Aclamação de D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve
Em 6 de fevereiro de 1818, D. João VI foi aclamado rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Embora governasse como rei desde 20 de março de 1816 quando faleceu sua mãe, a rainha D. Maria I, a Louca, a aclamação só aconteceu quase dois anos depois. João VI era o segundo filho de D. Maria I e, portanto, não esperava a vir a ser rei.
Porém, diante da morte prematura de seu irmão D. José de varíola, ele se tornou o sucessor imediato. D. João assumiu os negócios do reino em 1792, aos 25 anos de idade, devido ao afastamento da mãe por doença mental, ainda que a regência viesse a ser oficializada somente em 1799.
Por que a demora para a aclamação?:
Sucessor legítimo da Coroa portuguesa, já exercendo o poder de fato, D. João VI governou quase dois anos sem ser confirmado por consagração eclesiástica ou juramento dos estados – uma deliberada alteração de um protocolo tão antigo quanto fundamental para a representação do poder monárquico português.
Havia muita pressão para a volta da corte a Portugal. A elevação do Brasil a Reino Unido, em 1815, já havia sido considerada um ultraje para os súditos portugueses.
A possibilidade do rei ser aclamado fora de Lisboa seria inaceitável, um desprezo às raízes e tradições portuguesas. Pode-se pensar que, possivelmente, D. João VI, estava dividido entre duas partes concorrentes – Portugal e Brasil. Adiar a aclamação seria uma forma de acalmar os ânimos do outro lado do Atlântico (HERMANN, 2007, p.124).
A eclosão da Revolução Pernambucana, em 1817, teria sido mais uma causa para o adiamento da aclamação.
Mal debelada a revolução, seguiram-se os festejos para celebrar a chegada da princesa Leopoldina, arquiduquesa da Áustria e o casamento de D. Pedro, que também serviram de pretexto para adiar a aclamação.
Os portugueses queriam que D. João VI voltasse para a Europa para ser aclamado em Lisboa, mas, contrariando a vontade de seus conterrâneos, ele decidiu que seria aclamado rei no Rio de Janeiro, em 1818.
A cerimônia de aclamação:
D. João VI decidiu fazer uma grande festa e não poupou recursos. O local escolhido para o evento foi o Terreiro do Paço (ou Largo do Paço), no centro do Rio de Janeiro.
A preparação da cenografia da festa ficou a cargo do arquiteto Grandjean de Montigny, do pintor Jean-Baptiste Debret e do escultor Auguste-Marie Taunay.
Uma varanda foi construída em frente ao paço para garantir a visão da cerimônia pelas pessoas que estavam de fora.
Na entrada da varanda se encontravam os menestréis (músicos), que tocavam instrumentos como charamelas (instrumentos de sopro), trombetas e atabales.
Montigny ergueu um templo de Minerva, com suas estátuas: uma da deusa e outra do monarca.
Um arco do triunfo foi desenhado por Debret e projetado por Taunay. Cada lado do arco continha colunas da ordem coríntia com estátuas de Minerva e Ceres, representando a sabedoria e a prudência do rei, além da fartura da terra.
Um obelisco, de mais de 20 metros de altura e que “fingia ser granito”, foi erguido em meio à praça pública.
A cerimónia iniciou-se, pela manhã do dia 6 de fevereiro com a descida do rei para a varanda do palácio em direção ao átrio da Capela Real onde foi realizada uma missa.
Diante dele, seguiam o infante D. Miguel e o príncipe D. Pedro, e os grandes do reino, bispos e oficiais, todos com suas insígnias, ministros e o secretário de Estado do Reino.
Dentro do Paço, o rei dirigiu-se ao trono sob um rico dossel, onde recebeu o cetro de ouro em uma rica bandeja dourada, dando início à etapa mais importante: o juramento com a mão direita sobre o Evangelho.
Os príncipes D. Pedro e D. Miguel, acompanhados dos grandes do reino, juraram fidelidade ao rei. Seguiu-se o beija-mão. Ao final, D. João VI dirigiu-se em cortejo de volta à Capela Real para ouvir o Te Deum.
Sinos tocaram e fogos de artifício soavam do lado de fora do palácio. Negociantes iluminavam seus comércios com milhares de lampiões. A população dos trópicos nunca tinha presenciado nada tão suntuoso.
Depois, D. João VI surgiu na varanda com traje bordado a ouro, manto real de veludo carmesim e chapéu de plumas. Foi saudado pelo povo que se aglomerava na praça com numerosos vivas.
Segundo e terceiro dia de festejos:
No dia seguinte, o rei e a corte assistiram do palacete construído no campo de Santana, evoluções militares, corridas de touro, danças, bailado alegórico, recitação de poesias.
Pela cidade, luminárias ornamentavam os edifícios oficiais e as casas populares. O Campo de Sant’ana foi ornado por 102 pirâmides luminosas, “com brilho e gosto suficientes para ‘fazer pensar nas Tulherias e nos Campos Elíseos quando iluminados’”.
Houve disputa entre as corporações, repartições e residências particulares na elaboração das iluminações. Uma residência particular teria se ornado com 6 mil lampiões.
No terceiro dia, houve grande queima de fogos de artifício que culminou com a escrita, no ar, da expressão Viva El Rey, tendo o rei recebido toda a população para um solene beija-mão.
Para demonstrar magnanimidade, D. João VI concedeu perdão para vários acusados da Insurreição Pernambucana de 1817 (não para seus líderes), aposentadoria para antigos servidores públicos, e o tratamento de senhoria aos membros do Senado da Câmara do Rio de Janeiro.
Fonte: https://ensinarhistoria.com.br/linha-do-tempo/coroacao-de-d-joao-vi/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues