantes Herédias continua a ser muito próxima. A influência da mãe junto da Duquesa é reconhecidamente muito forte e os irmãos, que se falam diariamente , estão juntos quase todos os fins-de-semana. "O período em que estivemos no Brasil reforçou os laços familiares. Sentimo-nos emigrantes, o que criou uma grande cumplicidade entre nós", confessa. Isabel de Herédia é grande devota de Nossa Senhora e particularmente de Nossa Senhora da Conceição, "a rainha de Portugal". Da mãe, Raquel de Herédia, herdou a religiosidade e o conhecimento da vida dos santos. A infanta Maria Francisca foi consagrada a Nossa Senhora da Conceição, enquanto o príncipe da Beira foi especialmente entregue aos cuidados de Nossa Senhora da Oliveira.
Isabel diz-se conservadora e as alas monárquicas mais liberais consideram-na um pouco retrógada. "Sou mais conservadora do que o meu marido, que por vezes é demasiado imprevisível para quem espera que ele siga rígidos protocolos e planos estratégicos", confessa. Na altura do referendo sobre o aborto, a duquesa de Bragança não se absteve e tomou uma posição inequívocamente contra. Desagradam-lhe também as posições feministas. "A simples ideia da igualdade do homem e da mulher é, em si, um erro. Eles são iguais nas suas diferenças. O que deve haver é igualdade de oportunidades." É especialmente dura com as mulheres que dão prioridade às suas carreiras profissionais negligenciando os filhos. A vida da Duquesa, que ela sabe que muitos pensam ser "rodeada de criados de libré", é a de uma mãe de família e mulher de trabalho, apesar de ter deixado os escritórios da empresa de gestão financeira em que colaborou até pouco depois do casamento. Uma decisão tomada quando percebeu como era importante reorganizar o escritório do marido, levar para a frente as obras da casa de São Pedro e tratar do considerável património imobiliário do casal real. As más línguas monárquicas, sempre blasé, dizem que Isabel gosta da vida de Duquesa. Ora ainda bem, que Rainha que se preze precisa de vocação. "Digo sempre que me tornei numa sintrense, adoptei esta aldeia em que as pessoas se cumprimentam na rua. De manhã levo o meu filho ao Colégio das Doroteias do Linhó, volto e vejo com o meu marido como é o programa do dia. Faço ginástica três vezes por semana durante a hora de almoço e da sesta das crianças. Marco as reuniões para a tarde, recebo algumas pessoas e trabalho com as associações a que me dedico".
Acompanha ainda frequentemente o senhor Dom Duarte nas viagens a todo o país. Os convites para visitar os países com os quais Dom Duarte desenvolve relações têm-se também sucedido. Este Verão o casal visitou Macau e o Brasil (Estado de Minas Gerais), tendo sido recebido pelos respectivos governadores. Os Infantes, como quaisquer outras crianças, ficaram entregues aos avós. A influência de Dona Isabel fez-se sentir também na escolha do colégio do Infante, mas a alternativa do Colégio Militar, particularmente grata a Dom Duarte, não está posta de lado. "Tudo depende da personalidade da criança. O meu marido adorou a experiência do Colégio Militar, mas já para o meu cunhado D. Miguel a adaptação à rigidez do colégio foi mais difícil. Para já, fica no Colégio das Doroteias, com o qual tinha uma ligação especial por ter lá andado e com o qual estou satisfeita." Quanto à educação dos Príncipes, Dona Isabel esforça-se para que eles aprendam a viver com a constante observação de que são alvos. "A maior parte dos membros das famílias reais são muito tímidos, no fundo porque são observados desde que nascem. Os nossos filhos vão ter que aprender a lidar com isso, faz parte da vida deles e do treino que eles precisam para o futuro". Da vida da princesa Diana pensa que ficará para a História sobretudo a sua colaboração com as associações humanitárias. "A atenção que ela deu à caridade vai ficar ligada à sua recordação. Depois dela muitas pessoas despertaram para problemas escamoteados. O que não significa que as outras pessoas da família real inglesa não estivessem ao serviço de boas causas mas como era mais mediática uma maior divulgação do seu trabalho." Depois de Diana, não só as princesas deste mundo descobriram as associações humanitárias como as associações humanitárias as descobriram a elas. Em Portugal a Duquesa de Bragança tem sido solicitada sobretudo por problemas ligados à infância. Mais de uma dezena de causas, entre as quais a luta contra a trissomia 21, a miostemia gravis e a esclerose múltipla, estão entre as causas que a duquesa escolheu apoiar. "Escolho as causas mais carenciadas e com menos apoios. Penso que problemas como o da sida, que conseguiu o envolvimento de muita gente, não precisam tanto de mim. Só indirectamente apoio os sidosos, através do trabalho de frei Elias, que proporciona o acolhimento aos doentes em estado terminal." Vulgarmente a sua colaboração é dada estabelecendo pontes e contactos, angariando roupas, remédios, e até mesmo arriscando conselhos de gestão e organização. "Costumo dizer que, desde que me casei e me envolvi com as instituições, me tornei uma pedinte", diz ela, sorridente. No norte do país a Duquesa vai agora consagrar-se à terceira idade e a assegurar o futuro das crianças deficientes, que têm uma esperança de vida cada vez mais longa devido aos progressos da ciência. "Mas Mateus, Mateus, primeiro estão os teus". A minha maior responsabilidade é a minha família. Não posso querer ajudar incontáveis instituições, estar a propagandear um exemplo e não dar às crianças a assistência que elas precisam. Neste momento não posso permitir-me um maior envolvimento nestas causas.
Acredito que todos nós no mundo temos uma missão. Qualquer que seja. A minha é a de formar os nossos filhos e fazer deles duas pessoas saudáveis. Rezo todos os dias para saber cumpri-la. Uma outra evidência é a de que a Duquesa elegeu outra zona de influência que não a das toilettes e colunas sociais. "Não gosto de estar sempre a mudar de roupa e quando encontro alguma coisa que me fica bem uso-a muito, costumo dizer que que já anda sozinha. O que deixa os jornalistas e algumas pessoas muito tristes. Mas a verdade é que tenho a vida muito complicada e sobra-me pouco tempo para dedicar a estes assuntos." Na verdade, a Duquesa não tem por detrás de si nenhuma consultora de imagem, apesar de ainda poder contar, esporadicamente, com os conselhos da costureira Laurinda, que fez o seu vestido de noiva. Normalmente faz as compras como a mais comum das cidadãs, outras vezes recorre a costureiras e ainda outras vezes, quando a falta de tempo é mesmo manifesta, vale-lhe a mãe. "Confio no seu bom-gosto, sabe o que é bom e o que me fica bem e tem paciência para fazer uma primeira ronda pelas lojas. Depois só preciso de ver se gosto e provar". A roupa demasiado pesada para a sua idade tem sido também notada, um pouco como aconteceu nos primeiros anos de casada da princesa Diana.
"Este eventual envelhecimento da minha imagem talvez seja inconsciente, por ter casado com um homem mais velho. E depois fiquei grávida, o que não se pode dizer que é muito elegante nem permite que se usem todos os modelos. Por outro lado, com o nascimento das crianças engordei bastante, o que não ajudou muito." Mas a verdade é que os portugueses parecem ter sido conquistados por esta Senhora que defende as suas crenças e estão ansiosos por ver como serão os seus filhos. Aqueles que ela considera serem nada menos do que a sua missão neste mundo. "Acredito que todos nós temos uma missão. Qualquer que seja. A minha é a de formar os meus filhos e fazer deles duas pessoas saudáveis. Rezo todos os dias para saber cumpri-la. Revista "V" de Janeiro/Fevereiro de 1999
O Beato Fernando de Portugal, dito o Infante Santo (Santarém, 29 de setembro de 1402 – Fez, 5 de junho de 1443) era o oitavo filho do rei João I de Portugal e de sua mulher Filipa de Lencastre, o mais novo dos membros da Ínclita Geração.
Era senhor da vila de Salvaterra de Magos e seu termo, com as jurisdições e padroados pertencentes à Coroa, tudo de juro e herdade. e para seus descendentes, por mercê de seu pai, feita na data de 21 de Agosto de 1429.
Foi educado com extremos de afecto, porque parecia ao princípio extraordinariamente débil e de pouca vida, mas nem, por isso foram menos perfeitos e cultivados o seu espírito e o seu carácter. Era ardentemente religioso, mas sem extremos supersticiosos.
Empregava o tempo que lhe restava das suas práticas religiosas, em obras de piedade o no cuidado de sua casa e bons costumes dos domésticos, e na decência da sua capela, a qual enriquecia, apesar de ter rendimentos inferiores aos dos irmãos, de todos os paramentos, e fazia celebrar os ofícios divinos com magnificência.
Por morte de João Rodrigues de Sequeira, foi-lhe dado o cargo de perpétuo administrador e governador da ordem de Avis, e dispensado para o ter, como teve em comenda, por bula de Eugénio IV, do ano de 1434. Este mesmo pontífice lhe mandou oferecer o capelo de cardeal pelo geral da ordem camaldulense, abade de Santa Justina de Pádua, D. Gomes Ferreira, núncio deste reino, o que ele recusou por humildade.
Contava já 34 anos nesta virtuosa quietação, mas como o seu ânimo não era menos cobiçoso de glória, nem sentia menor valor para adquirir, a exemplo dos irmãos, um nome honroso na milícia, e para acrescentar mais seu estado, intentou sair do reino e ir a Inglaterra convidado das promessas de seu tio, Henrique IV, porém conhecendo o esforçado coração do infante D. Henrique, seu irmão, com que sempre zelava e procurava grandes empresas, determinou passar com ele a África sobre a cidade de Tanger, e obtendo licença do rei D. Duarte, seu irmão, que ao principio tentou dissuadi-lo daquele propósito, preparou-se para a expedição.
A armada saiu do porto de Lisboa em 22 de agosto de 1437, comandada pelo infante D. Henrique. Chegados a Tanger, e preparado o nosso exercito, os moiros atacaram em tão grande numero, socorridos dos reis de Fez, Belez, Tabilote e de Marrocos, que, apesar de ao princípio se pelejar denodadamente, vendo-se em evidente risco de todos se perderem, foram obrigados a render-se e a capitular, ficando o infante D. Fernando no poder dos bárbaros, de quem furiosos se apoderaram em 17 de outubro do mesmo ano, com quatro fidalgos e alguns criados que se ofereceram a acompanhá-los.
Primeiro foi encerrado numa torre, onde esteve alguns dias, depois o transportaram para Arzila, e ali sofreu muitas afrontas e impropérios dos moiros durante 7 meses sucessivos. No fim deste tempo, vendo o senhor de Tanger, Zalá Benzalá, que de Portugal tardava a resolução das capitulações e a entrega da praça de Ceuta, que nelas se havia tratado, considerando o cativo seu, o fez passar a Fez no fim do mês de maio, entregando-o prisioneiro a Lazaraque, o moiro mais desumano e mais bárbaro, que então se conhecia.
Encerrado numa estreita masmorra carregado de ferros, sofreu fome e sede, e dali saía obrigado a exercer as mais vis ocupações: limpar cavalos, varrer as estrebarias, a trabalhar na horta cavando, com o que trazia as mãos em chagas, etc.
O infante sofria todos os tormentos com resignação e constância, e do seu cativeiro escrevia a seu irmão, o rei D. Duarte, aconselhando-o a que não entregasse a praça de Ceuta, que era mais importante do que a sua vida.
Este rigoroso cativeiro ou mais propriamente martírio, durou quase seis anos, até que faleceu.
Os últimos quinze meses que viveu; passou-os encerrado numa escura casa contígua à latrina do alcaçar, sem ter com quem falasse nem a quem se pudesse queixar.
Sendo conhecida a sua morte, Lazaraque mandou embalsamar o corpo, e para maior desprezo e afronta para com o infeliz prisioneiro, o fez pendurar nu das ameias da muralha junto duma porta da cidade, atado pelas pernas com a cabeça para baixo; ali se celebraram jogos e festas em sinal de triunfo.
Passados quatro dias foi metido num ataúde de madeira, e pendurado por cadeias sobre a mesma muralha, onde esteve muitos anos, até que no tempo de D. Afonso V, seu sobrinho, foi trazido a este. reino, não concordando os cronistas no ano, nem a forma como veio transportado. Esteve depositado em Lisboa no convento do Salvador, e dali se transferiu para o convento da Batalha com grande pompa, sendo acompanhado pelos prelados e grandes do reino, ficando na capela de D. João, seu pai, num tumulo de pedra, levantado como o do seus irmãos. Tem um altar particular onde se celebrava missa todos os dias.
No retábulo está retratada a sua imagem com os grilhões, e nos vários sucessos de seus trabalhos. O infante D. Henrique também o mandou pintar no seu altar pela muita devoção que lhe consagrava. Sobre o seu túmulo está a sua estátua, em pedra.
João de Portugal (Santarém, 13 de Janeiro de 1400 – Alcácer do Sal, 18 de Outubro de 1442) foi um infante de Portugal da dinastia de Avis, filho do rei D. João I e de sua mulher, a rainha Filipa de Lencastre. Foi o sétimo filho dos seus pais.
Foi 3.º Condestável de Portugal, sucedendo a Nuno Álvares Pereira e ainda 1.º Senhor de Reguengos, Colares e Belas.
João era culto, sensato e deixou poucas obras escritas. Para João, os muçulmanos deviam combater-se pelos Evangelhos e não com a espada, posição que defendeu em 1432, sendo contra a guerra em Marrocos.
Há historiadores de arte que defendem que é uma das personagens presentes nos enigmáticas Painéis de São Vicente de Fora.
Biografia:
Tornou-se administrador da Ordem de Santiago, em 18 de outubro de 1418, sendo o 10.º Mestre da Ordem.
Em 1424, João casou com a meia sobrinha Isabel de Barcelos, filha do conde de Barcelos, Afonso, seu meio-irmão e neta do anterior condestável.
Durante o reinado de D. Duarte, João juntou-se ao irmão Pedro, duque de Coimbra na contestação à expedição a Tânger que haveria de acabar em desastre, ficando o irmão Fernando, cativo. Defendeu nas cortes de Leiria em 1438 a entrega de Ceuta.
No início do reinado do seu sobrinho Afonso V de Portugal, a regência do reino foi entregue a Leonor de Aragão, a rainha mãe. Esta decisão testamentária do falecido rei provocou contestação popular e ameaças de motins em Lisboa. Foi João que se instalou na capital, para evitar uma rebelião. As Cortes de Torres Novas de 1438, entregaram a regência à rainha e ao infante Pedro.[5] Depois, recusando as ofertas de aliança de Leonor e Afonso, Conde de Barcelos (o futuro Duque de Bragança), defendeu a realização de cortes para nomear o irmão Pedro, duque de Coimbra, novo regente, nas cortes de Lisboa de 1439.
O infante D. Pedro, já no cargo de regente, nomeia o irmão defensor da região de Entre-Tejo-e-Guadiana para onde a rainha e seus partidários se tinham refugiado após as últimas cortes. Pairavam ainda ameaças de invasões castelhanas para apoiar D. Leonor. O infante D. João desempenha um papel crucial nas acções de cerco ao castelo do Crato, onde se encontrava a rainha. Esta acaba por abandonar o país (em dezembro de 1441) e refugia-se em Castela onde acabará por falecer.
Após a morte, o seu filho Diogo sucedeu-lhe nos títulos e cargos.
Descendência:
Do seu casamento com Isabel de Barcelos nasceram os seguintes filhos:
Diogo de Portugal, condestável de Portugal (1425-1443);
Isabel de Portugal (1428-1496), casada com o rei João II de Castela e mãe da rainha Isabel a Católica;
Beatriz de Portugal (1430-1506), casada com o príncipe Fernando de Portugal, duque de Viseu, foi mãe do rei D. Manuel I e da rainha Leonor;
Filipa de Portugal (1432-ca.1450), 1ª Senhora de Almada.
