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A Monarquia Portuguesa

Este blog pretende ser o maior arquivo de fotos e informações sobre a monarquia portuguesa e a Família Real Portuguesa.

Qui | 30.09.21

Biografias - Fernando de Portugal, Duque de Viseu

Blog Real

Fernando, Infante de Portugal (Almeirim, 17 de novembro de 1433 — Setúbal, 18 de setembro de 1470), Infante de Portugal, 1.º Duque de Beja, 2.º Duque de Viseu, 2.º Senhor da Covilhã, 1.º Senhor de Serpa e Moura, 6.º Condestável de Portugal, 12º Mestre da Ordem de Santiago e 10º Mestre da Ordem de Cristo. Irmão do rei D. Afonso V de Portugal, foi um exímio militar, aventureiro e navegador português que dirigiu e apoiou várias expedições.

Era filho do Rei Duarte I de Portugal e Leonor de Aragão.

O cavaleiro valenciano Joanot Martorell dedica-lhe o seu romance épico Tirant lo Blanch.

Em 1452, Fernando saiu do reino sem autorização do seu irmão, o rei D. Afonso V procurando aventuras. Segundo uns, pretendia combater os mouros nas praças portuguesas do norte de África; outros diziam que o objectivo era juntar-se a seu tio materno, o rei Afonso I de Nápoles, nas campanhas no sul de Itália, uma vez que Fernando tinha a esperança de poder vir a herdar aquele reino dado que o tio não tinha filhos legítimos.

Contudo, o seu irmão D. Afonso V, assim que soube da fuga de Fernando, deu ordens ao Conde de Odemira, que comandava a frota portuguesa que patrulhava o estreito de Gibraltar, para interceptar o infante e escoltá-lo de regresso a Portugal.

Casou-se com a sua prima, Beatriz de Portugal, filha do seu tio João, Infante de Portugal, em 1447.

Deste casamento resultaram nove filhos, dos quais apenas cinco chegaram à idade adulta; contudo, todos eles desempenharam um papel capital na história portuguesa:

  1. João de Viseu (1448 ou c. 1460-1472), terceiro Duque de Viseu, segundo Duque de Beja;
  2. Diogo de Viseu (1450 ou c.1461-1484), quarto Duque de Viseu e terceiro Duque de Beja;
  3. Duarte de Viseu (m. 1476 ou depois);
  4. Dinis de Viseu (m. antes 1470);
  5. Simão de Viseu (m. 1465 / 1470);
  6. Leonor de Viseu (1458-1525), casou com João II de Portugal e tornou-se Rainha de Portugal;
  7. Isabel de Viseu (1459-1521), casada com o duque de Bragança Fernando II;
  8. Manuel (1469-1521), duque de Viseu e de Beja, e Rei de Portugal após a morte do seu primo João II de Portugal;
  9. Catarina de Viseu (m. antes de 1470).

O Infante D. Fernando encontra-se sepultado no Mosteiro das Religiosas da Conceição, em Beja, que fora fundado por a sua mulher.

Em 1453, D. Afonso V concedeu-lhe o título de 1.º Duque de Beja e 1.º Senhor de Moura.

Finalmente foi autorizado a deslocar-se ao norte de África, participando em acções militares: primeiro, em 1458 acompanhou o seu irmão, o rei D. Afonso V, na expedição portuguesa que conquistou a cidade marroquina de Alcácer Ceguer; depois, em 1468, comandou a esquadra que conquistou e destruíu o porto de Anafé (hoje denominado de Anfa e integrado em Casablanca) que era uma base de corsários.

D. Fernando, que em 1436 fora também nomeado herdeiro do seu tio, o Infante D. Henrique, tornando-se seu filho adoptivo. E, quando em 1460, morre D. Henrique, sucedeu-lhe não só no título de Duque de Viseu como também como Mestre da Ordem de Cristo e passou a ser o responsável pelos Descobrimentos (1460-1470) para o Reino de Portugal.

Nesse último contexto, aproveitando o seu espírito aventureiro, dele próprio ter feito parte de algumas das expedições marítimas de reconhecimento não só da costa atlântica de África como da própria América. Isso último reconhecido ou constado na época, dentro de um pequeno circulo de navegadores, e cujo feito, na altura, chegou a constar de um pleito contra os direitos de Colombo a favor de seus companheiros de viagem.

Ter | 28.09.21

D.Duarte, Duque de Bragança nas comemorações do Jubileu do 850º Aniversário da Ordem de São Miguel da Ala

Blog Real

As Comemorações do Jubileu do 850º Aniversário da Ordem de São Miguel da Asa, decretadas pelo Papa Francisco para 2021 - 2022, continuaram com uma Missa de Peregrinação com Investiduras que foram realizadas no Santuário da Catedral de Santiago de Compostela e que foram presididas por D.Duarte, Duque de Bragança.

 

 

Fonte: Facebook Federation of Royal Brotherhoods of the Order of Saint Michael of the Wing
Sab | 18.09.21

Duques de Bragança em casamentos reais

Blog Real

1995: Casamento do Príncipe Pavlos da Grécia e Marie-Chantal Miller:

Greek Royal Wedding 20 Years On_ Royal Guests (1).jpg

1999: Casamento do Príncipe Philippe e Mathilde da Bélgica:

2004: Casamento do Príncipe Frederik da Dinamarca e Mary Donaldson:

2004: Casamento do Príncipe Felipe de Espanha e Letizia Ortiz:

2011: Casamento do Príncipe Albert do Mónaco com Charlene Wittstock:

2012: Casamento do Príncipe Guillaume do Luxemburgo com Stéphanie de Lannoy:

Sex | 10.09.21

Visita da família real ao Porto (1887)

Blog Real

Visita da família real ao Porto em 1887. Descrição da visita e inauguração da Escola Industrial de Faria Guimarães. A visita realizou-se no dia 1 de Outubro de 1887.

Pode ler aqui.
Fonte: O Occidente n.º 320, de 11.11.1887

Visita da família real à cidade do Porto, relato (continuação). Pode ler aqui
Fonte: O Occidente n.º 320, de 11.11.1887

Sex | 10.09.21

Família Real visita Guimarães (1887)

Blog Real

A Família Real Portuguesa visitou Guimarães no dia 20 de Outubro de 1887, com o objectivo de presidir à inauguração do monumento ao fundador da monarquia portuguesa. A família real vinha acompanhada pelo presidente do concelho de ministros, José Luciano de Castro, e pelo Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, filho da vimaranense D. Carlota Joaquina do Carmo Machado. A inauguração do monumento aconteceu às quatro horas da tarde. Uma hora mais tarde, o rei participou na cerimónia de lançamento da primeira pedra do edifício da Escola Industrial Francisco de Holanda. O regresso ao Bom Jesus, onde a Corte estava alojada, aconteceu às dez da noite.

O Conde de Margaride ofereceu um banquete à comitiva família real, no seu palacete do largo do Carmo. O repasto foi preparado pelo célebre Abade de Priscos e foi servido em baixela de prata, com talheres de ouro. O serviço era da Índia, da Casa de Margaride e muito antigo.

Naquele dia, a casa do Conde de Margaride esteve novamente transformada em paço real, que foi descrito na seguinte notícia:

 

O palacete do snr. Conde de Margaride

A mobília e as decorações do palacete do snr. conde de Margaride eram sumptuosas.

A escadaria estava coberta de arbustos e de alcatifas riquíssimas. No patamar, um grande espelho dourado com molduras dois soberbos candelabros.

toilette de vestir e o quarto para S. M. a rainha foram dispostos no andar nobre. No quarto havia um magnífico leito de pau santo coberto por um docel e encerrado em cortinas de seda. Cobria a cama uma valiosa colcha de brocatel antigo. O soalho estava coberto com um tapete, cor de pombo. Os reposteiros eram de seda azul celeste, assim como o estofo das cadeiras que guarneciam o quarto.

No vestíbulo, um rico guarda-vestidos com três espelhos; jarro, bacia, copo de água e respectivo prato, tudo de prata lavrada.

Estas peças são de grande valor pela sua antiguidade.

O quarto de el-rei estava guarnecido de mobília de pau santo e rosa e cadeiras douradas. A colcha da cama era de cetim amarelo com ramagens.

O jarro e bacia do lavatório eram de cobre esmaltado, o jarro e bacia para os pés, de prata.

A sala de visitas tinha uma magnífica mobília de estofo carmesim, e três espelhos de cristal.

A sala da recepção estava guarnecida com cadeiras à Luís XVI, reposteiros amarelos, estilo oriental.

A ante-sala, com mobília antiga e lustre de bronze de doze focos.

Nn sala do jantar, vê-se uma copa de prata antiga, dois tabuleiros e uma salva de magnífico lavor.

No andar superior estavam colocados os quartos de SS. AA. o príncipe D. Carlos o a princesa D. Amélia, assim como os do infante D. Afonso, e da real comitiva.

No quarto de SS. AA. havia duas camas do mogno, com colchas antigas de cetim, cortinas de tule, reposteiros gris; tapete antigo azul e branco. No vestíbulo, toilette, guarda-vestidos lavatório de mogno; jarro e bacia de prata, mesa do charão marchetada de madrepérola.

No quarto do infante D. Afonso, mobília de estilo antigo, cama torneada com colcha de brocatel de ouro, docel de damasco de seda escarlate, jarro e bacia de cobre esmaltado, tapete com ramagens.

Os quartos da comitiva estavam também luxuosamente adornados.

Na sexta-feira o palacete do snr. conde de Margaride foi visitado por grande número de senhoras desta cidade e de fora, e por vários cavalheiros.

O Comércio de Guimarães, 24 de Outubro de 1887 e http://araduca.blogspot.com/2013/07/efemeride-do-dia-visitas-de-d-luis-i.html

Sex | 10.09.21

Visita da Família Real Portuguesa a Leixões em 1887

Blog Real

Ultrapassou toda a expectativa a excursão que a família real realizou ontem a S. Gens e às obras do porto artificial de Leixões, por convite da respectiva empresa construtora Duparchy & Bartissol. Dos festejos que até hoje se têm realizado em honra da excelsa família, foi este seguramente o mais notável, o mais surpreendente sem dúvida, que muito deve ter penhorado as pessoas que presidem aos destinos da nação portuguesa. Foi mais uma prova evidente, integra, da muita estima e da viva simpatia que o povo consagra aos bondosos monarcas e a seus augustos filhos. Eis a descrição da excursão régia, grandiosa pelas circunstâncias de que foi revestida:

……….
A chegada a Matosinhos
Às 2 horas e 40 minutos dava o comboio entrada naquela ridente povoação da beira-mar. Outro espectáculo soberbo. A população piscatória e a outra que não se emprega nos trabalhos arriscados do mar, os banhistas e os forasteiros, apertavam-se, comprimiam-se em longas filas, por cima dos muros, nos terrenos elevados, nas janelas das casas próximas, que ostentavam colchas de damasco.
Os morteiros e os foguetes faziam um estrondo de ensurdecer, não deixando ouvir nada e pondo medo às crianças, que se achegavam dos pais, timoratas, medrosas. E no entanto, nada mais belo do que aquele entusiasmo febril pelos ilustres personagens que o Porto acolhe.
O comboio real recebeu aí o sr. conselheiro e ministro de Estado honorário Barjona de Freitas, que foi cumprimentar a família real, acompanhando-a no resto da viagem. Sendo necessário fazer uma manobra, o comboio teve ali uma pequena demora e em seguida avançou para o muro de abrigo do sul.

No molhe Sul
O comboio percorreu-o em quase toda a sua extensão, cerca de 700 metros pelo mar dentro. O grande Titã, esse engenho possante de invenção maravilhosa, engalanava-se de bandeiras; uma filarmónica tocava o hino de el-rei, queimando-se muitos foguetes. A família real, saindo da carruagem, assistiu, bem como todos os convidados, à colocação, por meio de um pequeno guindaste, de uma pedra no muro de abrigo, pedra que em letras abertas e douradas tinha a seguinte inscrição: «27 DE SEPTEMBRO DE 1887 – VISITA DE S.M. EL-REI D. LUIZ Iº». Por cima tinha as armas nacionais muito bem lavradas. A pedra foi colocada rápida e perfeitamente.
A Família real dirigiu-se para a extremidade do muro, onde o sr. Bartissol, para satisfazer o natural desejo de el-rei, o informou amiudamente dos trabalhos realizados e a realizar, dos processos usados na construção daquela monumental obra de arte, etc.
Em seguida o Titã mostrou os seus prodígios, levando uma vagonete com grandes calhaus do peso de 10 toneladas métricas, pouco mais ou menos, e arremessou-os ao fundo do mar, espadanando a água a grande altura. São estes os trabalhos do enrocamento, realmente admiráveis. Aqui foi apresentado a el-rei pelo sr. Bartissol o hábil engenheiro director técnico daquelas obras, o sr. Wiriot, com quem el-rei se demorou conversando durante algum tempo.
Retirando-se, o comboio recuou pelo mesmo caminho, assistindo a família real aos interessantes trabalhos da grua, vendo-a mover, levantar facilmente um enorme bloco de pedra e cimento e colocá-lo em cima de uma zorra.

No molhe norte
O comboio percorreu-o em quase toda a sua extensão, cerca de 700 metros pelo mar dentro. O grande Titã, esse engenho possante de invenção maravilhosa, engalanava-se de bandeiras; uma filarmónica tocava o hino de el-rei, queimando-se muitos foguetes. A família real, saindo da carruagem, assistiu, bem como todos os convidados, à colocação, por meio de um pequeno guindaste, de uma pedra no muro de abrigo, pedra que em letras abertas e douradas tinha a seguinte inscrição: «27 DE SEPTEMBRO DE 1887 – VISITA DE S.M. EL-REI D. LUIZ Iº». Por cima tinha as armas nacionais muito bem lavradas. A pedra foi colocada rápida e perfeitamente.
A Família real dirigiu-se para a extremidade do muro, onde o sr. Bartissol, para satisfazer o natural desejo de el-rei, o informou amiudamente dos trabalhos realizados e a realizar, dos processos usados na construção daquela monumental obra de arte, etc.
Em seguida o Titã mostrou os seus prodígios, levando uma vagonete com grandes calhaus do peso de 10 toneladas métricas, pouco mais ou menos, e arremessou-os ao fundo do mar, espadanando a água a grande altura. São estes os trabalhos do enrocamento, realmente admiráveis. Aqui foi apresentado a el-rei pelo sr. Bartissol o hábil engenheiro director técnico daquelas obras, o sr. Wiriot, com quem el-rei se demorou conversando durante algum tempo.
Retirando-se, o comboio recuou pelo mesmo caminho, assistindo a família real aos interessantes trabalhos da grua, vendo-a mover, levantar facilmente um enorme bloco de pedra e cimento e colocá-lo em cima de uma zorra.

No molhe norte
Os trabalhos aqui não foram menos importantes. O comboio percorreu-o também na extensão de uns 700 metros. Eram 3 horas e 25 minutos. A família real, desembarcando, assistiu também à colocação no muro de abrigo de outra pedra em tudo idêntica à que anteriormente fora colocada no molhe sul, isto é, com as mesmas armas e a mesma inscrição. Ao findar este trabalho, um dos empregados da empresa, que tinha no braço esquerdo um laço de fita azul e branca, levantou vivas a el-rei, à rainha, príncipes, incluindo o da Beira, e finalmente a toda a família real.
A banda do Regimento de Infantaria 10 executou o hino real, sendo queimados muitos foguetes. Na extremidade do muro o engenheiro sr. Afonso Joaquim Nogueira Soares esteve explicando a el-rei a forma como eram colocados os blocos, dando-lhe outras informações que S.M. ouvia com vivo interesse.
Uma zorra conduziu para junto do grande Titã deste molhe um bloco que tinha a seguinte inscrição gravada: «BLOCO COLOCADO NA PRESENÇA DE EL-REI D. LUIZ E DE SUA AUGUSTA FAMÍLIA NO DIA 27 DE SEPTEMBRO DE 1887». O prodigioso aparelho levantou-o da zorra por meio de correntes de ferro, ergueu-o ao ar e desceu-o até ao mar, colocando-o em cima dos outros. Mas não se julgue que todo este trabalho, que o braço humano decerto não poderia desempenhar, leva muito tempo. Nada disso: 10 minutos, se tanto, são suficientes para esta operação.
S.M. el-rei ficou tão satisfeito com o que viu, observou tanta ordem e método em todos os trabalhos, que, chamando o sr. Bartissol, comunicou-lhe que o agraciava com o título de visconde de Bartissol.
Por essa ocasião correu o boato de que S.M. dispensaria outras mercês honoríficas a vários cavalheiros do pessoal superior das obras do porto de Leixões. Achamos justas estas distinções ao mérito.
No Leixão grande, que ainda fica a bastante distância dos muros de abrigo, achava-se hasteada a bandeira nacional. Outros rochedos, que demoram perto, conhecidos pelos nomes de «Lajedo», «Salgueiro» e «Galinheiro», destacavam-se pela sua isolação.
Passava das 4 horas da tarde quando a família real se retirou no comboio com os convidados até ao pavilhão levantado fora do muro de abrigo, onde ia ser servido o lanche.

Manifestação marítima
Além das manifestações que em terra se deram, por ocasião da visita da família real ao porto de Leixões, uma outra se realizou, fervorosa e entusiástica. Esta manifestação foi de uma originalidade e de uma espontaneidade características.
Eram perto das 2 horas, quando o possante rebocador “Galgo”, embandeirado em arco, levantou ferro do cais da Estiva e se dirigiu, com vertiginosa velocidade, para a boca da barra.
A bordo do rebocador reuniu-se um grupo distinto da colónia inglesa, alguns alemães, russos e portugueses. Os seguintes nomes darão uma ideia das pessoas que se achavam no vapor: srs. Carlos Coverley, Roger Coverley, Hermann Burmester. A.J. Shore, George Mason, Otto Burmester, Franz Burmester, C.J. Schneider. J.D. Smith, Edouard Rumsey, Carlos Wengorovius, Alberto Kendall, J.S. Johnson, o engenheiro do Lloyd, Ennor; o vice-cônsul da Grã-Bretanha, Honorius Grant; o vice-cônsul da Rússia, Álvaro Smith de Vasconcelos; Ernesto José de Carvalho, Isaac Newton, Ellicot, John Teage, Henrique Delaforce, o engenheiro-civil W.P. Routh, Irineu Pais, Albino Pereira Soares, José Vicente Domingues, o capitão do vapor inglês “Mallard”, sr. Hayes; o capitão do “Minerva”, sr. Burrel; o capitão do “Lisbon”, sr. Mac-Nab; os capitães russos srs. J. Skuja e Noacki, José Luiz Gomes Sá e Carlos Lourenço da Cruz.
O “Galgo” atravessou rapidamente toda a distância que medeia entre o cais da Estiva e a barra. O mar mostrava-se um pouco picado, como se diz em linguagem marítima, mas o possante rebocador sulcava indiferente as ondas mais alterosas, espadanando em volta flocos de espuma que a proa e o hélice faziam surgir constantemente.
Bem depressa a povoação da Foz ficou à ré do vapor, distinguindo-se em seguida as casas de Matosinhos e Leça, assim como os dois molhes do porto de Leixões, em cujas extremidades se viam, na sua imobilidade, os grandes Titãs, semelhantes a dois enormes canhões Krupp. Momentos depois, o “Galgo” fundeava na espécie de enseada formada pelas pedras de Leixões e os dois paredões em construção, junto do molhe sul.
A família real ainda não havia chegado, mas por toda a extensão da praia via-se a multidão movendo-se e girando em todos os sentidos. O aspecto do porto, visto do ponto em que o “Galgo” se encontrava fundeado, era realmente belo e cativante.
Uma multidão de pequenas embarcações, canoas, caíques, botes, guigas, etc., singrava por aquelas águas em todas as direções, com bandeiras multicolores, tremulando agitadas ao impulso do vento. No meio destas embarcações destacava-se, pela real beleza das suas formas, pelo airoso do seu porte, a chalupa pertencente ao sr. Alão Pacheco, a bordo da qual se achava este cavalheiro com sua esposa. A chalupa embandeirava em arco. Além desta chalupa ainda cruzavam o porto dois pequenos vapores, o “Rápido” e o “Ligeiro”, tendo num deles sido visto a bordo o engenheiro sr. Guedes Infante e o lente da Escola Médico-cirúrgica sr. Cândido Augusto Correia de Pinho.
Entretanto, a bordo do “Galgo”, os srs. Roger e Carlos Coverley mandavam servir amavelmente um abundante e bem servido lanche. A brisa marítima, a pequena excursão através daquele limitadíssimo espaço do Atlântico, tornavam altamente amena aquela refeição em que todos mais ou menos fizeram honra às iguarias, ao vinho do Porto e ao Champanhe.
Pouco antes de terminar o “lunch”, o sr. Carlos Coverley brindou pelo rei de Portugal e sua real família, sendo este brinde entusiasticamente correspondido por entre vivas, hurrahs e aclamações. Neste comenos ouviu-se o silvo de uma locomotiva. Era o comboio real que se aproximava e que foi parar perto do Titã do molhe sul. Quando el-rei, a rainha e os príncipes se apearam da carruagem, e se dirigiram para mais próximo do enorme guindaste, todos os que se achavam a bordo do “Galgo”, empunhando taças cheias de Champanhe, irromperam em repetidos vivas e hurrahs, silvando nessa ocasião por três vezes a sirene do vapor. A mesma demonstração deu-se quando SS. MM. E AA., depois de verem trabalhar o gigantesco Titã, se retiraram, tomando o comboio a direcção do molhe norte.
O “Galgo” também se foi postar galhardamente em frente aquele molhe, repetindo as anteriores demonstrações, quando a família real chegou ali.
Por essa ocasião assistiu-se ao desfilar de uma esquadrilha de barcos de pesca que, içando as largas velas latinas que o vento entumecia com gracioso donaire, foi passando por diante da extremidade do molhe sul, fazendo uma longa e pitoresca curva, que maravilhosamente se ia prolongando e tinha todos os encantos de uma verdadeira e original surpresa.
Todos os olhos se haviam fixado naquele pitoresco quadro, formado por grande número de barcos, cujos nomes eram também tão pitorescos como os homens que os tripulavam. Eis alguns desses nomes recolhidos na rápida carreira com que passavam à vista, deixando-lhes a sua textual ortografia: “Aqui estou em Casa de Deus”, “Sra. Da Gonia”, Sra. da Juda”, “Sr. do Alivo”, “Paraiso Rial”, “D. Luiz”, “Erodes de S. João”, Sr. do Soreato”, ”Sra. do Bomsucesso”, etc.
E lá foram todos estes barcos para a sua faina da pesca, e decorridos alguns momentos, na amplidão do Oceano apenas eram uns pontos que se destacavam na nublada faixa do horizonte.
No porto, entretanto, a animação era cada vez maior; a família real passara ao pavilhão onde lhe fora servido o lanche; as pequenas embarcações pululavam e cortavam em todos os sentidos a ampla enseada; um outro vapor, o “Victória”, viera também juntar-se à festiva manifestação marítima; os foguetes estouravam nos ares, as músicas faziam ouvir o hino real; por toda a parte uma enorme expansão de alegria, de fervoroso entusiasmo, de festival júbilo.
Algumas das pequenas embarcações estavam cheias de senhoras, que não receavam arrostar as ondas do mar. E que variedade de formas e tamanhos tinham os barcos que animavam a ampla baía! Ali foi vista a pequena canoa tripulada por um homem só e movida por uma pequena pá; os caíques com dois remadores; um outro movido a rodas; os botes, as chalupas e as guigas, a quatro, seis e mais remos. Uma variedade difícil de descrever. E todos estes barcos se haviam reunido ao longo do molhe norte, e quando a família real deixou o pavilhão para se retirar, era maravilhoso contemplar o aspecto produzido por aquela esquadrilha de pequenas embarcações, donde irrompiam entusiásticos vivas, e donde se viam milhares de lenços brancos acenando, ao mesmo tempo que o silvo do “Galgo” parecia querer superar todos os ruídos com o seu som ronco, sonoro e penetrante.
A família real, no entanto, deixava o porto de Leixões, e a debandada era geral. Na praia via-se um movimento e um fervilhar continuo, de quem queria ainda uma vez ver os régios personagens. Estava finda a grande festa do trabalho, e os barcos que não temiam o embate do mar, preparavam-se para ir em demanda da barra.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 28 de Setembro de 1887)

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