Rainhas de Portugal - Mariana Vitória de Bourbon
Mariana Vitória de Bourbon (Madrid, 31 de março de 1718 – Lisboa, 15 de janeiro de 1781) foi a esposa do rei D. José I e Rainha Consorte de Portugal e Algarves de 1750 até 1777. Era filha de Filipe V da Espanha e de sua segunda esposa Isabel Farnésio.
Primeros anos:
Mariana Vitória nasceu no Real Alcázar de Madrid e foi lhe dado seu nome em homenagem a sua avó paterna, Maria Ana Vitória de Baviera. Era Infante da Espanha por nascimento e filha mais velha de Filipe V da Espanha e de sua segunda esposa Isabel Farnésio. Na altura de seu nascimento, Mariana Vitória era a quinta na linha de sucessão ao trono espanhol atrás de seus meio-irmãos, o infante Luís, Príncipe das Astúrias, o infante Fernando, o infante Pedro, assim como seu irmão Carlos. Mariana foi a irmã favorita de Carlos, sendo chamada por este afetuosamente de "Marianina". Como uma infanta de Espanha, detinha o estilo de Alteza Real.
Noivado com Luís XV:
Após a Guerra da Quádrupla Aliança, França e Espanha decidiram reconciliar-se mediante a um casamento entre a infanta Mariana Vitória com seu primo, o jovem rei Luís XV da França. Organizado por Filipe II, Duque d'Orleães, regente da França durante a a menoridade de Luís, o casamento fazia parte de uma série de alianças que também incluía o casamento de Luísa Isabel e Filipina Isabel de Orleães, ambas filhas do regente, com o infante Luís, Príncipe das Astúrias e o infante Carlos, respectivamente.
O embaixador francês, Louis de Rouvroy, Duque de Saint-Simon, pediu a sua mão em nome de Luís em 25 de novembro de 1721. A troca da jovem infanta teve seu lugar na Ilha dos Faisões, local onde os seus antepassados Luís XIV da França e Maria Teresa da Espanha tinham-se encontrado pela primeira vez antes do casamento. Mariana Vitória chegou a Paris no dia 2 de março de 1721, houve celebração e a mesma se instalou-se no Palácio do Louvre. Na França ela era chamada de "a Infanta Rainha".
De acordo com a mãe do regente, Isabel Carlota do Palatinado, Mariana Vitória era a "coisa mais doce e mais bonita" e tinha grande inteligência para sua idade. Sua educação foi confiada aos cuidados de Madame de Ventadour, antiga governanta de Luís XV.
Sob a influência do primeiro-ministro Luís Henrique, Duque de Bourbon e sua amante Madame de Prie, foi decidido enviar a menina de sete anos novamente para a Espanha em 11 de março de 1725. O duque de Bourbon queria manter sua influência sobre o jovem Luís XV e ofereceu sua irmã Henriqueta Luisa de Bourbon como uma esposa em potencial, que ao contrário de Mariana Vitória, tinha idade suficiente para conceber um herdeiro ao trono.
A notícia foi muito mal recebida na Espanha, que decidiu enviar também de volta a França Luísa Isabel de Orleães, cujo marido tinha falecido após reinar como Luís I de Espanha durante apenas sete meses. Como seu casamento não havia sido consumado Luísa Isabel foi enviada de volta para a França, juntamente com sua irmã Filipina Isabel. Mariana abandonou Versalhes em 5 de abril de 1725 e viajou novamente para a fronteira e seguiu seu retorno para a Espanha.
Posteriormente Luís XV casou-se com Maria Leszczyńska, filha de Estanislau I Leszczyński, rei deposto da Polónia. A irmã de Mariana Vitória, a infanta Maria Teresa Rafaela, casou-se com o filho de Luís XV em 1745 para tranquilizar a insultada corte espanhola.
Casamento:
Em 1725, manifestou seu pai, Filipe V, o desejo de estabelecer uma aliança entre as coroas de Espanha e Portugal, a que estaria ligado o casamento de sua filha com D. José, herdeiro do trono português. Para tratar do assunto em Madrid, o rei D. João V nomeou José da Cunha Brochado, que também foi incumbido resolver questões pendentes entre os dois países.
Para evitar novas controvérsias e fortalecer ainda mais a aliança que se pretendia, a diplomacia espanhola propôs então um duplo matrimónio: para além do casamento entre o príncipe herdeiro espanhol e Maria Bárbara, o príncipe herdeiro português poderia casar com a regressada Mariana Vitória. João V aceitou a proposta, e dois anos mais tarde, tendo os príncipes e infantas chegado a idade um pouco mais crescida, firmaram-se então os acordos pré-nupciais: o Príncipe do Brasil e Mariana Vitória a 27 de dezembro de 1727, e o Príncipe das Astúrias e Maria Bárbara de Portugal a 11 de janeiro de 1728.
Por fim, após demorada preparação, a Troca das Princesas realizou-se a 19 de Janeiro de 1729. A troca foi feita no Rio Caia, que faz fronteira entre Elvas no Alentejo, em Portugal, e Badajoz na Extremadura, em Espanha. A cerimónia fez-se literalmente a meio do rio, numa grande ponte-palácio de madeira ricamente decorada construida para a ocasião, com vários pavilhões em ambas as margens também. Praticamente toda a Corte participou, tendo todas as vilas e lugares entre Lisboa e Elvas sido enfeitadas com arte efémera, tal como arcos triunfais, jardins artificiais, fontes, etc., para receber os imensos cortejos na ida e na volta da fronteira. As preparações para a troca das princesas foram de tal modo detalhadas que já em Janeiro de 1727 a Coroa colocava encomendas de berlindas em Paris, e pedia contribuições extraordinárias dos quatro cantos do império para financiar todo o esplendor desejado ― incluindo da Capitania de Minas Gerais no Brasil.
De notar que todo este panorama de arte efémera se voltou a registar meio século mais tarde, aquando do novo consórcio duplo entre Portugal e a Espanha em 1785, com os casamentos do então apenas João e da irmã, Maria Ana Vitória, e foi descrito recentemente em pormenor.
Rainha de Portugal:
Em 1750, falecia D. João V, e o marido de D. Mariana Vitória subia ao trono. A rainha tinha então trinta e dois anos e D. José I, trinta e seis anos.
O reinado do marido de Mariana Vitória é sobretudo marcado pelas políticas do seu secretário de Estado, o Marquês de Pombal, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesa, transformando Portugal num país moderno.
Em 1755, um terremoto abateu-se sobre Portugal na manhã do dia 1 de novembro (dia de Todos os Santos) de 1755. Nesta data, Lisboa foi abalada por um violento tremor de terra, com uma amplitude que em tempos actuais é estimada em cerca de nove pontos na escala de Richter. A cidade foi devastada pelo tremor de terra, pelo maremoto e ainda pelos incêndios que se seguiram. Isto piorou ainda a mais a saúde mental do marido de Mariana Vitória.
Na sequência do terramoto, em setembro de 1758, a carruagem do rei foi alvejada quando esse voltava da casa de sua amante, a esposa do Marquês de Távora. O monarca foi ferido e a rainha assumiu como regente. As investigações, durante o mês de dezembro, acusaram membros da alta nobreza, os quais foram imediatamente presos; entre eles integrantes da família dos Távoras (o número total de prisioneiros chegou a mais de mil, a maioria dos quais jamais foi julgada formalmente). Em 12 de janeiro de 1759, o José de Mascarenhas da Silva e Lencastre, então Duque de Aveiro, e diversos membros da família dos Távoras foram condenados à morte.
Regência:
Quando seu marido foi declarado inapto para governar em 1774, devido a loucura, D. Mariana Vitória foi proclamada regente, uma posição que manteve até à morte de seu marido. Após isso, ela tornou-se regente de sua filha mais velha, futura D. Maria I.
Quando a filha assume o poder, D. Mariana Vitória tentou melhorar as relações com a Espanha que era governada por seu irmão mais velho, Carlos III. Os dois países estavam em conflito em relação a posses territoriais nas Américas. Deixando Portugal, D. Mariana Vitória viajou para a Espanha, onde permaneceu por pouco mais de um ano, residindo entre o Palácio Real de Madrid e o Palácio Real de Aranjuez.
Por influência da rainha, assinou-se em 1778 o tratado que estipulou dois casamentos: o do infante Gabriel, filho de Carlos III, com a sua neta D. Maria Ana Vitória, e o da infanta Carlota Joaquina, neta mais velha de Carlos III, com o infante D. João, futuro D. João VI.
Morte:
Enquanto se encontrava em Espanha, D. Mariana Vitória teve um ataque de reumatismo e foi confinada a uma cadeira de rodas por algum tempo. Regressou a Portugal em novembro de 1778. Mariana Vitória morreu na Real Barraca da Ajuda, um edifício onde hoje é o actual Palácio Nacional da Ajuda.
Foi primeiramente sepultada na Igreja de São Francisco de Paula em Lisboa, a qual mandou restaurar. Foi depois trasladada para o Panteão Real da Dinastia de Bragança da Igreja de São Vicente de Fora também em Lisboa.
Legado:
D. Mariana Vitória era a madrinha de Maria Antonieta, futura rainha da França, que nasceu um dia após o Terremoto de Lisboa que devastou a cidade. Mariana Vitória tem descendentes que vão desde o presente Rei de Espanha, Rei da Bélgica, ao Grão-Duque de Luxemburgo. Em 1822, seu bisneto D. Pedro de Bragança tornou-se o primeiro Imperador do Brasil.
Descendência:
- Maria I de Portugal (17 de dezembro de 1734 – 20 de março de 1816)
- Maria Ana, Infanta de Portugal (7 de outubro de 1736 – 16 de maio de 1813)
- Maria Doroteia, Infanta de Portugal (21 de setembro de 1739 – 14 de janeiro de 1771)
- Benedita, Princesa do Brasil (25 de julho de 1746 – 18 de agosto de 1829)