Isabel de Portugal (Évora, 21 de fevereiro de 1397 — Dijon, 17 de dezembro de 1471) foi uma princesa portuguesa da dinastia de Avis, única filha do rei João I de Portugal e de sua mulher, Filipa de Lencastre.
Segundo alguns historiadores de arte é uma das personagens representadas num dos "Painéis de São Vicente de Fora" e para esses é a senhora mais velha que está naquele que é chamado de "Painel do Infante".
Família:
Era irmã do Infante D. Henrique (mais conhecido, internacionalmente, como Henrique, o Navegador), de D. Pedro, Duque de Coimbra, de D. Duarte, rei de Portugal, sucessor de seu pai, do infante D. João e do Infante D. Fernando capturado em Tânger (1437) e ali mantido prisioneiro até à sua morte em Fez em 1443.
Biografia:
Isabel nasceu em Évora e passou a sua juventude na corte em Lisboa. Após a morte da mãe, herdou os seus bens e viveu no palácio de Sintra.
Era muito culta: lia e falava várias línguas. Traduzia para português romances de cavalaria e poemas escritos em francês ou alemão. Também fazia bordados e tapeçarias.
Em 1430, casou-se com Filipe III, Duque da Borgonha, com quem teve 3 filhos: António e José (que faleceram durante a infância) e Carlos, o Temerário. Isabel foi sua terceira e última esposa, pois antes fora casado com Micaela de Valois, princesa de França, e Bona de Artois.
Antes de casar, Filipe enviou uma embaixada a Portugal. Veio o pintor Jan van Eyck, encarregado de pintar o retrato de Isabel. O casamento foi feito por procuração em Lisboa, em 29 de Julho de 1429. Partiu para Ecluse, chegando em 6 de Dezembro, sendo o casamento aí ratificado em 10 de Janeiro de 1430.
Após o casamento, em homenagem a Isabel, Filipe decidiu criar a ordem de cavalaria do Tosão de Ouro que adotou a seguinte divisa: «Antre n'array Dame Isabeau Tante que vivray», que significa: não terei outra enquanto viver a dama Isabel. Máxima que não conseguiu cumprir.
Com o nascimento do filho Carlos, Isabel decidiu ser ela mesma a amamentar, desconfiada das amas-de-leite a quem atribuiu a morte dos outros filhos.
Isabel era uma mulher muito refinada e inteligente, que gostava de se rodear de artistas e poetas, e foi uma mecenas das artes. Também na política exerceu a sua influência sobre o filho e, em especial, sobre o marido, que representou em várias missões diplomáticas, nomeadamente em casamentos entre várias casas reais da Europa.
Foi muito respeitada na época, sendo chamada de A Grande Dama ou A Grande Senhora.
Ajudou os comerciantes portugueses estabelecidos em Bruges, na Flandres.
Por sua influência que os Açores se tornaram residência de inúmeras pessoas de origem flamenga, a partir de 1449.
Após a morte de seu irmão, infante D. Pedro, na batalha de Alfarrobeira, interveio junto de seu sobrinho D. Afonso V e do papa (1450), a favor da memória do irmão e dos filhos dele. Na altura, enviou a Portugal para o efeito o embaixador especial Jean Jouffroy, com a incumbência de protestar, junto do sobrinho, contra o tratamento que foi dado aos restos mortais deste infante e contra a perda de bens e direitos dos filhos do ex-regente e, em particular, contra a situação de prisioneiro em que se encontrava um deles, D. Jaime, então com 15 anos.
No seguimento destas diligências D. Isabel acolhe (1450) na sua corte os seus sobrinhos Jaime, João e Beatriz, todos filhos de D. Pedro. A protecção e apoio que lhes vai prestar permitirão que atinjam lugares de muito destaque. Assim Beatriz casa (1453) com Adolphe de Cléves, senhor de Ravenstein e sobrinho de Filipe o Bom. João é armado cavaleiro da ordem do Tosão de Ouro e, através das negociações em que intervieram os duques, casa com Charlotte de Lusignan, filha herdeira do rei de Chipre. É-lhe dado o título de príncipe de Antioquia, vindo a falecer envenenado passados dois anos (1457). Finalmente o sobrinho Jaime recebe uma esmerada educação tendo sido enviado para Itália para seguir a carreira eclesiástica onde é promovido a cardeal com apenas 23 anos. Foi ainda arcebispo de Lisboa e bispo de Arras tendo falecido (1459) ainda jovem aos 26 anos.
Ofereceu à Sé de Braga o túmulo de bronze que guarda as cinzas do seu irmão Afonso, morto na infância. Terá igualmente ofertado uma pintura, atribuída a Van der Weyden, que seria colocada junto aos restos mortais dos seus pais na capela do Fundador no Mosteiro da Batalha. Também terá oferecido ao seu irmão, o rei D. Duarte, um magnífico Livro de Horas actualmente guardado na Torre do Tombo em Lisboa. De assinalar ainda a participação no financiamento das obras monumentais da capela e do túmulo, situadas em Florença, onde foi sepultado o seu sobrinho, o cardeal D. Jaime. E terá eventualmente sido a patrocinadora, se não a única pelo menos a mais importante, da execução dos referidos Painéis. Tal como, contribuído decisivamente para a concepção do tema principal deles.
Com sessenta anos, retirou-se para um convento-hospital que tinha fundado, tratando de pobres e doentes. Quando adoeceu o marido, voltou a Bruges para cuidar dele e levou o filho Carlos a fazer as pazes com o pai.
Ao ficar viúva, presidiu ao conselho de estado e passou a usar o traje das freiras da Ordem de S. Francisco de Assis.
Álvaro da Silva e Menezes (c. 1505 - 1 de Janeiro de 1580), conde de Portalegre, foi um nobre português e figura cimeira da corte durante o século XVI. Nascido na primeira nobreza do Reino de Portugal, D. Álvaro da Silva era filho do Mordomo-mor D. João da Silva, conde de Portalegre e de D. Maria de Menezes, neta dos Duques de Bragança.
Conselheiro de Estado, mordomo-mor do rei D. Sebastião e do cardeal rei D. Henrique Era filho do 2.º conde de Portalegre, D. João da Silva Meneses, e de sua mulher D. Maria de Meneses.
Casou duas vezes: a primeira com D. Filipa de Vilhena, sua prima, filha de D. Rodrigo de Melo, conde de Tentúgal e 1.º marquês de Ferreira, e de sua primeira mulher, D. Luísa de Almeida. Casou segunda vez com D. Maria da Cunha, filha de Nuno da Cunha, senhor de Gestaçô e Panóias, e governador da Índia. Deste matrimónio não houve filhos, e do primeiro só teve um único, D. João da Silva, que não chegou a herdar a casa nem o título, por falecer antes de seu pai, em Coimbra em fevereiro de 1573. D. João da Silva casou com D. Luísa de Albuquerque, filha única e herdeira de António de Brito, governador das Molucas, de quem não teve secessão. Casou em segundas núpcias com D. Maria da Silva, filha de Garcia de Almeida, comendador de Sébal, da Ordem de Cristo e primeiro reitor da Universidade de Coimbra. D. Maria da Silva era dama da rainha D. Catarina, mulher de D. João III. Foi sua filha e herdeira D. Filipa da Silva, que casou com D. João da Silva, o qual por este casamento ficou sendo o 4.º conde e alcaide-mor de Portalegre.
Filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre, o infante D. Henrique nasceu na cidade do Porto a 4 de março de 1394 e faleceu a 13 de novembro de 1460.
Ficou conhecido por o Navegador, mas foi-o de terra firme. O seu epíteto advém da forma como protegeu e instigou as primeiras viagens expansionistas, ficando para sempre ligado a este glorioso período da História de Portugal, sendo decisiva a sua ação no Norte de África e no Atlântico.
A sua obra já era de então conhecida na Europa, como atesta uma carta escrita pelo sábio italiano Poggio Bracciolini ao Infante, em 1448-1449. O letrado italiano compara os seus feitos aos de Alexandre, o Grande, ou aos de Júlio César, enaltecendo-os ainda mais por serem conquistas de locais desconhecidos de toda a Humanidade.
D. Henrique era um homem muito poderoso, como o atesta o título de Infante, que usava em detrimento de duque. Seguindo a tradição da época, recebeu uma educação exemplar, mas profundamente religiosa. A sua moral enquadra-se dentro do moralismo puritano inglês, que se revela também nos escritos de seu pai e de seus irmãos, preocupados em emitir juízos morais e em dar conselhos. Também ele deixou conselhos escritos e um breve tratado de teologia.
De entre os inúmeros cargos que exerceu foi "protetor" da Universidade de Lisboa, isto é, o procurador da instituição junto do rei, cargo de grande prestígio atribuído pelos reis apenas a figuras de grande importância social. Da sua ação dentro da Universidade destaca-se a renda que concedeu ao curso de Teologia. Fica ainda a dúvida sobre uma provável instituição da cadeira de Matemática ou de Astronomia, atribuição ligada a toda a mitologia criada em torno da sua pessoa.
Na verdade, o seu interesse pela navegação terá permitido patrocinar uma escola de cartografia, trazendo de Maiorca um judeu chamado Jaime, conhecedor da ciência. Contudo, nada aponta ainda para o uso de instrumentos de navegação astronómica e para a invenção da carta plana, instrumentos depois necessários nas navegações atlânticas, nem para a existência de uma grande escola em Sagres. Tudo isto faz parte da auréola que se foi criando à sua volta.
De facto, aquilo que sabemos desta personagem enigmática foi-nos deixado por Gomes Eanes de Zurara, na Crónica da Guiné, onde o Infante é exaltado de forma quase sobrenatural ("príncipe pouco menos que divinal"). O cronista traça o seu retrato psicológico dando grande ênfase às suas qualidades virtuosas e pias, como a castidade e o facto de não beber vinho. Segundo o seu relato, D. Henrique não era avarento, era um trabalhador aplicado, que para dedicar o tempo necessário aos seus projetos suprimia as horas de repouso noturno. O seu feitio obstinado revela-se na teimosia em manter Ceuta, ainda que o preço a pagar tenha sido a liberdade do seu irmão, D. Fernando, depois cognominado popularmente de "Infante Santo".
A D. Henrique se devem feitos como a tomada de Ceuta em parceria com seu pai e irmãos, embora também tenha participado no desastre de Tânger; a armada das Canárias; a guerra que os seus navios faziam aos infiéis, principalmente piratas; o povoamento das "descobertas" ilhas Atlânticas, particularmente notável na Madeira. Foi ele quem mandou vir da Sicília a cana-de-açúcar e os "técnicos" para supervisionarem o seu cultivo e a sua transformação, fazendo da Madeira uma importante região produtora de açúcar.
A sua figura foi guindada à galeria dos heróis nacionais entre finais do século XIX e princípios do século XX, inserindo-se numa corrente nacionalista que desejava "reaportuguesar" Portugal. Aquando do centenário do seu nascimento, a cidade do Porto, liderada pela voz de Joaquim de Vasconcelos, tomou a iniciativa das comemorações de forma a rivalizar com a celebração lisboeta do centenário de Camões. A ideia era equiparar o espírito da cidade à coragem, energia e iniciativa do Príncipe Navegador, erguendo-lhe uma estátua e atribuindo o seu nome a uma rua. Este mesmo espírito nacionalista levou a que muitos artistas o retratassem e o esculpissem, ou que a ele dedicassem obras, como a de Manuel Barradas, segundo o qual o "Infante fora grande por ser a encarnação fanática de uma ideia".
Outro facto que contribuiu para a sua notabilidade foi a divulgação, por Joaquim de Vasconcelos, dos painéis de S. Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves, onde o artista português Columbano identificara uma das personagens como sendo o Infante. O homem do chapeirão aparece também no manuscrito da Crónica da Guiné, de Zurara, conservado na Biblioteca de Paris, o que reforça esta ideia. Assim, o Infante D. Henrique passa a ser uma das personagens de eleição do nacionalismo português, que dominou durante o Estado Novo, representando a coragem, o dinamismo e o espírito empreendedor do povo português.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Mosteiro da Batalha.